Opel – As origens do Opala

( Matéria de autoria de Rogério Ferraresi publicada na revista Opala & Cia nº 1 )

Criado por alemães e americanos, o Opel Rekord C originou um dos automóveis brasileiros de maior sucesso: o Opala

As Origens da Opel

A Opel foi fundada em 1862 para fabricar máquinas de costura, mas logo expandiu sua linha de produtos, passando também a produzir bicicletas. O primeiro automóvel da marca surgiu em 1898, com a compra de licença da patente de Friedrich Lutzmann, fabricante de carruagens de Dassau, Saxônia. O projeto deste veículo, em vários aspectos, era muito semelhante ao do triciclo Victoria, projetado por Karl Benz em Manheim.

Os resultados comerciais, entretanto, decepcionaram os irmãos Opel, que abandonaram a fabricação do triciclo para se dedicarem à representação da marca francesa Peugeot na Alemanha. Pouco depois, entretanto, a Opel adquiriu a licença da também francesa Darracq que, em 1902, daria origem ao modelo 10/12 PS. Este veículo, bicilíndrico, logo foi seguido dos 20/24 PS e 35/40 PS, maiores e equipados com motores de quatro cilindros.

Ao longo dos anos a Opel ficou famosa pela produção de automóveis resistentes e econômicos, tais como o Doktorwagen (“Carro do médico”), o Puppchen (“Bonequinha”) e o Laubfrosch (“Rã”), este último uma cópia do famoso Citroën 5 CV. Posterirmente, em 1926, a empresa lançou o modelo 100, de luxo, equipado com motor de seis cilindros e que, pouco tempo depois, ganharia a companhia do Regent, uma cópia dos Packards da época.

Lançado em 1929, o Regent tinha motor de oito cilindros em linha de seis litros, mas mostrou-se inadequado aos tempos difíceis pelo qual o mundo e especialmente a Alemanha passavam. Nesta época, boa parte das empresas germânicas estava à beira da falência e, para evitar que isso acontecesse com a Opel, Wilhelm e Fritz fizeram um acordo com a GM. Assim, daquele ano em diante, a fábrica se tornou uma sociedade anônima, cabendo aos americanos a maioria acionária, mas ficando a família Opel no comando das atividades da empresa.

Já sob o controle acionário da GM surgiram os modelos Kadett, Kapitän e Olympia, cujos nomes eram uma tentativa de agradar aos líderes nazistas, seja homenageando o exército ou o sucesso olímpico que, naquela época, era muito desejado pelo III Reich. Após a rendição da Alemanha, a fábrica voltou a fabricar veículos em 1946 e, sete anos depois, lançou a nova linha do Olympia Rekord, influenciada pelo estilo americano.

GM no comando

Apesar de ter adquirido a Opel em 1929, os executivos da General Motors só assumiram o controle total da empresa 17 anos depois, após o fim da II Guerra Mundial. Durante esse período, a família Opel continuou mantendo o comando administrativo do empreendimento, enquanto a GM cuidava da área financeira. Impressionada com o que viu após a rendição alemã, a comitiva americana logo descobriu que os russos desmontaram completamente as instalações, tanto de Brandenburg, nas redondezas de Berlim, como da matriz em Rüsselsheim, levando tudo que puderam, das prensas da primeira geração do modelo Kadett, até os interruptores de luz das fábricas.

Mesmo assim, neste mesmo ano de 1946, a produção do modelo Olympia foi retomada e, dois anos mais tarde, a do Kapitän. De um total de 3.300 unidades fabricadas no primeiro ano após a guerra, a Opel rapidamente alcançou a produção de 40 mil veículos/ano, o que possibilitou o desenvolvimento e lançamento, em março de 1953, do seu primeiro modelo totalmente novo no pós-guerra: o Olympia Rekord, carro apresentado simultaneamente em Rüsselsheim e Milford (EUA).

Dificuldades no registro

A nova denominação tinha a finalidade básica de apagar as lembranças dos tempos de guerra, mas os americanos não conseguiram se desvencilhar por completo da denominação Olympia, que fazia alusão ao período nazista (Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim), mas foram obrigados a mantê-la porque, apenas com a marca Rekord, não foi possível obter a devida autorização do Departamento Alemão de Marcas e Patentes.

Com tração traseira e carroceria monobloco de linhas modernas, o novo Opel tinha influência direta de estilo dos carros americanos do início da década de 1950, porém em escala menor. No entanto, o motor de quatro cilindros em linha, de 1.500m³ e 40 cv, era o mesmo produzido desde 1938. Isso, entretanto, não impediu que no Salão do Automóvel de Frankfurt de 1953, a Opel obtivesse 1.492 encomendas do carro que, no fim daquele ano, já acumulava o total de 76 mil unidades produzidas.

