Perda de tempo (ou Panapaná)

[Não lembrava mais de ter escrito isso… Faz parte daquelas coisas que eu escrevinhava daqui e dali antes mesmo de começar a blogar “oficialmente”. Este foi um texto que enviei para alguns amigos, lá em meados de 2003, e foi encontrado nas sombrias catacumbas de meu computador durante uma faxina de e-mails decorrente desse modorrento ócio imputado pela pandemia.]

Buenas!

Hoje pela manhã, correndo até à padaria para compra de meus pãezinhos matinais, apressado para não perder tempo, quase fui atropelado por uma bicicleta.

Naquele milésimo de segundo de indecisão entre sair para um lado e a bicicleta para o outro, tudo que a ciclista pôde fazer foi sorrir.

E aí eu soube o que fazer.

Saí calmamente de lado e lhe sorri de volta.

Perdi segundos de minha vida sorrindo para uma completa estranha – e isso me fez bem!

Aí decidi perder meu tempo.

Perdi meu tempo no meio do caminho, olhando para uma árvore e ela sorriu pra mim, me revelando uma ninhada(1) – será mesmo esse o nome? – de borboletas que se abrigava sob suas folhas.

Perdi meu tempo espreguiçando e olhando para o céu, o qual sorriu pra mim através de sua limpidez azul.

Perdi meu tempo sorrindo para a balconista, que, sorrindo, escolheu os melhores e mais quentinhos pães.

Perdi meu tempo afagando a cabeça de um cachorro na rua, que, grato, me acompanhou por dois quarteirões, abanando seu rabinho – sorrindo.

Perdi meu tempo fazendo cócegas na barriga de meu filho caçula, que também sorriu – ou melhor, gargalhou – pra mim.

Perdi meu tempo ajudando meu filho mais velho a resolver o quebra-cabeça de uma revista, e, com o resultado, ganhei um iluminado sorriso.

Perdi meu tempo, quando saía para o trabalho, num longo beijo em minha esposa, recebendo de volta um sorriso apaixonado.

Perdi meu tempo, enquanto dirigia, pensando em coisas boas e soluções práticas para os problemas no trabalho, e sorri para mim mesmo.

E querem saber?

Não perdi nem um minuto de minha vida, chegando no mesmo horário de sempre, encontrando os mesmos problemas de sempre, e as mesmas pessoas de sempre. Mas, como o sorriso é um vírus contagioso, tudo está um pouco melhor hoje.

Portanto, ladies and gentleman, melhorem sua qualidade de vida:

Percam tempo.

Sorriam.

E comam morangos(2) !

Notas:

(1) Comentário do brother-san Adilson:

Verbete: borboleta (ê) [De *belbellita, calcado em belo.] S. f.
1. Designação comum aos insetos lepidópteros diurnos, cujas antenas são clavadas. [As larvas das borboletas não tecem casulos, passando o período ninfal sob forma de crisálidas. Sin.: panapaná, panapanã. Cf. mariposa (1).]

Verbete: panapaná [Do tupi panapa’ná.] S. m. Bras.
1. Migração de borboletas em certas épocas, que chega a formar verdadeiras nuvens.
2. Bando de borboletas.
3. V. borboleta (1).

Ou seja, panapaná, que é sinônimo de borboleta, também é a palavra para o coletivo…

(2) Não tenho nem ideia do porquê dos morangos!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *