Amor é amor

Oxímoro…

A pergunta que desde já não quer calar é: “por que começar um texto sobre amor, palavra tão sonoramente fértil, com outra de uma esterilidade auditiva extrema, como oxímoro?”

A pergunta em si já encerra a resposta…

Oxímoro é uma figura de retórica em que se combinam numa mesma expressão elementos linguísticos semanticamente opostos. Como exemplos, conforme se dê a construção de um texto, poderíamos ter as expressões “estridente silêncio”, “futuro arcaico”, “falsamente verdadeiro”, “simpatia assustadora”, “sofisticada simplicidade” e tantas outras mais.

A palavra oxímoro é formada de dois termos gregos” oxýs, que significa “agudo”, “penetrante”, “inteligente”, “que compreende rapidamente”, e morós, que quer dizer “tolo”, “estúpido”, “sem inteligência”.

Como se vê – e essa eu aprendi hoje – o vocábulo é formado de dois elementos contraditórios, o que significa que a própria palavra “oxímoro” é um oxímoro…

E cadê o amor?

Está neste soneto de Camões a seguir, um excelente exemplo poético totalmente carregado de oxímoros, que começa e se encerra em si mesmo:


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
um nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É um querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Familiares os versos?

Sim, vocês já ouviram isso antes (ao menos aqueles tão “clássicos” quanto este que vos tecla…) em Monte Castelo, música do Legião Urbana lá do final dos anos oitenta.

Então basta aumentar o som e clicar no play aí embaixo!

2 thoughts on “Amor é amor

  1. Renato Russo juntou o soneto de Camões com a 1ª carta de São Paulo aos Coríntios [ http://pt.wikipedia.org/wiki/Primeira_Ep%C3%ADstola_aos_Cor%C3%ADntios ]:

    Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O Amor nunca falha. Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *