O que não fazemos por um coração…

Muito bem, o Grande Dia chegou!

Não, não… O Titanic ainda não está pronto…

Mas sua alma está preparada. Ou seja, sua lataria está impecável, reformada, renascida, reluzente.

E os membros de seu corpo também estão prontos. Ou seja, de dentro para fora, de baixo para cima, todo o sistema de rodas, freios, amortecimento e mesmo a direção hidráulica já podem entrar em ação a qualquer momento.

Só lhe faltava o coração. Um coração forte e vermelho, que lhe bata com ferocidade e suavidade, que lhe dê forças para mais uma vez voltar para as estradas, habitat natural de seu ser. Um coração de seis cilindros em linha…

Mas agora não lhe falta mais!

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Bem, quase…

É que neste final de semana, graças à ajuda dos amigos Flávio e Carina, finalmente levei o motor até a mecânica do Seo Waltair. Mas não pensem que foi assim fácil! Ah, não! Então, crianças, “senta, que lá vem história!”

Já tem algumas semanas que havíamos combinado isso: uma vez que o carro estivesse pronto, eles emprestariam de um amigo um caminhãozinho com um “guincho girafa hidráulico” para poder carregar o motor. Esse era o Plano A.

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Mas como para tudo sempre há um porém, eis que no dia combinado – sábado – o dono do caminhãozinho precisou dele pela manhã, mas o liberaria à tarde. O “pobrema” é que à tarde a oficina já estaria fechada, pois, segundo o Seo Waltair, ele ficaria lá até por volta de meio-dia. Então, até onde sei, meus amigos tentaram ainda arranjar uma “talha” emprestada com um outro amigo, já que em casa tenho um suporte que daria para pendurá-la. Esse era o Plano B.

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Só que não conseguiram achar o distinto, de modo que, na cara e na coragem (e muita fé) resolveram simplesmente levar a Jabis (a caminhonete deles) para de alguma maneira tentarmos colocar o motor lá dentro. Esse ficou sendo o Plano C.

E aqui começa a parte Stan Laurel & Oliver Hardy dessa história…

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Ao chegar em casa, fizeram um resumo de todo o ocorrido, inclusive já sugerindo um “Plano D”, que seria pegar o caminhãozinho à tarde, levantar o motor, deixá-lo na caminhonete deles, para que na segunda pudéssemos levá-lo até o mecânico. Sinceramente não me lembro por quais motivos resolvemos descartar essa ideia, mas ainda assim descartamo-la. Então o novo “Plano D” seria tentar içar o motor, com cordas mesmo, usando o suporte que tenho em casa.

Um detalhe: esse suporte na realidade era a estrutura de um balanço que, pelos mais taurinísticos motivos, após anos e anos jamais cheguei a montá-lo para as crianças de casa. E, na realidade da realidade, essa estrutura de balanço era um suporte que meu cunhado usava para tirar o motor dos carros que arrumava e resolveu deixar lá em casa. Bem, enfim, estava lá e alguma utilidade iríamos lhe dar.

Primeira tarefa: encontrar parafusos que servissem para montar o suporte – desmontado há anos – de modo que pudéssemos fazer o que fosse necessário. Fuça daqui, procura dali, gambiarra de lá, uma forcinha de cá e o suporte estava montado. Faltava arrastar o motor até embaixo dele para que tentássemos içá-lo. E foi exatamente aí, no arrastar, que veio a ideia: pô, já que está tão fácil de arrastar e se colocássemos umas tábuas e o arrastássemos direto para dentro da caçamba da Jabis? Tábuas eu tinha por ali e a ideia parecia boa. Até mesmo a Dona Patroa, que resolveu ver como estávamos nos saindo, também concordou. Estava arquitetado o Plano E!

