Desadesivando

Não, nem se preocupe em procurar no dicionário. Essa palavra não existe formalmente. Aliás nem mesmo o tão usado verbo “adesivar” existe nos alfarrábios da vida. Entretanto são expressões que já estão integradas no dia a dia das pessoas.

No meu caso, tudo começou ao me lembrar de uma história (assim mesmo, com “H”) de uma amiga. Seu namorado, na época, tinha um carro todo “filmado” (ou seja, com Insulfilm) – daqueles bem escuros – e que ela odiava.

Numa bela manhã de sol, num passeio de carro, eles foram parados por um policial, que começou a argumentar que aquele Insulfilm seria muito escuro e talvez ele tivesse que multar, enfim, aquele “papinho”…

Ela não pensou duas vezes. “Ah, é muito escuro? Não por isso.” Meteu a mão, puxou e – pra satisfação pessoal e desespero absoluto de seu namorado – simplesmente arrancou a película do vidro.

Bem, causos à parte, lembrei-me dessa história porque também estava querendo arrancar a dita película dos vidros do carro e não sabia como fazê-lo.

“Bem”, pensei eu, “se ela disse que arrancou, deve ser só questão de achar o ponto certo e puxar”. Cutuquei uma das pontas até começar a descolar e – pronto! Foi só descolar todo o resto. Repeti a operação em todos os vidros do carro, À exceção dos quebra-ventos, que têm uma ferragem por cima do Insulfime, e precisarão ser desmontados.

Já que estava tirando isso, resolvi também remover os inúmeros adesivos que estavam tanto no vidro quanto no painel do carro. Para essa tarefa nada melhor que uma espátula de lâmina bem maleável e MUITA paciência. No painel até foi fácil, mas nos vidros, após arrancar tudo, ainda ficou aquela gosma de cola seca. Um bom limpa-vidros (e MAIS paciência) resolveu esse problema.

Olha… Tudo bem que o carro continua velho, com seus amassados, ferrugens, etc. Mas – sinceramente – já deu um visual bem melhor pro bichinho…

Desmanches – o paraí­so da tranqueirada

Pois bem. Como já vimos pelo estado da ferragem, será necessário desmontar completamente também o banco do motorista para consertá-lo. O problema, no caso, é que eu deixei o assento do banco para que ainda pudesse levar o carro de um lado para outro (mesmo sem o encosto). Conclusão? Eu precisaria arranjar um OUTRO banco do lado do motorista, ainda que arrebentado, enquanto durar a reforma dos bancos originais.

Como fazer, então?

Desmanches! É lógico!

No decorrer da semana eu já havia percorrido três desmanches e não achei nada. Liguei para outros três e acabei descobrindo um que teria o malfadado banco (curiosamente, bem próximo da casa de meu pai).

Logo pela manhã fui até esse desmanche (nota: eles preferem ser chamados de “recuperadora de autos e peças”), fucei um pouco e achei um único banco que me serviria. Meio arrebentado no estofamento, com uns pontos de solda elétrica no trilho, um tanto quanto enferrujado – mas, ainda assim, funcionando.

De quebra vi uma Caravan 83 enconstada num canto. Muitas de suas peças são plenamente compatíveis – e às vezes até idênticas – as de outros modelos. Dei uma olhada básica e vi que ainda tinha o par de quebra-sol (inclusive com direito a espelhinho do lado do passageiro), bem como o retrovisor central. Por que me interessei por isso? Dêem uma olhada no que estava no meu Opalão…

Conversa daqui, regateia dali, proseia mais um pouco (desmanches são ótimos justamente por isso), fechamos um preço. Quarenta contos pelo banco e trinta pelo conjunto de retrovisor e quebra-sol. Setenta, ao todo. Achei justo.

Ao voltar para casa ainda aproveitei e passei numa loja de ferramentas. Lixas para o acabamento da bancada que comecei a fazer e também um martelo especial para desamassar latarias. Carinhas essas lixas para lixadeira… E lá se foram mais R$32,87…

Enfim, chegando em casa bastou tirar o assento do banco que lá estava, colocar o novo (ou velho?) – ótimo! Encaixou perfeitamente! Logo em seguida foi a vez dos demais acessórios. Resolvido. Como eu já disse antes, beeeeeem devagarinho o carro já tá começando a ficar com cara de carro de novo…

Câmbio de 5 marchas

Outra pérola interessante diz respeito ao câmbio, informação que pincei de uma revista chamada – adivinhem? – Opala & Cia! Dá até pra pensar em futuramente (beeeeem futuramente) trocar o câmbio do bichinho. Segue um trecho da reportagem publicada nessa revista, a de nº 8, pág. 53, sob o título Evolução Silenciosa:

“Em 1983 a GM passou a vender o Opala 2500 com câmbio manual de cinco velocidades, de características semelhantes às do Opala Gama 1977. As relações das quatro marchas não mudaram, apenas foi acrescida uma quinta, com relação de 0,84:1, o que significou alongar a transmissão em 16%, já que a quarta continuava direta, equivalente a 1:1. Assim foi possível reduzir a rotação do motor sem prejuízo da velocidade, pois a velocidade máxima continuava a ser atingida em quarta marcha. A quinta tinha a função exclusiva de proporcionar economia de combustível e conforto, pela redução de ruído do motor na estrada.”

Bateria x Alternador

Fuçando de leve na Internet encontrei o site http://www.opalabh.com, no qual tem um fórum com diversas discussões interessantes. Apenas uma delas deixarei registrada aqui para eventual referência futura…

Segue a dica:

“O problema de bateria dos Opalas é um problema ‘de série’. Na verdade, qualquer bateria com sessenta amperes segura a onda. O ‘x’ da questão é o alternador. Com o original, são 55 amp de carga de alimentação (isso quando ele está bom), e não é suficiente para carregar a bateria, alimentar o sistema de ignição, faróis, som, vidro elétrico… troquem o alternador por um de Santana 2000. Ele carrega 90 amp e adapta como uma luva no suporte original do nosso GM. Custa de R$100,00 a R$200,00 em qualquer ferro velho da Pedro II. Qualquer eletricista faz a adaptação, que consiste em apenas substituir os terminais. Adeus problemas com baterias, sem contar que vai ter carga sobrando para centelhar as velas, e daí­ sabe-se no que dá.”

Um dia pra ser comemorado

Alguém sabe dizer qual a data de aniversário de seu carro? Pois bem, acho que descobri a do meu… Ao desmontar o encosto do banco do lado direito encontrei essa etiqueta aí do lado pendurada internamente na ferragem. Até onde dá pra inferir, talvez seja a data em que o carro recebeu o “OK” da inspeção da GM. Ou seja, em 31/05/1979. Somente após isso é que deve ter sido encaminhado para alguma revenda – uma teoria que encontra respaldo no próprio número final de sua placa, que é 3, cujo mês de licenciamento é junho…

E aí?

Será que conseguirei devolvê-lo à boa forma antes dos trinta? Ou, talvez, antes mesmo dos vinte e nove?

Só o tempo dirá…

Sai pra lá, encosto!

Então. Esse “caboclinho” aí em cima é o tal do banco que eu estava a desmontar outro dia. O próximo passo, logicamente, seria verificar o estado de seu encosto. Até porque o mesmo estava travado – não adiantava puxar aquela alavanca lateral que ele não ia nem pra frente, nem pra trás.

Primeiramentemente – e nem podia deixar de ser – encontramos mais alguns grampos a serem retirados na parte inferior. Com meu super-ultra-mega-blaster-plus-advanced (e novo) alicate de corte, essa tarefa ficou beeeem mais fácil. A capa do banco tinha também, na sua parte posterior, três travas de metal que se fixavam na ferragem inferior do encosto. Bastou afastá-las com um alicate de bico e retirar a capa, como se fosse uma luva.

(Observação mental para mim mesmo: da próxima vez que for tirar uma capa de um encosto de banco, certifique-se tenha soltado antes os parafusos da alavanca do assento, sob risco de rasgar mais ainda a própria capa.)

Antes de ela sair totalmente, assim como o assento tinha grampos na linha dos fundilhos, segurando a capa por baixo, o encosto também os tinha na altura da nuca. Bastou cortá-los por trás.

