Volta ao Mundo em 80 Horas – VII

VII – Até quando tudo dá certo, ainda dá errado. Ou não.

(Para os desavisados de plantão: esta é a continuação da narrativa de uma de minhas desventuras que comecei a contar no final de 2016 – putz, já se vão quase quatro anos! – e que até agora ainda não tinha concluído. Nada demais, apenas um pré-infarto pelo qual passei. Se quiserem saber como tudo isso começou ou rememorar o causo desde o princípio, desçam direto lá para o final deste texto e cliquem no link “Início da Saga”.)

Quinta-feira. Dia três. Noite. Cerca de 60 horas de internação, sendo espetado, desespetado, medido, apalpado, remediado e outros tantos quetais. Porém já estava muito bem descansado e – até que enfim! – munido de óculos e muitos livros os quais poderia ficar lendo até bem tarde da noite de quinta para sexta (lembrem-se que eu havia dado entrada na Santa Casa por volta de dez da manhã de terça-feira).

Já era de madrugada e distraído como estava acabei levando um susto dos infernos quando ouvi batidas na janela, ao lado da minha cama. Alguém estava lá fora, no estacionamento.

– Mas que catzo…

Abri a janela, com cautela e armado de um livro volumoso o suficiente para causar o estrago na testa do primeiro desavisado.

Era o Torquemada. E a Marcela. E a Joseane.

Como obviamente já não era mais horário de visitação e já cientes que dentro em breve eu teria alta eles foram lá para me tripudiar consolar e não me deixar sozinho, ao menos por alguns momentos durante aquela longa noite. Tudo bem que eles já tinham acabado de chegar do Armazém, nosso boteco’s-bar predileto próximo do trabalho, onde deviam ter passado as últimas horas por lá. E pelo estrago estado geral da galera, eu tive absoluta certeza de que não estavam tomando suco de laranja…

Conversamos um tanto, rimos outro tanto (“Porra, não trouxeram nada pra mim? Sacanagem, hein?”), levei uma comida de rabo por essa frase e quando por fim perceberam que aquela janela não era um balcão de bar – e, em especial, que não tinha nenhuma bebida por lá – antes que fossem descobertos pela altura das risadas, resolveram ir embora. Despedimo-nos e, confesso, independentemente do estado geral que fisicamente meu coração poderia estar, espiritualmente ele estava bem mais leve e quentinho. Como é bom ter amigos! Mesmo um sádico como o Torquemada…

Depois dessa resolvi simplesmente deitar e dormir enquanto ainda estava com aquela sensação gostosa de aconchego.

No dia seguinte acordei tarde pra caramba (umas seis e meia), pois pelo visto meu relógio biológico havia resolvido tirar férias. Como eu já sabia que o café da manhã ainda iria demorar um pouco resolvi tomar um outro bom banho – ao menos para lembrar que ainda existia água quente no mundo. Carregando aquela parafernália de soros e acessos e camisola aberta no rego, com um pouco de trabalho – e quase pranchando no chão por umas duas vezes – finalmente consegui terminar a ducha. Bem na hora, pois o café havia acabado de chegar.

Apesar de nos últimos anos ter ostentado uma vetusta barba na maior parte do tempo, naquela época eu preferia ficar bem escanhoado. Mas como é cheia e cresce rápido, ao final de uns dias sem ver um barbeador eu já estava parecendo um indigente. Paciência. Só faltava mais um dia, segundo o “protocolo”, e no sábado eu iria para casa.

Passei o dia meio que bestando, cochilando um tanto e lendo outro tanto e no finalzinho da tarde me veio a médica para a visita de praxe.

– Parabéns, o senhor já vai ter alta.

– Sei, sei. Amanhã, né?

– Não, hoje mesmo. Só falta meu colega assinar comigo e o senhor já pode ir embora. Tem quem venha lhe buscar?

– Mas, mas… E o tal do protocolo? De que eu teria que ficar sei lá quanto tempo em observação?

– Ah, isso é mais uma orientação do que uma regra. Como o senhor está reagindo muito bem não há necessidade de mantê-lo por aqui.

“Mais uma orientação do que uma regra”? Caray! Não pude deixar de me lembrar do filme Piratas do Caribe onde, de acordo com o momento e a conveniência, a “parola” poderia ser considerada uma regra ou não. Sexta-feira, final de expediente, após cravadas oitenta horas longe da sociedade e eu sem uma muda de roupa sequer para ir embora. Liguei para a Dona Patroa – coitada… – e, não demorou muito, ela chegou com o que eu precisava. Separei todo o resto para já levar para o carro enquanto aguardaríamos a segunda assinatura e – enfim! – a alta.

E aguardamos.

E aguardamos.

Aguardamos.

Aguardamos mais um pouco.

E nada.

E já estava ficando muito tarde e ela precisava voltar para dar conta das crianças em casa.

E lá foi ela e lá fiquei eu.

De novo.

E ASSIM QUE ELA SAIU ME TROUXERAM O TAL DO PAPEL DA ALTA!!!

Que estava desde não sei que horas parado na mesa de não sei quem para levar não sei onde e depois entregar para mim.

E já não adiantava mais ligar para ela, pois era tarde e devia estar a meio caminho de casa.

Paciência.

No dia seguinte, cedinho, combinaríamos de ela vir me buscar.