Colocamos uma tábua e a Dona Patroa achou que era fina. Colocamos outra por baixa e ela achou que iria quebrar. Segundo o Flávio o motor deveria pesar uns 150 kg e o câmbio mais uns 70 kg, o que nos deixaria com no mínimo 220 kg para arrastar tábua acima. Começamos a puxar. A Dona Patroa falou que o motor ia cair para o lado. Continuamos a puxar e eu me lembrei de um vídeo no Face de uns nóia tentando colocar uma moto na caçamba. E a Dona Patroa disse que a tábua ia quebrar. Daí o motor enroscou na quina da tábua. E mais uma vez ela falou que a tábua ia quebrar. Aí fui eu que não aguentei:

– Ôôôô Profeta do Apocalipse! Vê se para de agourar, pô!

Pronto. Enfezei. E o motor enroscado na quina da tábua. Porra!

– Flávio, puxa daí que eu levanto daqui!

Ele me olhou com uma cara de interrogação. As meninas se entreolharam e olharam novamente para mim. E eu bufando.

– UM, DOIS E… TRÊS!!!

Imaginem a seguinte nada hipotética situação: um motor de mais de 200 kg equilibrado numa tábua apoiada na caçamba de uma caminhonete, com o lado (mais leve) da embreagem na rampa e a parte (mais pesada) do bloco enroscada na quina da tábua onde ela tocava o chão. E a besta que vos tecla na fé de que iria levantar aquele mastodonte. Não preciso dizer que “no três” o Flávio levantou o lado dele, enquanto que, do meu lado, os parafusos do meu joelho quase espanaram e – tenho certeza – perdi ao menos umas duas vértebras da coluna. E o motor nem sequer se mexeu…

Também acho que não preciso dizer que os quinze minutos seguintes foram da mais pura gargalhada…

– E ele REALMENTE acredita que é o Superman! – foi o que disse a Carina, já com lágrimas nos olhos!

Bem, o jeito era abortar tudo e voltar para o Plano D – ao menos enquanto ainda tivéssemos condições pra isso.

Pegamos a estrutura que ainda estava montada. Olhamos para ela. Ela olhou pra gente. E agora, José? Será que só na corda daria certo? Bem, a Dona Patroa resolveu ligar para o dono da criança, ou seja, o irmão dela, para saber como é que ele fazia para tirar os motores com aquilo lá. Hein? Como? Com uma talha? Dá pra emprestar? Ah, não era dele… Do vizinho? Ele empresta? Vê lá então. E aí? Viu? Não tá com ele nesse final de semana? Tãotáintão…

Afff… Nada é fácil nessa vida.

E então, mais uma vez, eis que Pink & Cérebro resolveram entrar em ação.

E decidimos amarrar uma corda no motor para tentar içá-lo (aliás, olhando agora, em retrospectiva, não posso deixar de lembrar do causo do português e do barril de tijolos – leiam, vale a pena).

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MAS QUE BESTAGEM ENORME!!!

Aliás, só pra constar: apesar da cara de intrigado do Flávio na caçamba da Jabis, a ideia estapafúrdia foi NOSSA, então essa eu faço questão de dividir…

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Ora, se o motor tem mais de 200 kg e eu sozinho tenho lá meus 100 kg, o que deve ser mais ou menos o que o Flávio também tem, mas nem que nos pendurássemos na corda não o tiraríamos do lugar! Bem diz meu pai: “quando a cabeça não pensa, o corpo padece”…

Mas não foi por falta de tentativa! Nem de minha parte…

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…nem por parte do Flávio!

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Nessa altura do campeonato ficamos sem opção e resolvemos que o negócio era pegar o caminhão à tarde e levar o motor no decorrer da semana. Até porque, depois de tantos “planos”, eu já estava me sentindo dentro do filme do Galinho Chicken Little

Até que alguém ligou para o Flávio.

Era o pessoal lá do caminhãozinho! Já haviam liberado ele! Nisso era pouco mais de onze horas e, talvez, somente talvez, desse tempo de fazer tudo ainda no dia!

Toca todo mundo pra Jacareí, no bom e velho Cruzador Imperial, para buscar o caminhãozinho!

