Fragmentos

E eis que um novo grupo foi criado – “Rui Dória Anos 80” – já há algum tempinho por essa linda, que é minha prima, Regina. Um grupo novo para reunir gente das antigas. Desenterrar fotos e situações, bem como compartilhar com outros ex-alunos que também tenham estudado no bom e velho prédio da (na época) Escola Estadual de Primeiro Grau Dr. Rui Rodrigues Dória, lá em Santana.

Um grupinho tranquilo, até. Calminho. Umas postagens iniciais, uns comentários daqui e dali, nada demais…

Isso até que o Cláudio Alciprete, um de meus mais antigos amigos, resolveu lançar no grupo o desafio de enviar uma foto da época! Desafio aceito, foto encaminhada! Achei outras (poucas) de outros alunos e também mandei. O conversê começou a zunir. Toca um daqui, outro dali a buscar outros alunos, a adicionar, a entrar na conversa, a combinar encontro, a um monte de coisas – mas, sobretudo, a resgatar dos mais antigos cantões da memória um pouco de nosso dia-a-dia escolar.

Gente que há muito tempo não tínhamos sequer notícias começaram a aparecer: ou já participando do grupo ou através de sugestão para que fossem adicionados! Apesar da minha usual memória de pombo – como dá pra perceber pela última vez que falei da escola – alguma coisa foi clareando, novas velhas lembranças foram surgindo e situações, momentos, causos e outras tantas coisas naturalmente começaram a emergir, vindo sabe-se lá de qual obscuro canto das catacumbas de minha memória…

E, uma vez reunida, essa Turminha do Fosfosol não perdoa!

Dentre tantas outras, foi a Vilminha (desculpa aí, mas NUNCA vou conseguir te chamar diferente) que me veio com essa:

Vilma Adauto, o menino mais inteligente da minha sala. Certo que era muito mimado tbém… rs

Carái! Mesmo depois de tanto tempo, sósifôdo…

Mas ela tem o seu quê de razão. Com certeza até a quinta série eu devo ter tido um “comportamento exemplar”. Aluno que não faltava, só tirava nota “A”, desde sempre gordinho, desde sempre usando óculos, desde sempre acostumado a ser o dono da razão (ainda que não o fosse). Meus amigos eram poucos (não devia ser lá muito fácil me suportar…), como bem lembrou o Silvinho:

Silvio Eu sempre fui de poucos amigos… fechado.. mas me lembro… era Adauto no primário… inseparáveis… O Gordo e o Magro! Lembra Adauto de Andrade?

Isso só foi mudar a partir da sexta série. Quis o destino que eu fosse me sentar bem na carteira atrás de um dos sujeitos mais bagunceiros da escola: o João Carlos Dellu. Sei lá por qual vez ele estava refazendo a sexta, só sei que ficamos muito amigos. E foi ali, aos meros onze anos de idade, que comecei a ter um pouco mais de consciência do mundo que nos cerca e de que a vida não devia ser levada tão a sério.

Aliás, ali já comecei a me tornar o que sou hoje, ou seja, um daqueles idiotas que levam tudo até as últimas consequências. Tanto o é que vejam este outro fragmento de memória, agora já da oitava série:

Rosemary Vcs lembram dos passeios ? Era zoológico, depois Playcenter.
Rosemary Uma vez fomos para o museu Ipiranga e levaram batida.
Simone Meu Deus o Adauto de Andrade com aquele jeitinho de quietinho, quando a Bocuda prof. de português, saía era muito atentado! kkkkk
Rosemary O Adauto de Andrade segurou a bronca na diretoria , a diretora entrou na sala e quis saber quem estava com a bebida e o Adauto levantou para a sala inteira não levar suspensão! kk isso que é amigo!

Ok, Rose, sua linda. A imagem é muito bonita – estoica, até! Só que você precisa saber de uma coisa… Ainda que , naquela excursão, as garrafas de batida terem rodado pelo ônibus inteiro, DE FATO fui eu quem as levei… Então, apesar de segurar a bronca, entenda que a bronca foi merecida!

Aliás, ao falar de fragmento de memória, acho que é bem isso mesmo. O “todo” é um tanto quanto impossível de se visualizar, e, passado tanto tempo, nossas lembranças individuais também empalideceram ou, pior, se apagaram. Esse nosso reencontro virtual nos permite avivar as memórias uns dos outros, lembrar de fulano, beltrano ou sicrano, invariavelmente com um meio sorriso no rosto, ou mesmo de situações que gostaríamos de ter esquecido mas que, ainda assim, ajudaram a forjar a pessoa que nos tornamos.

Estamos em nossa grande maioria mais para os cinquenta que para os quarenta. E o tempo é, sim, inclemente. Por isso mesmo que é tão prazeroso esse resgate de rostos, sensações, sentimentos, vidas, de quando tínhamos a tenra idade de não nos preocuparmos com o dia de amanhã. E, melhor ainda, é essa alegria por muitos de nós termos contribuídos em buscar cada qual sua peça de um quebra-cabeças cujo aspecto cada um enxerga à sua própria maneira.

Apesar de, às vezes, ser um sacrifício a simples lembranças de uns e outros!

E meu melhor exemplo é o da amiga Rosele. Através do grupo encontrei-a no Face, mandei-lhe um inbox perguntando se era ela mesma, a que tinha estudado no Rui Dória. Respondeu:

Sim sou eu mesma!! Rs. E você também?? Estudamos juntos??? Seu nome não me é estranho.

CUMÉQUIÉ?????

CUMASSIM “MEU NOME NÃO LHE É ESTRANHO”?????

Arre!

Essa era uma das amigas que NUNCA esqueci e que NUNCA mais encontrei. Uma daquelas lembranças de adolescência que sempre pairavam, com carinho, na minha memória, volta e meia repintando-lhe as cores para que não esmaecesse com o tempo, como todo o resto. Triste saber que deixamos de existir para pessoas que ainda existem para gente.

Mas o alívio veio através de um comentário, agora no próprio grupo, algumas horas depois:

Rosele Adautoooo lembrei de você!!! Hehehehehehehe. Feliz!

Heh…

Feliz fico eu.

Ao menos voltei a existir…

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