Mas é lógico que não foi isso que aconteceu.

(Início da Saga)                        (Continua…)

Sonhei com você!

Logo pelo raiar do dia acordei com o insistente chamado do maldito despertador.

Ainda assim não quis levantar, pois queria sorver um pouco mais da lembrança daquele sonho gostoso e suave, de como há muito não tinha, onde situações malucas, desconcertantes e nonsense se misturam e flertam com outras triviais e corriqueiras de nosso dia a dia…

Realmente foi um sonho bom…

Invariavelmente não costumo lembrar de meus sonhos, pois durmo apenas poucas horas por noite – costume há muito arraigado – e ainda que não adormeça rápido, durmo profundamente.

Só que desta vez foi diferente, lembrei de cada detalhe, de cada cheiro, de cada gesto, de cada toque, de cada tudo – e sabe por quê?

Sonhei com você!

Assim, do nada, ainda que há muito você sequer passasse próxima de meus pensamentos, tive esse sonho meio doido, onde eu estava num trabalho técnico, burocrático e enfadonho para uma cliente, mas estava feliz, pois você estava ali, presente, sentada do meu lado, conversando, proseando e rindo com esse seu sorriso com cheiro de luz do Sol a iluminar todo o ambiente.

Que bom poder matar essa saudade que eu nem sabia que ainda tinha, mesmo que dessa maneira surreal, lá no mundo onírico, onde tudo se mescla, onde passado, presente e futuro são uma só coisa, pois este meu coração – que ultimamente anda um tanto quanto árido – palpitou forte uma vez mais, com lembranças emocionais que estavam soterradas em algum canto perdido lá nas mais profundas catacumbas de meu ser.

Um tanto quanto exagerado, eu sei – mas fazer o que se sempre fui assim?…

Eu fiquei muito feliz em poder te encontrar novamente, pessoalmente, olhando bem fundo nesses seus olhos brilhantes, apesar de toda essa distância que nos separa, ainda mais porque estávamos daquele nosso jeito de sempre, meio que descontraídos, meio que se divertindo, meio que discutindo mas sempre se amando.

Sei que, para você, não é preciso explicar, mas para qualquer outra pessoa que venha a ler estas linhas é importante entender que quando eu digo clara e francamente que “eu te amo”, isso na realidade é muito mais profundo que um mero amor fraternal e absolutamente não quer dizer que seria daquele tipo de amor para vivermos como um casal.

Amar, nesse caso, é um querer bem de uma forma inenarrável, indescritível, é gostar de estar perto, de poder ajudar, é querer que a pessoa esteja bem, que esteja feliz, independentemente de com quem quer que seja ou onde quer que esteja, sabendo do fundo do coração que o sentimento que se tem por essa pessoa é tanto recíproco quanto de uma sinceridade à toda prova.

Um dia ainda haveremos de nos encontrar novamente – e dessa vez no mundo real – para conversarmos, rirmos, matarmos nossas saudades e lembrarmos com carinho de todas as bobagens que já fizemos enquanto vivíamos próximos um do outro.

Disso eu tenho certeza.

Até porque, como diria Richard Bach, “Se a nossa amizade depende de coisas como o espaço e o tempo, então quando finalmente ultrapassarmos o espaço e o tempo, teremos destruído a nossa fraternidade. Mas, ultrapassado o espaço, tudo o que nos resta é AQUI. Ultrapassado o tempo, tudo o que nos resta é AGORA. E entre AQUI e AGORA você não crê que poderemos ver-nos uma ou duas vezes?”

Devo agora me despedir, guardando com carinho essa sensação de proximidade e familiaridade que esse sonho me trouxe, ou melhor, que me resgatou lá de um passado que já estava começando a ficar pálido em minha memória, mas que, ao menos por enquanto, voltou a pulsar forte no meu peito.

E, por derradeiro, não posso me esquecer de quebrar o maldito despertador para que nunca mais volte a interromper um sonho como este que tive hoje!

😘

NÃO LEIA ESTE TEXTO

se você não tiver uma mente aberta e capacidade de pensar de forma diferente…

Muito bem. Resolveu continuar, né? Então prossiga por sua conta e risco.

O que eu gostaria de tratar aqui é sobre o Especial de Natal do grupo Porta dos Fundos chamado “A Primeira Tentação de Cristo”. Muita bobagem vem sendo falada por muita gente, o que acabou me tirando dessa minha precoce pseudo-aposentadoria literária para tentar colocar alguma ordem nessa bagaça toda.

Em PRIMEIRÍSSIMO LUGAR: se você é do tipo “não assisti e não gostei”, então, por favor, PARE DE LER AGORA! Vai assistir o vídeo (são só 46 minutinhos), pois foge totalmente ao conceito da lógica querer discutir sobre algo que você não conhece. Basta clicar neste link e baixá-lo, então marque direitinho onde parou e depois você volta aqui, ok?

Se bem que nestes “tempos modernos”, onde haters predominam nas redes sociais, regurgitando suas convicções na maior parte das vezes absurdas, não seria de se estranhar uma propensão desse tipo, pois lógica tem sido um produto escasso no mercado…

Mas tergiverso.

Bem, espero que tenha assistido, pois vamos ter vários spoilers por aqui.

Considere-se avisado.

Acontece que no Especial de Natal desse ano o grupo Porta dos Fundos (mais uma vez) resolveu cutucar a onça com vara curta: a estória gira em torno de uma festa surpresa para comemorar o aniversário de trinta anos de Jesus, onde, além da família, reúnem-se os Três Reis Magos, Lázaro, um tanto de figurantes – destaque para a “Tia Lupita” (que existe em praticamente todas as famílias) – e Deus propriamente dito. E eis que chega Jesus, após ter passado quarenta dias no deserto, acompanhado do “Orlando”, que evidentemente é gay. Isso mesmo: homossexual. Uma bicha louca. E não, não devemos ter medo das palavras desde que elas nos sirvam para deixar clara a imagem que queremos passar.

A trama, ainda que bem elaborada, é até bem simplesinha. Aliás, nada que já não tenha sido explorado antes, em termos de humor, pois particularmente ainda prefiro as tiradas do antigo blog Jesus, me Chicoteia! (2002) onde o Marco Aurélio consegue desenvolver uma linha hilária ao transcrever a Bíblia desde o Gênesis… Esse Deus apresentado pelo Porta dos Fundos consegue ser quase tão sacana quanto o do blog, cabendo uma menção honrosa às farpas que ele e José trocam entre si.

Pois bem. Após toda a saia justa da chegada dos dois, ficando no ar um clima tenso por conta de estar na cara o que estava acontecendo ali (você não quer mesmo que eu explique, quer?), nessa festa é revelado a Jesus que ele é o Filho de Deus, o que o deixa atordoado. Depois de um chá muito suspeito que faz Jesus viajar e encontrar outras divindades de outras religiões, ele volta só para descobrir que Orlando havia tomado seu lugar como “Filho de Deus” – só que, na realidade, ele era o Diabo. Eles acabam batalhando entre si (o kamehameha de Jesus é de arrancar gargalhadas), tudo acaba num final feliz, o Bem vence o Mal, etc, etc, etc.

E por último Jesus aceita a missão que Deus lhe passo para divulgar Sua palavra, mas com a condição de que teria que ser do jeito dele, pois ele não gosta do estilo do Pai (transformar gente em pedra, destruir cidades por fogo, enfiar um sujeito dentro de uma baleia e por aí vai) e prefere uma solução mais “Paz e Amor”.

Pronto.

É isso.

E só para contextualizar, Jesus de fato começou sua vida pública aos trinta anos (Lucas 3:23), logo após ter voltado de seu exílio de quarenta dias no deserto, onde foi tentado pelo Diabo (Mateus, 4:1-11).

E então, por conta desse vídeo, as redes sociais entraram em ebulição, com muita gente bradando à Netflix que cancelasse sua exibição, pois tratava-se de uma blasfêmia e zombaria contra a Fé mascarada sob a “desculpa” de liberdade de expressão e cujo único propósito seria dessensibilizar as pessoas e preparar o caminho para uma perseguição (???) mais contundente contra os cristãos. Tudo isso por ter insinuado que Jesus teve uma relação homossexual. Na realidade não insinuou não, disse com todas as letras.

O curioso é que no Especial de Natal desse mesmo grupo do ano passado – que inclusive ganhou um Prêmio Emmy Internacional na categoria Melhor Série de Comédia – não me lembro de ter havido essa comoção toda. Nesse, chamado “Se Beber, não Ceie” (uma clara paródia ao filme Se Beber, não Case), nos é apresentado um Jesus que, juntamente com seus discípulos, se reuniram para a última ceia e encheram copiosamente a cara, acordando todos com uma gigantesca ressaca no dia seguinte enquanto tentam reconstruir os passos de tudo que ocorreu – pois ninguém consegue se lembrar de absolutamente nada.

É desse jeito, então?

Um Jesus ébrio, bêbado, embrigadado é aceitável, mas um Jesus homossexual não?

Mas antes vamos rever alguns conceitos básicos:

Paródia: obra literária, teatral ou musical que imita outra obra com objetivo jocoso ou satírico.

Sátira: composição livre e irônica contra instituições, costumes e ideias da época.

Blasfêmia: enunciado ou palavra que insulta a divindade, a religião ou o que é considerado sagrado.

Ou seja, já deve ter sido possível para você perceber que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”! Aliás uma das melhores explicações que li foi a do padre Francys Silvestrini:

“Quando, por diversas razões, os humoristas tentam entrar no campo religioso, é importante distinguir o ‘alvo’ que querem atingir. O ‘alvo’ da blasfêmia é Deus. O ‘alvo’ da sátira é a imagem de Deus projetada publicamente por aqueles que dizem crer nEle. Os que se utilizam da sátira falam sobre nós, nossas crenças, nossas práticas; não sobre Deus. (…) Será que a caricatura satírica, para muitos desagradável, deste controverso ‘Especial de Natal’ não seria uma ocasião favorável para examinarmos a possível caricatura blasfemadora que muitos de nós, crentes, estamos projetando no espaço público de nosso país?”

