Rendo-me ao inevitável

Sempre achei essa frase – “rendo-me ao inevitável” – uma grande falácia. Um verdadeiro logro linguístico com palavras bonitas que geram uma bela frase de efeito.

Ora, em última análise, render-se ao inevitável não implicaria em simplesmente desistir? Seria isso, então? Render, capitular, submeter, sujeitar, se entregar, dar-se por vencido. Frente a quê? Ao inevitável, aquilo que não se pode esquivar, o que é necessário, indispensável, fatal.

Capitular perante o inesquivável?

Submeter-se ao necessário?

Sujeitar-se à fatalidade?

De um modo geral tais acepções sempre me soaram de uma comodidade muito grande. Invariavelmente tenho brigas homéricas com diversas palavras – mesmo as mais prosaicas – quer seja com seu sentido, quer seja com sua sonoridade. Expressões, então, também não fogem à essa minha regra encrenqueirística. E, para mim, render-se ao inevitável sempre pareceu trazer implícita a mensagem de que fugir à luta seria então muito mais fácil…

Afinal de contas, viver dá trabalho! Como já me disseram, é para profissionais! Administrar trabalho, família, vida pessoal e relação envolve um quadrilátero com ângulos contrapostos, diversos e, muitas vezes, conflitantes entre si. É quase que desumano viver à procura de um denominador comum que conjugue situações tão díspares, numa incansável tentativa de transformar esse quadro em um panorama harmônico e estável.

Mas não é justamente esse o diferencial do ser humano? Ser humano? Enfrentar os problemas e suplantar as adversidades de modo que torne-se senhor de seu próprio destino? Então a luta constante e inesgotável pela pretendida harmonia seria simplesmente uma condição natural de sua própria existência… Qualquer coisa diferente disso seria um ato de covardia, de desistência, de render-se ao inevitável

Belas palavras, confesso.

Inclusive bem mais prolixas do que eu gostaria (aliás, quão prolixa é a palavra prolixa…) – mas esse modo rebuscado é, também, da minha natureza…

Só que essas palavras, na verdade esse posicionamento – norteador de minhas atitudes – acabou defrontando-se com o peso de minha própria idade. E não falo aqui simplesmente de velhice. Mas sim de experiência. Pois, com o tempo, a gente acaba aprendendo o valor da tolerância…

E assim sendo – ah, inevitável conclusão! – render-se ao inevitável já não me soa assim tão agressivo aos ouvidos.

Talvez porque meu foco tenha sempre sido pela ótica da inevitabilidade da rendição – que, com suada luta, poderia sim ser evitada. Talvez nunca tenha o sido pela ótica da rendição ao inevitável – algo mais voltado a não desperdiçar energias com o imutável. Até porque se é inevitavelmente imutável, havemos de nos render à convivência com tal situação. Ou seja, há que se tranformar em paisagem. Podemos gostar ou não dessa paisagem. Mas inevitavelmente teremos que conviver com ela. Rendemo-nos a ela. Inevitável.

Então, hoje, creio que posso afirmar que render-se ao inevitável não seria, em si, um ato de rendição. Soa-me quase que como uma consequência, um caminho a ser trilhado e para o qual as encruzilhadas ficaram para trás, sem mais desvios ou bifurcações. Nossas próprias responsabilidades a ninguém mais pertencem: descortinam-se por todo o caminho dessa clara trilha e inimagináveis são as consequências de afastar-se de seus tijolos amarelos.

Assim o é no trabalho, onde convivemos com paisagens nem sempre agradáveis, na família, onde raramente os verdadeiros parentes nascem sob o mesmo teto, na vida pessoal, que invariavelmente se atrapalha e se confunde em si mesma pela simples falta de foco, e, principalmente, nas relações, onde este já empedernido coração ainda sofre abalos sísmicos – mas jamais voltará a apresentar novas trincas!

Resta pois a este velho bandeirante d’almas, sertanista de palavras, o óbvio caudaloso caminho rio abaixo, com correntezas, quedas e rodamoinhos no porvir, mas cujo destino final – como todo e qualquer rio que nasce já com essa intenção – sempre será o mar. O aparentemente infinito mar. Almejado e misterioso mar. Naufragável mar. Inevitável mar.

Rendo-me, pois, ao inevitável…

Garfield em 1978

É lógico que eu não reservaria uma segunda-feira para – justamente quem? – o Garfield!

Então deixemo-lo na terça, começando com seu ano de nascimento, 1978 (mais velho que muita gente que conheço), e seus primeiros “grandes momentos”…

A clássica (e já famosa) apresentação.

A primeira vez que enganou o Jon para roubar comida.

O início de seu vício por café.

O primeiro sofá “readaptado à moda felina”.

A apresentação de seu prato favorito.

Deixando claro seu costumeiro bom humor…

A primeira vez que resolve aprontar com o Jon na cama.