Retirada a capa, encontramos uma bela espuma quadrada encaixada na armação onde recostamos a nuca no encosto. Por isso que o encosto é sempre fofinho…

Fora isso, encontrei o mesmo esquema do assento: debaixo da capa, espuma; debaixo da espuma, palha; debaixo da palha, forro. Sim. MAIS palha. Segundo a sabedoria mecânica de meu pai, parece que essa @#$%¨&*! de palha na realidade é feita a base de casca de côco. Por mim podia ser até a base de seda. Do jeito que é, continua sendo um NOJO.

Pois bem. Despido de sua pele, músculo e entranhas, restou o esqueleto do encosto, tal qual o vemos aí embaixo…

Agora, com acesso total às intimidades do encosto, foi possível diagnosticar o porquê de a alavanca para deitar o banco não funcionava. Essa alavanca (que fica mais ou menos na metade da altura do encosto) tem preso na sua extremidade interna o gancho de um arame. Esse arame desce por dentro de todo o banco e se conecta a uma espécie de catraca, que fica do lado de dentro da regulagem de altura do encosto. Deem uma olhadinha na figura aí embaixo.

O arame (1), que vem lá da alavanca superior, é preso numa outra alavanca fixa que faz as vezes de catraca (2). Quando puxamos a alavanca superior, que fica no encosto do banco, também puxamos esse arame (1), fazendo com que a catraca (2) suba no sentido da seta azul. Dessa forma o encosto fica livre para ser inclinado para a frente, no sentido da seta amarela, permitindo que os passageiros tenham acesso ao banco traseiro do veículo. Para que, após trazer o encosto à posição original, a alavanca superior também volte a sua posição de descanso, faz-se necessária a presença de uma mola (3), que force a catraca para a posição travada. Essa mola (3) também estava faltando, sendo que lá na minha caixa de quinquilharias consegui uma que servisse perfeitamente.

Bem, com a ferragem do banco funcionando, e como ainda não deu pra começar a mexer com o assoalho, posso começar a pensar em lixar, pintar e engraxar tudo isso para, então, refazer a parte de espumas e capas.

Ah, agora com o know-how atualizado, só por curiosidade também já desmontei o encosto do banco do motorista. Acabei notando que precisarei encontrar algumas peças (ainda que usadas) do botão de regulagem da altura do encosto (aquele redondo, do lado do banco). De ambos os bancos.

Só que nesse encosto também precisarei da boa e velha solda lá da oficina do Seu Bento (vulgo meu pai)… O danado tá todo quebrado e arrebentado mesmo. Vejam só:

Nem só de bancada vive o homem

Como já foi possível perceber, uma das coisas que está virando rotina nessa “brincadeira” com o Opala (e ainda não batizei o bichinho…) é que estou, paralelamente, montando uma oficina com ferramentas específicas para utilização na reforma. Num futuro não muito distante já vislumbro até mesmo um compressorzinho para pintura…

Mas, por enquanto, o que me falta é uma bancada de trabalho. Daquelas reforçadas, nas quais você pode marretar sem dó alguma peça que precise ser desamassada. De preferência com uma pequena prensa horizontal numa ponta para que eu possa prender algumas peças de quando em quando.

Assim, tirei o dia para colocar meus “dotes” de marcenaria em prática. Como reciclar é a palavra em voga, aproveitei alguns velhos caibrões (vigas) que estavam encostados lá no fundo do quintal e pus mãos à obra.

De custo, mesmo, foram somente dez parafusos de cabeça francesa (arredondados, sem fenda, que travam na madeira) de 5/16″ x 5″, com arruelas e porcas, o que deu exatamente R$0,64 a unidade. Saíram mais baratos que a própria broca de 5/16″ que também precisei comprar (R$7,30). O resultado foi uma bancadinha de 1m de altura, por 1m de largura e 45cm de profundidade. Mais que o suficiente para um caboclo da minha altura trabalhar.

Só falta desmontá-la, lixar cada peça, envernizá-las e remontar tudo de novo…

PS.: Ali em cima, ao invés de “prensa”, eu ia escrever “morsa” – que é como sempre conheci esse equipamento. Como talvez fosse um regionalismo, resolvi escrever “torno” (outro nome pelo qual conheço o tal do equipamento), entretanto ainda assim resolvi dar uma consultada no Aurélio. Cheguei a conclusão que já não sei de mais nada. Isso porque uma das acepções da palavra “torno” é a seguinte: “Posição de cópula em que a mulher fica por cima do homem”. Ora vejam! Definitivamente, Aurélio também é cultura!