“Têje preso!”

Eis um interessante pedido de habeas corpus. Trata-se de um advogado que acompanhou seu cliente até um distrito policial e, em dado momento, recomendou-lhe que ficasse em silêncio, reservando-se o direito de somente se manifestar perante um juiz. O delegado (que não gostou nem um pouco disso) mandou o advogado sair da sala – e este se recusou, resultando daí outras consequências. Dá até pra imaginar o diálogo:

– Doutor, já que seu cliente não vai falar mais nada, nem é preciso que o senhor fique aqui. Queira sair da sala, então.

– Não.

– Ora, doutor, nada mais há a ser feito por Vossa Senhoria. Queira deixar a sala para que a gente continue uma conversinha aqui…

– Naaaaumm.

– DOUTOR. Eu já falei mais de uma vez! Saia da sala, pois o senhor tá é zoando meu barraco! Dou trinta segundos pra que me obedeça!

– Hmmmm… Naaaaumm.

– AH É! ENTÃO TÁ BOM! TÊJE PRESO POR CRIME DE DESOBEDIÊNCIA!!!

Mas deixemos de lado o fértil campo da imaginação, e vamos ao trecho que interessa do acórdão em si (Colégio Recursal Criminal do Foro Central – 2ª T.; HC nº 32/05-SP), lembrando que “paciente”, neste caso, é o próprio advogado:

A ordem merece ser concedida.

Restou incontroverso no termo circunstanciado de ocorrência elaborado que o paciente, na data dos fatos, compareceu ao 9º Distrito Policial acompanhando cliente seu investigado em inquérito policial em andamento naquela repartição.

Iniciou-se ato de acareação entre o cliente do paciente e outra pessoa. Em dado momento o paciente – por motivos que não cabe discutir neste feito – dirigiu-se a seu constituinte e recomendou que nada mais respondesse. A Autoridade Policial questionou o averiguado e este ratificou que, de fato, nada mais iria responder.

A partir de então se iniciou a querela.

A Autoridade Policial, conforme por ela própria lançado em suas declarações (fls. 52), assim se manifestou: “… disse ao Dr. J. – paciente – que em razão daquela decisão de foro íntimo do Defensor, sem que tivesse consultado o averiguado, pedi para que saísse do cartório, evitando assim o transtorno que se avizinhava, uma vez que, como o averiguado nada mais iria declarar, estava cessada a assistência daquele nobre causídico; que de forma veemente e inopinada, respondeu que não iria sair; novamente pedi para que deixasse a sala e o Dr. J. novamente respondeu que não o faria; que disse ao Dr. J. que estava dando a ele trinta segundos para que cumprisse a ordem legal, visando não tumultuar os trabalhos, que, reitero, estavam nos estertores, e novamente disse que não sairia (…). Findado o prazo de trinta segundos, disse a ele que estava preso por desobediência”.

A questão que se coloca é a seguinte: poderia a Autoridade Policial proferir ordem de tal natureza? E, em consequência: esta ordem revestia-se de legalidade, de forma a caracterizar, pelo seu não-atendimento, o crime de desobediência?

Tenho convicção de que as respostas para estas duas questões são negativas.

Com efeito, o advogado, como é cediço, presta em sua atividade privada serviço público e exerce função social, sendo inviolável por seus atos, que constituem múnus público, e manifestações, nos limites da lei.

Suas prerrogativas – que na verdade não são particulares ou privilégios, mas garantias ao bom desempenho da função, em favor do cidadão – estão estatuídas no art. 7º da Lei nº 8.906/94 (EOAB).

Entre seus direitos encontram-se o de ingressar livremente nas salas de sessões de tribunais, de audiência, cartórios e delegacias, bem como o de retirar-se, independentemente de licença, de quaisquer destes locais.

Inexiste entre advogado e qualquer outra Autoridade relação de subordinação, cabendo a todos, tão-somente, o dever de urbanidade.

Por outro lado, constitui dever ético do advogado (art. 31, § 2º, do citado diploma legal) não se deter no exercício da profissão por receio de desagradar a Magistrado ou a qualquer outra autoridade.

No caso em análise não se observou, de parte do paciente, qualquer conduta que pudesse ensejar tumulto ao ato de polícia judiciária, pois se limitou a orientar o seu constituinte a proceder de forma permitida pela lei e pela Constituição Federal – manter-se em silêncio -, o que vai ao encontro do dever de prestação de assistência jurídica adequada.

Se assim é, inexistiu fato que pudesse ser considerado desestabilizador da ordem e que eventualmente poderia fundamentar, para o seu restabelecimento, a retirada do agente da sala onde se realizavam os trabalhos.

A circunstância de ser o Delegado de Polícia titular da sala na qual eram colhidos os elementos probatórios de inquérito não lhe facultava, somente por esta circunstância, ordenar ao paciente a saída do local.

A uma porque, conforme já ressaltado neste voto, o ingresso – e saída – do advogado, no exercício de sua atividade – como no caso em análise – em repartições públicas em sentido amplo, independe da autorização de quem quer que seja.

A duas porque, ao contrário do que a Autoridade Policial fez consignar em suas declarações no termo circunstanciado de ocorrência, a atuação do paciente ainda não havia sido finalizado e as pessoas ouvidas não tinham sido dispensadas.

Incumbia ao paciente, portanto, ainda no pleno exercício da assistência jurídica para a qual foi contratado, acompanhar a finalização dos trabalhos, até mesmo para verificar a ocorrência de eventuais erros na lavratura do termo e requerer, pela ordem, a retificação.

Conclui-se, assim, que a ordem proferida pelo Delegado de Polícia ao paciente, para que se retirasse da sala em que era produzida prova inquisitorial, era manifestamente ilegal, o que implica a não subsunção da conduta ao tipo do art. 330 do Código Penal. Neste sentido a jurisprudência é pacífica.

Questão de relevância

De repente, não mais que de repente, lá estava eu envolvido numa reunião de condomínio. Num prédio de mais de cem apartamentos conseguiu-se reunir o número mínimo legal de representantes suficientes para votar a destituição do síndico. Resolveram acabar com o jugo arbitrário que até então ele vinha exercendo, tomando decisões a seu bel prazer, desrespeitando a própria convenção do condomínio, fazendo terrorismo com os condôminos, falsificando atas de reuniões, faltando para com a verdade de um modo mais amplo possível e imaginável. A gota d’água aconteceu minutos antes dessa assembléia, quando não foi possível que os presentes entrassem no salão de reuniões pela porta da frente (sendo-lhes relegada a entrada pela copa), eis que o síndico – sabedor desse encontro – simplesmente pegou a chave do salão na portaria, enfiou no bolso e saiu, como se fosse dono e senhor absoluto do pedaço.

Mas isso não é relevante.

Num ato comemorativo à destituição do síndico (deposto por unanimidade dos presentes) eis que sentamo-nos à mesa de uma movimentada padaria, rodeados pelos mais diversos tipos de pessoas, falantes, caladas, tristes, alegres, sóbrias, bêbadas, e de repente, não mais que de repente, meu amigo, chapa, camarada e copoanheiro, recebeu uma ligação de uma antiga paixão e, depois de muitos anos, parece que uma pequenina chama ainda arde no peito de ambos. É o tipo de coisa que se percebe pelas palavras ao telefone, pelo olhar perdido no vazio, pelo sorriso que involuntariamente escapa dos lábios, pela alegria com que fala da pessoa após a ligação, rememorando os velhos tempos.

Mas isso também não é relevante.

