Lição de vida

Esse causo já deve ter uns bons cinco ou seis anos…

E então fomos para uma reunião – daquelas escabrosas – que, por algum motivo que não me lembro, minha presença e opinião talvez fossem necessárias.

Mesa cheia. Da grande. Todos os figurões mais importantes estavam lá. Sentei-me onde pude, tendo à minha esquerda o Davi e à minha direita meu chefe à época – o Lelis.

E ferve o povo na discussão.

Nesse meio tempo peguei o processo sobre o qual estavam discutindo e comecei a folhear, pra tentar me atualizar sobre o perrengue que estava acontecendo. E então, não mais que de repente, algo assim como num segundo plano desfocado, lá ao fundo ouvi ecoar meu nome. Era o Doni.

– Hein?

– É você, mesmo, Adauto.

– Errr…

– Diga-nos o que acha sobre tudo isso que acabamos de falar?

E como eu iria dizer que não tinha a mínima idéia sobre o que estavam falando porque não estava prestando atenção? Afinal, estavam esperando algo de mim! Não lembro patavina sobre o que discorri, só sei que até aos meus próprios ouvidos – naquele momento mesmo – tudo já soava como uma enrolação sem tamanho… Mas ainda assim falei. E com cara de convicto.

E, quando terminei, silêncio.

Até que o Davi, bem do meu lado, com aquele tamanho todo, ruidosamente espalma as duas mãos na mesa!

– E eis que do meu lado reencarna o Doutor Tancredo! “Onde está Minas? Minas está onde sempre esteve!*” Disse tudo e não disse nada! Meu filho, vá ler com calma esse processo e quando tiver alguma opinião, daí a gente conversa…

Não preciso nem dizer que ali mesmo me senti a mais insignificante das criaturas.

Desse dia em diante aprendi de maneira irrefutável uma das lições mais importantes para toda e qualquer reunião que se vá participar: se você, sabe, diga; se não sabe, encha o peito e, com orgulho, brade a todos “NÃO SEI”. É infinitamente melhor dizer que não sabe, que vai estudar o assunto, que vai perguntar para alguém, que vai pesquisar – qualquer coisa! – mas jamais, JAMAIS, sequer pense em fazer o que fiz daquela vez. Aliás, frise-se que foi a ÚLTIMA vez NA VIDA que fiz algo do gênero…

* Numa pesquisa básica a frase na realidade é atribuída a Otto Lara Resende. O que não muda em absoluto seu efeito…