No mesmo ano foi lançado o Cabriolet-Limousine, um cupê com parte central do teto coberta por lona removível; o furgão Lieferwagen (“carro de entregas”, em alemão), além da station Caravan. Esta denominação era um neologismo que, na língua inglesa, procurava destacar o duplo caráter do veículo: de automóvel (car) e de furgão (van).

Em 1955, a Opel finalmente obteve a autorização para utilizar apenas o nome Rekord. mas, em vez de abandonar o termo Olympia, passou a empregá-lo somente na versão básica do Olympia Rekord, fato que coincidiu com o surgimento da segunda série do modelo, que já apresentava algumas alterações de estilo em relação à primeira geração.

A queda pela procura do Cabriolet levou a empresa a retirá-lo de linha em 1956. Enquanto isso, no ano seguinte, o Rekord e Olympia Rekord tiveram seu desenho modernizado. De 1958 para 1959, época da série P, o modelo passou a contar com a opção de câmbio automático Olymat, enquanto sua produção total superava a marca de 360 mil unidades – contra as 178 mil de seu mais direto concorrente, o Ford Taunus 17M. Já a versão de quatro portas também foi lançada em 1959, mesmo ano em que o Olympia deixou de ser fabricado.

Como o mercado já estava cansado das linhas originais surgidas com o Olympia Rekord, a Opel lançou uma carroceria inteiramente nova em março de 1963 e denominou o modelo como Rekord A. Dois anos mais tarde, em 1965, pequenas alterações de estilo mudaram a denominação para Rekord B e, um ano mais tarde, novas modificações geraram o Rekord C. Este último, dois anos depois, originaria o nosso Chevrolet Opala.

Alemão de origem Americana

Inspirado na escola de estilo ditada pela GM americana na década de 1960, o novo Opel Rekord foi apresentado à imprensa européia em agosto de 1966. Assim como o Chevrolet Camaro, lançado em setembro daquele ano, o Rekord C tinha laterais com design em forma de cintura afilada, recurso que, nos EUA, ganhou a denominação “Coke bottle” – por guardar certa semelhança com a garrafa do famoso refrigerante.

Com faróis retangulares, pequenas lanternas traseiras e estofamento inspirado no da linha Impala americana, o Rekord C era oferecido ao público nas versões cupê de duas portas, sem coluna, sedã de duas ou quatro portas, além da station de três ou cinco portas – incluindo o furgão Lieferwagen. Houve ainda, por iniciativa de encarroçadores particulares, a montagem de alguns protótipos conversíveis (sendo que essa versão jamais foi produzida pela fábrica).

Uma das grandes melhorias na mecânica foi a adoção de molas helicoidais no eixo traseiro substituindo os antiquados feixes de mola. Os motores disponíveis, de quatro cilindros em linha, eram o 1500, 1700, 1700 S e 1900 S com, respectivamente, 58, 60, 75 e 90 cv. Em março de 1967, a Opel passou a oferecer para os modelos mais luxuosos o motor de seis cilindros em linha com 2.200 cm³ e potência de 95 cv. As caixas de câmbio, de três ou quatro marchas, eram manuais. Opcionalmente e somente para as versões com motores 1900 e 2200, havia a versão automática.

Sucesso mundial

Ainda em 1967, foi lançada a versão esportiva Sprint, que se destacava pelas faixas decorativas, rodas esportivas e outros detalhes. O Sprint tinha motor 1900 de 106 cv – aumento de potência obtido com a utilização de dois carburadores de corpo duplo. Na mesma época surgiu o Commodore A, um Rekord C mais luxuoso, com grade do radiador mais imponente, teto de vinil e acabamento requintado. Por ser o modelo de prestígio da linha, o Commodore só era vendido com motores de seis cilindros, incluindo o novo propulsor 2500 de 115 cv (potência que, ao longo dos anos, evoluiria para 130 e 150 cv).

Em 1968, os motores 1500 e 1700 passaram a desenvolver, respectivamente, 60 e 66 cv. Tempos depois, em 1970, a Opel passou a oferecer um novo motor de seis cilindros, com 2.800 cm³ e 145 cv. Nesta mesma época, o Rekord C já fazia sucesso não só na Europa, mas também na África do Sul, América do Norte e América do Sul, sendo comercializado com a denominação Ranger na África, Opel Rekord no Uruguai, Opel Olímpico no México e Chevrolet Opala no Brasil.

Mas a Opel já estava trabalhando no substituto do Rekord C, que deixou de ser produzido na Alemanha em dezembro de 1971, acumulando um total de 1.274.362 unidades e mais 156.497 do Commodore A. Em 1972, foi lançado o Rekord D, com linhas retas e que, na versão 2100 D, fez da marca uma das pioneiras na produção de automóveis com motores a diesel. Cinco anos depois, o Rekord D deu lugar ao novo Rekord, ocasião em que a Opel abandonou a utilização de letras para especificar a série. O novo Rekord foi fabricado até 1986, quando foi sucedido pela primeira geração do Omega.