Aliás, impossível assistir o vídeo sem ao menos lembrar do excelente A História do Mundo – Parte I, do diretor, roteirista, ator e comediante Mel Brooks (recomendo). Porém, diferente dele, o pessoal do Porta dos Fundos não tem a mesma finesse para tratar do tema, mas mesmo assim possuem pontos em comum, pois trata-se da “arte da farsa”, um gênero teatral de caráter puramente caricatural de concepção simples, que aborda trivialidades em situações ridículas, sem medo de gracejos ou exageros – muitas vezes agindo como crítica sociocultural. E nisso não há blasfêmia nenhuma.

Até porque o que eles fizeram não foi zoar com a religião em si, mas sim com a maneira com que as pessoas lidam com a religião – o que são coisas totalmente distintas. Na prática esse vídeo, apesar de toda a galhofa, acaba por reafirmar a divindade de Cristo bem como a importância de sua missão – até porque somente ele consegue livrar a humanidade do Diabo. Nenhum dogma é questionado, pois até mesmo a virgindade de Maria segue incólume. O verdadeiro alvo das piadas não é a fé, mas os conflitos e as contradições que existem dentro de qualquer família – cujas disputas, intrigas e outros comezinhos acabam por vir à tona na época do Natal.

Doutra feita, tirando, obviamente, a última figurinha, se qualquer das outras figuras desse quadro acima por algum motivo lhe incomodou, então o seu problema não é com o que considera blasfêmia, mas sim com o fato de sua própria intolerância àquilo que foge do “seu normal”.

E não me venha falar de respeito à família, tradição, pessoas de bem, o escambau. Nos dias de hoje tudo isso acaba servindo mais para disfarçar o próprio preconceito das pessoas com relação a tudo que as cercam. Nestes tempos conturbados em que vivemos, onde a sociedade se cala diante dos feminicídios, de assassinatos, da truculência policial, da falta de sensatez generalizada, buscar o ressurgimento de uma ultraconservadora TFP vai contra tudo aquilo que acredito em termos de evolução humana.

Goste ou não, saiba que existem pretos. Existem pobres. Existem nordestinos. Existem bêbados. Existem homossexuais. Existem transexuais. Existem famílias felizes formadas por pessoas do mesmo sexo e até mesmo por três ou mais pessoas que vivem juntas. Você pode não gostar disso, mas você não pode fechar os olhos a isso. É uma realidade que não pode ser alterada nem mesmo pela intransigência, pelo racismo, pela homofobia ou por qualquer outro desvio de caráter (pessoas assim é que, na minha opinião, realmente possuem um desvio de caráter).

Então entenda que esse vídeo do Porta dos Fundos é uma mera sátira, pois enxovalha os costumes dessa sociedade hipócrita em que vivemos, mas nada faz para atacar a Fé de absolutamente ninguém.

Foi essa, inclusive, a linha seguida pela juíza Adriana Sucena Monteiro Jara Moura, da 16ª Vara Cível do Rio de Janeiro, ao negar um pedido de liminar para que esse Especial de Natal fosse removido do Netflix, pois ela entendeu que uma decisão nesse sentido seria “inequivocamente censura decretada pelo Poder Judiciário”. Diz também que não encontrou no caso a ocorrência de crimes contra a religião, violação aos direitos humanos, incitação ao ódio ou discriminação. E, ainda:

“Ademais, também considero como elemento essencial na presente decisão que o filme controverso está sendo disponibilizado para exibição na plataforma de streaming da ré Netflix, para os seus assinantes. Ou seja, não se trata de exibição em local público e de imagens que alcancem aqueles que não desejam ver o seu conteúdo. Não há exposição a seu conteúdo a não ser por opção daqueles que desejam vê-lo. Resta assim assegurada a plena liberdade de escolha de cada um de assistir ou não ao filme e mesmo de permanecer ou não como assinante.”

E esta foi apenas uma de uma série de decisões semelhantes, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo. Um pouco mais ácida foi a decisão da juíza Marian Najjar Abdo, da 1ª Vara do Juizado Especial Cível de São Paulo:

“Uma das principais lições ensinadas por Jesus é a da tolerância, sobretudo em relação aos pobres de espírito (e também aos ‘espíritos de porco’). Entendo ausente o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação. A liberdade de expressão, no presente caso, parece, de fato, ter sido utilizada de forma desvirtuada e abusiva, mas, em princípio, basta que o autor não assista ao programa em questão e até mesmo não mais mantenha contrato com a corré Netflix, em sinal de sua indignação.”

Enfim, é isso. Essa é minha opinião, quer você goste ou não, quer você tenha se convencido ou não. E você tem o pleno direito de não concordar e continuar convicto de que essa é uma “obra blasfema”. Paciência. Eu tentei. Mas uma coisa lhe digo: se você quer buscar ter, no mínimo, argumentos para discutir, então assista o vídeo (até o fim!) e tire suas próprias conclusões.

Ou então não assista e vá ser feliz.

Mas lembre-se (Lucas 9:37-56) de ser tolerante…

Emenda à Inicial:

E eis que voltei pra casa, após um ótimo Natal em família e, ao me atualizar do que aconteceu no mundo durante minha ausência, uma das primeiras notícias que vejo é a seguinte:

Sede do Porta dos Fundos sofre ataque a bomba na véspera do Natal

Em nota os integrantes do Porta dos Fundos afirmaram:

“Na madrugada do dia 24 de dezembro, véspera de Natal, a sede do Porta dos Fundos foi vítima de um atentado. Foram atirados coquetéis molotov contra nosso edifício. Um dos seguranças conseguiu controlar o princípio de incêndio e não houve feridos apesar da ação ter colocado em risco várias vidas inocentes na empresa e na rua.

O Porta dos Fundos condena qualquer ato de violência e, por isso, já disponibilizou as imagens das câmeras de segurança para as autoridades, para o Secretário de Segurança e espera que os responsáveis pelos ataques sejam encontrados e punidos. Contudo, nossa prioridade, neste momento, é a segurança de toda a equipe que trabalha conosco.

Assim que tivermos mais detalhes, voltaremos a nos manifestar. Mas, por enquanto, adiantamos que seguiremos em frente, mais unidos, mais fortes, mais inspirados e confiantes que o país sobreviverá a essa tormenta de ódio e o amor prevalecerá junto com a liberdade de expressão.”

Particularmente ainda estou pasmo com o grau de ignorância e de violência que nossa sociedade brasileira está atingindo. Não é esse mundo de ódio e intolerância que quero para meus filhos. Sempre me manifesto contra esse tipo de atitude, mas parece que cada vez mais minha voz vai sumindo em meio àqueles que vociferam suas verdades absolutas.

Infelizmente parece que, de fato, como diria Thalma de Freitas, “quem está evoluindo hoje são as máquinas, não nós.”

Treze de Maio: Kevin

Treze de maio.

Vinte anos!

Tanto tempo faz…

E vinte anos atrás?

Exatamente às treze horas e dois minutos – como se para homenagear os dias do aniversário de sua mãe e meu…

Pesando 3.370g e cravados 50cm de altura.

Meio metro.

Kevin Hideaki Miura Andrade.

Kevin. Um nome de origem celta, cujo significado é “Rio Estreito”. Nesse caso, uma alusão ao estreito caminho do meio, em que se navega entre o bem e o mal… Todos os detalhes foram pensados, desde a preservação de sua herança japonesa, a continuidade dos nomes de nossas famílias, passando pela numerologia e até mesmo prevendo uma facilidade de pronúncia e comunicação em qualquer parte do mundo.

Descendente de samurais.

Décima segunda geração a partir da matriarca da família Andrade, de 1629.

Nascido em São José dos Campos, SP, faz parte da sexta geração de legítimos joseenses.

Me parece que foi ainda ontem, quando corremos para o hospital, todo o nervosismo e insegurança de nosso primeiro filho. Nosso primogênito. E lá veio você, lindo, perfeito, saudável. Não sei se ainda lembra do hemangioma, uma espécie de “manchinha” que você tinha na perna e que acabou sumindo com o tempo. Já naquele momento foi nossa primeira preocupação com sua saúde. Outras vieram. Sustos e correrias.

Mas tudo passa. As broncas, os castigos, as manhas. Só não passa minha preocupação. Nunca. Sempre me preocuparei com você. Sempre pensarei em você. Sempre. Todo o tempo, o tempo todo.

E, dentre tantas surpresas, lá se vão vinte anos. Já é praticamente um adulto. Mas sempre com novas descobertas, novos interesses, novas aventuras, novas metas. E, se me permitir, quero participar de tudo isso com você. Quero compartilhar. Quero viver e continuar vivo através de você, de seus olhos e de seus pensamentos.

Te amo, meu filho.

Mais do que você possa supor ou imaginar.

Mas vamos ao que interessa: o momento em que o pai coruja expõe fotos de uma vida inteira para plena vergonha do filhote aniversariante!

😀


1999
No dia em que nasceu.


Uma de nossas primeiras fotos…


Com cerca de seis meses e já tinha a carinha de hoje.


2000
Primeiro aninho. Sempre é de palhacinho!


2001
Lembra do chapéu do Mickey?


2002
A prova de que o magrelo do seu irmão um dia já foi gordinho…
É aquele ali no colo da Márcia!


Na escolinha…


Seu irmãozito! De bochechas altamente mastigáveis!


Aos três anos já cantava como ninguém. Literalmente.


2003
Acho que foi a única vez que fizemos uma festa completa
lá na casa do seu avô Bento…


Aos quatro, nos primeiros movimentos do xadrez.


2004
Pikachu!


A Tropa completa!


2005
Incrível. Nossa família – não o tema. Tá, também…


2006
Amigos e primas.
As duplas (nada sertanejas) César & Daniel e Sara & Sabrine.


2007
Olha aí a turminha Incrível de novo…


2008
Nessa época sua paixão era Jedi.


2009
Começo da paixão por mangás…


2010
Aos onze, bolo branco e muito morango, como gosta (ao menos a sua avó acha que sim).


2011
Meu pequeno adolescente…


2012
Já com o começo da carinha de adulto que virá a ter!


2013
E a partir de então foi cada vez mais difícil conseguir tirar uma foto com uma carinha, digamos, “normal”…


2014
E também foi ficando cada vez mais sério…


2015
Mas sempre vai depender do momento, do estado de espírito e do delicado e variável humor que lhe é característico…


2016
Com seus melhores amigos do segundo grau – e a tradicional cara de louco na foto…


2017
Dezoito anos de idade!



No finalzinho do ano, cabeludo como ele só!



E no início do ano seguinte, reco. A reencarnação do Recruta Zero!


2018
Aos dezenove, comemorando com o núcleo da família…


2019
E agora, há pouco tempo, numa das fotos mais recentes… Crash & Eddie, os irmãos Gambá!
😀

Outro dia de ócio

E eis que tive que ir para a cidade vizinha para cuidar das situações jurídicas que me são peculiares pela própria natureza da profissão: afinal sou advogado e tenho que padecer em vida ainda, né?

Era até uma coisa simples – nem mesmo por mim mesmo, mais para fazer um favor para um colega (por que é que a maioria dos advogados sempre se tratam por “colegas”?…) do que por qualquer outro motivo. Bastava ir até o Distribuidor do Fórum – onde se faz o protocolo dos pedidos nos arcaicos processos que ainda não tramitam pelo meio digital – e protocolar uma petição. Nem mais, nem menos. Mas eu sou eu, não é mesmo?

– O sistema está fora do ar, doutor.

Eu já lhes disse o quanto tenho ojeriza de pessoas que conversam comigo e terminam cada frase com “doutor”? E se o protocolo é físico (carimbão mesmo), do que me interessa o sistema? Paciência…

– Em mais ou menos uma horinha já deverá estar de volta…

Mardito sistema. Isso era hora de sair pra passear? E o fato de tratar a hora que ainda levará por “uma horinha” não faz com que essa mesma hora passe mais rápida que os sessenta minutos regulamentares.

Saio do prédio do Fórum pela lateral e vejo o costumeiro e mórbido espetáculo das famílias que vão acompanhar o depoimento de alguém que foi preso. Sem acesso direto ao distinto, quando ele é encaminhado pela “saída de presos”, ficam todos à distância mínima possível, mandando beijos, abraços, fazendo recomendações, levantando bebês, até que a figura em questão entre no famigerado camburão e volte ao seu recolhimento. Triste. Verdadeiro. Mas triste.

E o que fazer nessa hora que devo aguardar? Que tal tentar resgatar aquele meu “Dia de Ócio”, um brinde levantado há mais de dez anos? Seria possível? Veremos…

Bastou uma caminhada de uns dois quarteirões e já o encontrei. Um boteco. Mas não um boteco qualquer: um boteco pé-sujo, porque é o que tinha que ser.

Característico como todo boteco de igual porte, teor e qualidade, mas com alguns detalhes que refletem o sinal dos tempos. Não existem mais cinzeiros de plástico sobre as mesas, mas estas continuam com as tradicionais toalhas de plástico de sempre. As paredes possuem uma cor indefinida, algo que um dia com certeza já foi branco, mas hoje lembram mais a parede do fundo de uma churrasqueira.

Sento-me no balcão e aguardo ser atendido.

Enquanto isso um senhorzinho educado e aparentemente gentil, com aproximadamente uns 130 anos, com um característico bigode mais branco que minha barba, entra e pede um guaraná sem gelo – isso mesmo! Nada de bebida alcoólica. E ainda mais sem gelo. E, sim, o dia estava quente. Pelo seu modo de se vestir, provavelmente um advogado ou contador que ainda deve bravamente resistir em alguma sala comercial na parte velha da cidade. Após uns vinte minutos se levanta, com uma mesura se despede e segue seu rumo com seu terno surrado. Provavelmente já deve ter visto dias melhores. Ambos, o terno e ele.

Como eu já disse antes, num lugar como este você simplesmente fica invisível para o restante da sociedade. E a prova cabal de minha afirmação é que minha amiga pessoal e previdente sócia de nossa empresa passou a menos de dois metros de distância e sequer me percebeu…

– Tem cerveja gelada?

– É a única que tem.

– Mas tá gelada mesmo?

– Péraê.

E eis que ele me serve como copo uma latinha de cerveja vazia, sem a tampa superior, com as bordas cuidadosamente trabalhadas para evitar algum mínimo corte ou machucado, dentro de um desses pequenos isopores suficientes para apenas uma latinha. Serviu a breja da garrafa. Experimentei. E não é que saporra funciona? Geladíssima!

Diferente da última vez em que estive nessa situação, o trânsito de veículos da rua é muito mais movimentado, ao contrário da estreita calçada, onde minguados gatos pingados que de quando em quando passavam – até porque estamos longe do centro nervoso da cidade.

E então comecei a perceber melhor o ambiente que me cercava. A costumeira chapa deu lugar a um surrado micro-ondas, o qual está EM CIMA da chapa desativada a sabe-se lá quanto tempo. Garrafas de bebida empoeiradas compartilham seu espaço com uma moderna TV digital na qual – é lógico – está passando um jogo de futebol de algum obscuro time de talvez alguma ainda mais obscura divisão.

Paira no balcão uma jarra de forma duvidosa com uma beberagem escura, ainda mais duvidosa, meio que cor de mel – provavelmente algum tipo de cachaça com alguma “especialidade” dentro.

– Chefia, me vê um pedaço desse torresmo, fassavor?

– Quer que corte?

– Não, não precisa não.

Besta quadrada que sou. Ainda bem que tenho dentes fortes. Ainda.

No mais quase tudo era como um “boteco pé-sujo normal”: balcão de madeira e tampo de vidro, banquetas altas, gastas e desconfortáveis, vitrine da década de sessenta com alguns salgados também duvidosos em seu interior. Troféus de formatos estranhos ostentados numa prateleira ao alto (aquilo seria um boi?) dividindo o espaço com diversas garrafas comemorativas de sabe-se lá o quê. Uma espécie de biombo de treliça fazia uma divisória entre a porta e o balcão de modo a garantir a intimidade inexistente de seus clientes. Ou seja, equipamento completo. Perfeito!

E, pra completar, quase todo mundo acima dos quarenta que passava pela calçada fazia questão de cumprimentar a figura bonachona do proprietário, o qual, enquanto me observava com o rabo dos olhos, resolveu limpar o embaçado do balcão com o tradicional paninho sujo sempre presente no seu ombro (conforme já descrevi antes, ao falar da tradicional comida de boteco).

Num mero vislumbre, do lado de fora percebo o povo passando. Todo mundo no celular. Lendo, falando, digitando ou tropeçando.

E lá dentro dois ventiladores de teto. Um ligado, outro queimado. Um moderno freezer (ou seria uma estilosa geladeira?) cheia de sorvetes tem o condão de destoar do ambiente. Assim como um moderno sistema de segurança. Sinal dos tempos, com suas luzes piscantes e câmaras (teoricamente) funcionando para registrar o nada do dia a dia de um boteco desses.

Na calçada transitam novos e velhos hispters – será que eu mesmo, com minha vetusta barba, óculos estilosos e brinco também não seria um? – assim como meninas e moçoilas, teoricamente prontas para frequentar alguma academia, ainda que não. Mais pela modernosa vestimenta que pela falta de dedicação que se denota pelo seu formato físico.

Na rua, em plena disputa com os veículos, passa um casal, jovem até, com ele levando ela sentada no quadro da bicicleta. E eu pensando que essa prática havia sido extinta lá pela década de oitenta!

O final de minha hora de ócio se aproxima, desta vez sem cigarros para me acompanhar. Mais uma vez sinal dos tempos e do inferno do politicamente correto que se instalou nesta nossa sociedade que invariavelmente almeja ser o que não é. Mas a culpa sempre será dos desajustados, dos outsiders, daqueles que não seguem a cartilha do que seria socialmente aceitável para conviver com pessoas de índole duvidosa em seu íntimo, mas que externamente pregam ser pilares de tudo aquilo que consideram como certo e do que seria correto.

Mas divago.

Acerto minha conta, pego minhas coisas e saio pela porta ainda a tempo de presenciar aquele senhorzinho voltando e pedindo outro guaraná sem gelo. Vai entender?

Agora que estou de volta às ruas, longe de minha já preterida invisibilidade, alguns transeuntes – velhos amigos e colegas e gente que preferia nunca mais ver – passam e me cumprimentam através de uma buzinhadinha, um sorriso falso, um tapinha nas costas… Só por isso já fico com vontade de voltar à segurança do boteco.

De volta ao Fórum, agora com o sistema também de volta (garanto que ele também deve ter saído pra uma brejinha gelada…), cumpro com o dever que me foi confiado, protocolo o que tinha que protocolar e já é hora de tomar meu rumo.

Pena que, diferente da última vez, não tenho uma mensagem de digna de nota para lhes passar. Estamos onde estamos pelas escolhas que fizemos. Eu vou muito bem, obrigado. Vou levando minha vida, fazendo meus trabalhos, pagando minhas contas. Me falta um quê de companheirismo daquela velha, louca e embriagada turma do dia a dia, mas fazer o quê? As pessoas precisam evoluir. Tomar novos rumos, decidir por novas vidas. Assim também o fiz. Certos ou errados, é o que temos pra hoje. Vivemos tempos sisudos e não consigo de imediato vislumbrar um brilhante futuro próximo a nos aguardar…

Mas devemos seguir em frente. Sempre. Com a íntima certeza de que tomamos o caminho que consideramos justo e certo. Ao menos, apesar de todos meus atos e de todas minhas falhas e faltas, de um modo perfeitamente imperfeito, sinto que consigo continuar colocando a cabeça no travesseiro e dormindo tranquilamente. Dia após dia. Vocês podem se gabar disso também? Bem, eu posso.

E no mais íntimo recôndito da mais íntima parte de meu ser, continuo tendo uma fé inabalável de que após a tempestade deverá vir a esperada bonança. Meus olhos ainda brilham, aquela fera interior ainda ruge e rosna me dizendo em palavras impronunciáveis que dias melhores virão. Que ainda nos sentaremos num legítimo boteco pé-sujo para saborear a nostalgia daquilo que já foi, a qual virá ao encontro daquilo que ainda está por vir. E vamo que vamo!

Pois é…

Parece que nem mesmo os dias de ócio são mais como antigamente…

Solitude

Oi?

Alguém aí?

Ninguém?

ÓTIMO.

É que já tem meses que escrevi algo que tivesse saído de minha própria cabeça e, na prática, ANOS que escrevi algo que realmente eu mesmo possa rotular de “interessante”…

Esse distanciamento deste espaço virtual se deu em parte por conta da correria do dia a dia (que – vamos combinar? – nem é tão corrido assim…), um tanto de crise criativa e outro tanto de ceticismo generalizado após acompanhar o FEBEAPÁ que grassou nas redes sociais

E não foi sem motivo que fiz uma boa faxina por lá. Não, não exclui ninguém – ainda que muitos merecessem – apenas “me” exclui. Explico. Tirando o Instagram, que na maioria das vezes é uma simpática diversão, o Twitter, onde praticamente ninguém se importa se existo ou não, e o Linkedin, que até hoje não tenho certeza do que estou fazendo por lá, restou-me o degenerado Facebook, um sangrento campo de batalha em que qualquer tentativa de demonstrar algum posicionamento (político, religioso, humorístico, filosófico, pessoal, fiscal, sexual ou seja lá o que for) invariavelmente desanda numa flame war digna de Game of Thrones!

Quer passar incólume por lá? Fácil. Basta se limitar a postar: fotos ou vídeos que mostram os queridos amigos ou a excelente família que você possui e como todos vocês se dão bem, quer sejam recentes, antigas, verdadeiras ou não; frases e citações bonitinhas que servem para estimular o lado positivo das pessoas, ainda que você jamais tenha lido uma vírgula sequer do autor da frase ou, pior, naquele costumeiro exercício insano de recortar-e-colar-sem-nada-checar, que tenha atribuído o texto a quem nunca o disse (e, talvez, jamais o dissesse); e pets. Não as garrafas, mas sim aquelas fotos e vídeos fofinhos de animaizinhos de estimação, nas quais as pessoas gastam horas admirando e readmirando, curtindo, comentando e compartilhando com todo o restante do UNIVERSO – mesmo quando os demais mortais que estão em sua timeline não tenham a mínima vontade de ter o mesmo peculiar e carinhoso olhar do remetente no que diz respeito aos pequenos monstrinhos.

Existem variações, mas a receita básica é essa.

Só que esse negócio já me deu nos pacová, de modo que eu simplesmente apaguei tudo, TUDO, que existia na minha timeline desde 2010 até outubro deste ano. Fotos, frases, vídeos, curtições, postagens, compartilhamentos, comentários, bate-papos, etc. Tudo. Tá certo que eu continuo sendo o neurótico do backup de sempre, de modo que tenho tudo isso muito bem guardado nas catacumbas de meu computador (para eventuais referências futuras…) – mas, lá na rede, mais nada.

Por quê?

Porque preciso – mais uma vez – voltar ao básico. Ao que é simples. Ao que é objetivo. Preciso ter foco.

Mesmo este blog sequer começou como blog! Como já contei antes, lá nos idos de janeiro de 98, o que era para ser uma simples página para consultas jurídicas paulatinamente foi se transformando, se moldando, se ajustando, até que, anos depois, viria a assumir sua natural vocação para se tornar um verdadeiro blog. E só para não deslembrar: BLOG corresponde ao acrônimo de WEBLOG, que nada mais é que uma página da WEB (rede) em que o LOG de dados (registro de eventos) tem suas atualizações organizadas cronologicamente de forma inversa, do mais antigo para o mais atual. Isso mesmo, é exatamente como um DIÁRIO, em que a última página disponível também foi a última a ser escrita.

Ah, eu e esse meu didatismo…

Mas, enfim, é como a mais famosa frase de uma série que sempre adorei, Battlestar Galactica: “all of this has happened before and will happen again”… E com este ano de 2019 se aproximando, juntamente com tudo o que ele representa para este Velho Causídico que vos tecla, essa frase é mais sintomática que nunca. Pois já passei por isso antes, como, há anos, contei neste texto.

E é bem como está escrito lá, pois “não me sinto nem um pouco diferente, mas sei que não sou mais o mesmo”, pelo que me faz falta “uma época em que as coisas eram mais simples, a vida mais doce e a morte mais distante”“Desde então tenho procurado algo que estava faltando. Aquilo que eu esqueci. O Básico

“Quero poder escrever sem saber se e quando vou ser lido. De mim para mim. E deixar lá. Palavras ao vento. Úteis ou não. Não me importa, nem quero me importar mais com o que em qualquer exato momento outrem estiverem fazendo ou pensando. Deixem seus registros e eu, também quando e se quiser, os verei.”

E não, não estou velho e amargurado. Nem solitário. Nem sofrendo de solidão. Mas de uma outra coisa, sim.

Solitude.

Palavrinha interessante, que me foi generosamente apresentada há não muito tempo e cujo conceito não me era estranho – somente não sabia que existia um nome para esse conceito. Inclusive meio que já escrevi sobre isso antes

Diferente da solidão, que é encarar o vazio – que pode se dar pela ausência de contato com outras pessoas, de se expor a relações ou mesmo de poder confrontar as próprias ideias – criando um verdadeiro isolamento de si mesmo (ensimesmar-se), a solitude diz respeito ao pleno contato consigo mesmo, não havendo necessidade de estar sempre em companhia de outras pessoas – e não há solidão por conta disso. É poder estar sozinho viajando numa nave no vazio do espaço e, ainda assim, satisfeito.

A solitude confunde quem olha de fora, pois o observador tem a sensação de que não estamos bem, que estamos sofrendo, enquanto que a realidade é outra: é de paz.

E é essa a paz que busco.

Para isso me é necessário aprofundar-me um tanto numa solitariedade – sem abraçar a solidão – para atingir uma plena solitude

E tentar voltar a escrever.

Escrever como nunca!

Mesmo que não seja lido, como sempre…