Estando lá eu sentado, aguardando o fim da ligação do parceiro (e eventualmente metendo meu bedelho na conversa), eis que de repente, não mais que de repente, o rapazola da mesa ao lado, nitidamente bêbado (ou talvez cheirado, pelo jeitão dos olhos e das narinas), virou pro meu lado, se apresentou e resolveu puxar um proseio sobre política. Comigo. Resolvi dar trela pro desinfeliz. Tentou portar-se de modo democrático, fazendo parecer num primeiro momento que ouvia algo do que eu falava, mas logo em seguida passou a defender uma linha de raciocínio de que existiam políticos sacrossantos, quase merecedores de canonização de tão dedicados, desinteressados e incorruptíveis. Argumentei que na vida real não era bem assim, que é lógico que na política da mesma maneira que existe gente muito boa também existe gente muito ruim, mas que não deveríamos ver o mundo de um modo simplista, em preto e branco, mas sim de acordo com suas diversas nuances de cinza. Ainda assim, continuou com seu palavrório falando do “nosso querido” governador e futuro presidente (“seu”, eu corrigi), do “nosso querido” prefeito e futuro governador (“seu”, corrigi novamente), mas acabou por perder a esportiva quando fizemos (a essa altura a ligação já havia acabado) perguntas simples acerca de medidas óbvias que os “queridos” políticos dele simplesmente não tomaram, ainda que cientes. Chegou ao ponto em que resolvemos deixar o ébrio de lado, viramos as cadeiras e voltamos à nossa conversa, deixando-o a resmungar consigo próprio. Suas últimas palavras foram algo do tipo “todo petista é nordestino, analfabeto e ladrão”.

Mas nada disso é relevante.

O que de fato tem relevância é quando você vê que o caboclo que passou os últimos dez minutos enchendo o saco com seu discurso teocrático direitista xiita simplesmente derramou um copo inteirinho de cerveja no próprio colo (sim, a calça parecia ser de marca) e levantou meio que escorregando para ir embora. E mais. Passados outros dez minutos, quando também decidimos ir embora, estavam o frangote e seu amigo anabolizado brigando, meio que de escanteio, ali na área do caixa porque não conseguiam ter coordenação motora o suficiente para passar o cartão na maquininha. “Eu sei que você até tem o direito de chamar a polícia, mas sem pagar a conta daqui vocês não saem”, foi o que ouvimos. Não tivemos dúvida. Pagamos nossa conta, olhamos para os olhos injetados e furiosos do rapazelho, e, sorridentes, em uníssono dissemos para a moça do caixa: “ENTÃO TÁ TUDO CERTO E PAGO. OBRIGADO, VIU?”.

Há muito tempo que eu não ria tanto ao sair de algum lugar…

Introspecção

Dragão afetando o equilíbrio...De quando em quando bate aquele sentimento de instropecção absoluta. Do tipo síndrome de interior de casca de tartaruga mesmo. Aquelas coisas de oncotô, quicofaço, poncovô… Nessas horas me valho do bom e velho Richard Bach, num livro que – pra mim – é velho como o tempo, pois já perdi a memória de quando o li pela primeira vez, ainda na minha infância. Mesmo no atual momento e de acordo com as coisas pelas quais venho passando, ainda assim tem algumas tiradas que SEMPRE me faz pensar…

Aprender
é descobrir
aquilo que você já sabe.
Fazer é demonstrar que
você o sabe.
Ensinar é lembrar aos outros
que eles sabem tanto quanto você.
Vocês são todos aprendizes,
fazedores, professores.

– # –

Você
ensina melhor
o que mais precisa
aprender.

– # –

O
melhor meio
de fugir à responsabilidade
é dizer: “Tenho
responsabilidades”.

– # –

Você é levado
em sua vida
pela criatura viva interior,
o ser espiritual brincalhão
que é o seu ser verdadeiro.
Não dê as costas
a possíveis futuros
antes de ter a certeza de que não tem
nada a aprender com eles.
Você está sempre livre
para mudar de idéia e
escolher um futuro, ou
um passado
diferentes.

– # –

Não existe
um problema que
não ofereça uma dádiva
para você.
Você procura os problemas
porque precisa das dádivas
por eles oferecidas.

– # –

O laço
que une a sua família verdadeira
não é de sangue, mas
de respeito e alegria pela
vida um do outro.
Raramente os membros
de uma família se criam
sob o mesmo
teto.

– # –

Nunca lhe dão
um desejo sem também
lhe darem
o poder de realizá-lo.
Você pode
ter de trabalhar por ele,
porém.

– # –

Cada pessoa,
todos os fatos de sua vida
ali estão porque
você os pôs ali.
O que fazer
com eles cabe a você
resolver.

– # –

Eis aqui
um teste para verificar
se a sua missão na terra está
cumprida:
Se você está vivo,
não está.

Algarismos

Segue uma pequena contribuição da categoria “Pérolas da Cultura Inútil” encaminhada pelo amigo Xina. Não sei se realmente procede a informação (até porque não consegui contar todos os ângulos), mas até que é interessante…

Há mais de 1000 anos um sábio homem do Marrocos idealizou desenhos para os algarismos de 0 a 9, conhecidos hoje como algarismos arábicos.

Ele os desenhou de forma a que cada um tivesse um número adequado de ângulos.

O Número 1 tem um ângulo, o número 2, dois ângulos, o 3, três ângulos e assim por diante.

O zero não possui ângulos.

B1. I – História e Evolução do Computador

A SEGUNDA GERAÇÃO (1958 – 1964)

Construídos com Transistores (inventados em 1948 nos Laboratórios Bell, EUA) utilizando a técnica do circuito impresso, eram chamados de computadores de estado sólido (pois as válvulas trabalham a base de um gás). Tornaram-se mais compactos e rápidos, além de apresentarem um menor consumo de energia e aquecerem bem menos que os da Primeira Geração.

Utilizavam como linguagem de programação as linguagens de montagem (assembly) e algumas das chamadas de alto nível, como o COBOL (Common Business Oriented Language), ALGOL e FORTRAN (Formula Translator). Começaram a ser utilizados como memória os núcleos de ferrite, a fita magnética e os tambores magnéticos.

São exemplos clássicos dessa geração o SIEMENS 2002, lançado em 1958 na Alemanha, e os IBM 1401 e IBM 7094, lançados pela IBM, que chegou a comercializar mais de dez mil unidades dessas máquinas. É dessa época também o surgimento da primeira de uma série de máquinas das quais mais tarde se originaria o primeiro minicomputador – o PDP-1 – da Digital Equipment Corporation (DEC), em 1959.

Apesar das melhorias, ainda apresentavam vários problemas, como a limitação da capacidade de dados (memória).


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“Dois pra subir, senhor Spok”

Essa eu pincei lá do blog do Marco:

Já ouviram falar num treco chamado Teleportec? Vi esse negócio em funcionamento ontem e fiquei besta. Sim, mais ainda. Estava cobrindo um evento, e os organizadores anunciaram que um dos palestrantes participaria a partir de seu escritório em Dallas, via Teleportec. “Tucanaram a videoconferência”, pensei. Bobagem minha. Nem o equipamento nem o palestrante eram banais. Manjam pára-brisa de lancha? Então. Imaginem um pára-brisa de lancha de cabeça para baixo e com a parte côncava voltada para a platéia, incrustado num púlpito de madeira. Aparentemente era só isso o tal Teleportec: vidro e madeira. Bestagem, frescura de design. Pelo menos até o momento em que foi posto em funcionamento: de repente, vindo do nada, o palestrante materializou-se atrás do púlpito. Sorridente, mãos apoiadas sobre o tablado, um pouco transparente aqui e ali, o homem parecia um fantasma camarada. Pelo que me explicaram, o funcionamento do equipamento é relativamente simples: o palestrante se posta frente a um fundo verde, como no velho truque do cromaqui. Na outra ponta, a imagem é projetada no vidro sem o fundo. Como o vidro é transparente, a imagem projetada se sobrepõe ao fundo local (no caso de ontem, as cortinas do teatro). O formato do vidro, dobrado nas laterais, completa a ilusão de três dimensões. Coisa do cão.