Meu sobrinho, o Vítor, está passando uns dias em casa e trouxe-me dois livros para dar uma “passada d’olhos”. Um é o Filho da Máfia, de Gordon Korman. Esse eu comecei a folhear (entenda-se: ler) ontem, mas ainda não tenho uma opinião formada.
Já o outro é o primeiro livro de uma antiga série chamada “Para Gostar de Ler” (início da década de oitenta, se não me engano). Traz crônicas deliciosas de grandes autores brasileiros: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. Numa outra vida eu já tive essa coleção completinha, mas já há anos não via esses livros por aí, nem mesmo nos sebos da vida – e olha que sou um condecorado chafurdador de sebos!
Mas o que achei curioso é que logo na introdução do livro existe “Carta dos Autores” que, sinceramente, não me lembro se havia nas edições antigas. Independentemente disso, a curiosidade está no fato de que essa carta, escrita para uma orientação aos leitores para facilitar a interpretação de crônicas jornalísticas, pois bem, essa carta pode ser tranquilamente utilizada para uma mesma orientação no que diz respeito aos blogs de hoje em dia – que, em última análise, são simplesmente crônicas do dia-a-dia de seus autores.
Segue a citada carta, na íntegra:
Amigo estudante
Este livro não tem intenção de ensinar coisa alguma a você. Nem gramática nem redação nem qualquer matéria incluída no programa da sua série.
Nós só queremos convidar você a descobrir um mundo maravilhoso, dentro do mundo em que você vive. Este mundo é a leitura. Está à disposição de qualquer um, mas nem toda gente sabe que ele existe, e por isso não pode sentir o prazer que ele dá.
Experimente abrir este livro em qualquer página onde começa uma crônica. Crônica é um escrito de jornal que procura contar ou comentar histórias da vida de hoje. Histórias que podem ter acontecido com todo mundo: até com você mesmo, com pessoas de sua família ou com seus amigos. Mas uma coisa é acontecer, outras coisa é escrever aquilo que aconteceu. Então você notará, ao ler a narração do fato, como ele ganha um interesse especial, produzido pela escolha e pela arrumação das palavras. E aí começa a alegria da leitura, que vai longe. Ela nos faz conferir, pensar, entender melhor o que se passa dentro e fora da gente. Daí por diante a leitura ficará sendo um hábito, e esse hábito leva a novas descobertas. Uma curtição.
As crônicas serão apenas um começo. Há um infinito de coisas deliciosas que só a leitura oferece, e que você irá encontrando sozinho, pela vida afora, na leitura dos bons livros.
Boa sorte, e um abraço para você, de seus amigos cronistas
Carlos Drummond de Andrade
Fernando Sabino
Paulo Mendes Campos
Rubem Braga
![]()