Parque da Mônica – a epopéia (III)

III – O Parque

Então. Como todo pai que se preza tem que tirar fotos dos pimpolhos, parei no meio da rampa (que, na descida, circundava o escorregador) para tirar alguns instantâneos. Fotografei em plena atividade escorregadícia as crianças do Paulo e da Andréa, da Andréa, do guri do Evandro (e do próprio…), da Dona Patroa e, por fim, de minha prole também.

Foi aí que o caldo começou a entornar.

O humor de meu filhote mais velho vive no limiar da balança. Não sei por que cargas d’água ele desistiu do escorregador logo que começou a descer: deu um jeito de parar e começou a voltar. O funcionário do Parque não teve dúvidas, foi até ele, abraçou-o, e desceram juntos, sob protestos do bacuri.

Aí que vinagrou de vez…

Mesmo assim fomos todos com as crianças num brinquedo logo próximo à entrada, uma espécie de super hiper ultra mega blaster plus trepa-trepa. Enquanto foram entrando na fila, Adauto, o coxo (lembram-se do joelho?), ficou aguardando do lado de fora. Segurando a bolsa da Dona Patroa. E a mochila das crianças. E a máquina fotográfica. E um saquinho com o que sobrou do almoço. E os calçados de todos eles. Pra ficar com as mãos livres, dei um jeito de amarrar, transpassar e vestir tudo isso. Num espelho próximo vi que fiquei bem no estilo dos antigos exploradores paulistas, um verdadeiro Bandeirandante

Enquanto estavam na fila, dei uma sacada nos arredores. Inúmeros outros pais carregados de mochilas, bolsas e sapatos. Alguns sorrindo para os filhos distantes, outros com aquela característica cara de tédio de quem espera, e, ainda, mais alguns em estado catatônico.

E as crianças, então? Corriam, pulavam, atropelavam, saindo e entrando de todos os lados possíveis e imagináveis. Isso fora as que choravam. Choravam pelos brinquedos, porque queriam ir, porque não queriam ir, porque já foram, porque queriam ir de novo, enfim: choravam.

Quando voltei desse ligeiro estado de letargia, percebi que o filhote, o vinagrado, queria sair da fila. Fui até lá e retirei-o.

– Vou dar uma volta com ele e depois a gente se encontra!

No decorrer da meia hora seguinte (se bem que acho que deva ter sido mais, pois o tempo corre de uma maneira própria quando se está em outra dimensão), fomos caminhando por todo o parque, vendo os brinquedos e eu ainda tentando insistir se ele queria brincar num ou noutro. Mas as negociações foram infrutíferas. Só começou a voltar a seu temperamento normal (?) após um belo, grande e saboroso sorvete escolhido por ele próprio (nunca falha!).

Nessa volta que demos, o único lugar em que me senti um pouco mais à vontade foi a Casa do Louco. Aquilo tudo era assaz compreensível para mim, desde as cortinas de linguiça até a vitrola das antigas, na qual virava, toda modorrenta, uma pizza, tocando uma música de fundo…

Encontrei com a Dona Patroa e o caçulinha, bem como o Evandro e seu filhote, os quais também já haviam se distanciado dos demais, brincando sossegados com tijolinhos de construção de tamanho real. Feitos de espuma, é lógico.

Nesse meio tempo, a proposta: “café, doctor?”, ao que respondi “póssassê”. E foi o Evandro pra fila. E ficou. E ficou. E ficou. Quando já não havia mais esperança, eis que ele foi atendido. Mesmo assim, quando fomos servidos ainda tivemos que pedir pra mocinha dar uma completada, pois o café veio abaixo da metade da xícara! Após DESgustar o café, eis que bate novamente aquela vontade de dar uma pitada…

Depois de tudo isso, de toda a fila, de toda a espera, o Kevin vem e me pergunta:

– Paiê, tô com sede. Pode comprar um suquinho?

Com a xícara ainda nas mãos, dou uma esticada de pescoço e vejo a fila de uns 15 metros. Parada.

– Filhô, não serve água, não? Papai achou um bebedouro bem legal, ali atrás…

Não funcionou.

Aliás, deve ter sido mais ou menos por esse momento que percebi a perna meio molhada. Amarrado à mochila estava o saquinho com o que sobrou do almoço, inclusive com o refrigerante, QUE COMEÇOU A DERRAMAR. Nem sei quanto tempo levei pra conseguir limpar o que precisava ser limpo e salvar o que dava pra ser salvo.

Foi então que trocamos, Dona Patroa e eu: ela foi brincar com o Kevin em outros brinquedos e deixou o Jean comigo, o que foi um ótimo negócio – pra ela – pois, por ser pequenina (1,53m), ela ficava de igual pra igual com o resto da criançada.

Como o Jean é da paz (quando não está aprontando) foi mais fácil toureá-lo. Após umas duas birras por brinquedos, uma fralda cheia (com um fraldário ainda MUITO mais cheio) e no limite da exaustão, chegamos à conclusão que o ideal seria ir para o carro colocar as crianças para dormir um pouco. Evandro concordou. Pelo celular (que, GRAÇAS A DEUS, estava com bateria), consegui falar com a Dona Patroa, expondo-lhe o plano. Tudo bem, só pediu pra devolver-lhe a bolsa. Tãotáintão.

Encontrei-a, devolvi-lhe a bolsa e prossegui com os demais apetrechos. Passar por aquela criançada, agora com o Jean no colo, me dava a impressão de avançar numa tempestade de areia pelo deserto…

– Bom, pelo menos vamos poder fumar um cigarrinho!

– Pois é! E sair dessa barulheira e colocar os meninos pra dormir um pouco no carro.

– É mesmo!

Mas eu ainda estava com aquela maldita sensação de que havia esquecido algo. Fogo eu já sabia que não tinha. O que seria? Assim que passamos pelas catracas, sem possibilidade de volta, me lembrei: A CHAVE DO CARRO! Ficou na bolsa da Dona Patroa!!!

Olhei para o lado, para o companheiro de jornada, acabado, cansado, suado, mas feliz por ter saído dali, com seu filho virando cambalhota no colo.

“É. Depois eu conto.”

Continua…