Livros: uma (fantástica) fábula

Mais uma vez o Jarbas, lá no Boteco Escola, me encanta com seus achados pela Rede.

Essa animação – ou, melhor, essa fábula – é simplesmente encantadora. Fase por fase, vai bem ao encontro de tudo aquilo que sempre digo sobre livros, sobre escrever, sobre compartilhar os textos, sobre entregá-los para o mundo.

Nesse maravilhoso conto The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore, que não tem absolutamente nenhum diálogo, “Um jovem escritor tenta colocar palavras em seu livro, quando um desastre natural acontece. Caminhando por um cenário devastado, com seu espírito abalado (acinzentado), ele encontra uma garota voando com livros como se fossem os passarinhos carregando-a. Entretanto, a garota deixa um livro para o rapaz, que o guia até um lugar onde ele aos poucos, redescobre a alegria dos livros, até escrever a sua própria história.”

Na minha leitura, fica claro aquele primeiro momento do escritor, que tenta exprimir – às vezes com muita dificuldade – tudo aquilo que sente, que quer passar. Seus livros, acumulados, não divididos, servem como consulta e como pesquisa somente para si. Mas Murphy, aquele velho sacana, interfere no destino desse cândido escritor, colocando-o frente a frente com um mundo devastado, sem palavras, sem esperança.

Mas eis que nosso herói se depara com algo. Curioso. Enigmático. Diferente. Impossível. E dali é guiado para um local onde realmente pode fazer toda a diferença no mundo.

Passo a passo, dia após dia, ele aprende cada vez mais e se doa cada vez mais para dar sentido a pequeninas vidas e concretizar sonhos – que, pasmem, não são seus! Ajuda a trazer um colorido especial para as pessoas e para o mundo e, com isso, para sua própria vida.

E o final é encantador.

Mas eu já não disse isso?

Confiram por si mesmos.

Garanto que serão quinze minutos muito bem utilizados de suas vidas.

 
Aliás, sobre o escrever e aquilo não mais lhe pertencer: me fez lembrar desse poema de Pessoa que já compartilhei aqui. Acontece que quase nunca escrevemos para nós mesmos. Escrevemos para outrem. Por outrem. Sobre outrem. Quase sempre.

Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os lerá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo.

Alberto Caeiro

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