Chegamos lá, até que o Flávio tivesse um curso relâmpago de aula básica de operação do guincho, já era meio-dia. E agora? Bem, vamos dar uma passada lá na Mecânica e já ver se ainda dá tempo. Nesse ínterim – até pra se divertir um bocadinho (como se já não o estivéssemos fazendo o suficiente) – a Carina pediu para levar a barca. Beleza! Nós no caminhão e ela no Opalão! E vamo que vamo!

Seo Waltair já estava na porta – e, confesso, parece-me que com uma cara de decepção por o motor já não estar na caçamba – e garantiu-me que ainda ia demorar um pouco. Beleza! Então vai dar tempo! E toca pra casa, a uns 15 km dali, para dar continuidade ao Plano A, originalmente arquitetado!

Chegamos em casa e – ufa! – o receio de o caminhãozinho não entrar na garagem era somente isso: um receio. Aliás, segue aí uma propagandinha básica do camarada que deu essa força para O Projeto, vai… Tenho certeza de que, depois de aparecer aqui no blog, com a nossa usual audiência, ele vai ter um trabalho danado para gerenciar as milhares de ligações espalhadas pelo mundo todo que a partir de agora irá receber! Ou não.

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Bem, uma vez devidamente posicionado, demos início aos trabalhos…

E é ABSOLUTAMENTE INCRÍVEL como com a ferramenta certa você consegue fazer o que tem que fazer da maneira certa. Sempre aprendi isso com meu pai. E sempre teimo em fazer do modo mais difícil! Mas vejam por si mesmos a belezura da coisa!

CINCO MINUTOS!

Se é que foi tanto.

Levamos mais tempo trazendo o caminhãozinho e levando o motor que carregando e descarregando o danado propriamente dito. Com o Coração Estelar – ops, esse é do Lanterna Verde -, quer dizer, com o Coração do Titanic devidamente encaçambado, toca todo mundo pra Jacareí novamente, cidade vizinha, para descarregar a criança lá na Oficina Mecânica do Seo Waltair. Eu e o Flávio no caminhão e a Carina logo atrás no Opalão.

Já na oficina, toca pra operação inversa (e com direito a uma filmagem exclusiva do Titanic por parte da Carina – valeu, sua linda!)…

Enfim, motor entregue, na oficina, aguardando cirurgia.

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Com tudo devidamente combinado, ou seja, que se leve todo o tempo DO MUNDO para concluir essa fase – até porque TUDO nessa vida tem limite, inclusive o cheque especial – fomos devolver o caminhãozinho. Sinceramente não lembro neste momento do nome do dono da criança (seu Isidoro, acho eu?), um senhor simpaticíssimo e bastante agradável. Gente que tem cara de gente do bem, sabem? Proseamos um bocadinho e tomamos nosso rumo.

Agora toca todo mundo de volta pra casa, pois meus amigos ainda têm que resgatar a Jabis – coitada – que não teve seus préstimos solicitados. Mas, como não podia deixar de ser, moleque é moleque. Sempre. E ali tínhamos dois. Sob a batuta de um bom rock, eu e o Flavião, já devidamente municiados com uma breja cada um, simplesmente nos acomodamos no banco de trás e deixamos que a Carina, motorista da vez, nos trouxesse de volta.

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E as pessoas na rua olhavam. Não só por conta do Opalão, vulgo Cruzador Imperial. Não só por conta do rock comendo solto. Não só por conta da gata com cara de séria dirigindo a barca. Mas, especialmente, para o conjunto da situação, com os dois folgados muito bem acomodados lá atrás, com suas brejas, e o semblante de dever cumprido estampado nas faces…

E assim termina o conto de hoje crianças. Finalmente demos início à Fase Cinco, ou seja, retífica, montagem e funcionamento do motor! O caminho ainda será longo, com muitos percalços, tenho certeza. Mas quando acreditamos naquilo que queremos e temos determinação o suficiente para não esmorecer, jamais, então um dia certamente seremos recompensados com o fruto dourado dos nossos esforços! Ou, no meu caso, alaranjado… Mas, mais importante que tudo, sempre é imprescindível saber que podemos contar com o auxílio dos nossos verdadeiros amigos, sempre dispostos a ajudar, custe o que custar.

E vamo que vamo!

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