A Verdade Nua e a Parábola

Nesses nossos tempos em que o discurso midiático tem deixado muito a desejar (aliás a revista Língua Portuguesa deste mês tem um ótimo artigo sobre isso), segue um texto bastante interessante, descaradamente copiado lá do Blog do João David:

A Verdade Nua caminhou pela rua um dia.
As pessoas viraram o olhar para outro lado.

A Parábola chegou, adornada e bem vestida.
As pessoas a saudaram com alegria.

A Verdade Nua sentou-se solitária, triste e despida.
“Por que você está tão triste?” – perguntou a Parábola.

A Verdade Nua respondeu: “Não sou mais bem-vinda.
Ninguém quer me ver. Eles me expulsam de suas portas.”

“É difícil olhar para a Verdade Nua” — comentou a Parábola.
“Deixa-me vesti-la um pouco. Certamente, você será bem recebida”.

A Parábola vestiu a Verdade Nua com um vestido fino feito de narrativa, com metáforas, uma prosa incisiva e enredos cheios de inspiração.

Com riso e lágrimas e aventura a se revelar, juntas elas começaram a desfiar uma estória.

As pessoas abriram suas portas e serviram a elas o que havia de melhor.
A Verdade Nua vestida de estória era uma convidada muito bem-vinda.

(Conto judaico, readaptado por Heather Forest)

Incapacidade jurídica

Há pouco tempo rolou um proseio com amigos acerca da falta de capacidade de uma boa parcela dos advogados hoje em dia. Tanto os velhos de guerra quanto os recém-formados (basta ver a taxa de reprovação do último exame da Ordem em São Paulo – mais de 80%).

Confiram algumas pérolas recentes relativas a indeferimento da Inicial num Fórum:

  • ação de reconhecimento de paternidade consensual;
  • pedido de alvará para declaração de herdeiros;
  • ação de reconhecimento e dissolução de sociedade de fato (sem declinar o nome do réu).

 
Isso sem falar nas inúmeras ações que simplesmente não possuem o valor da causa ou, ainda, aquelas que após descrever tudo, tudo, tudo, não pedem a citação da parte contrária.

A boa notícia é que isso prova que não é preciso necessariamente ser o melhor, basta saber o que faz – pois tem muita gente ruim no mercado…

Microconto e nanoconto

O amigo Bicarato já tinha falado sobre isso outro dia. Primeiro no site, depois no boteco. Fui lá conferir (no site), e gostei.

O “princípio” do microconto é algo como conseguir expressar uma idéia (um conto) num limite máximo de até 150 caracteres. Não, não estou falando em palavras – estou falando em caracteres! É dífícil, pois força o escritor a trabalhar com as palavras de tal forma que o leitor consiga inferir toda uma situação muito mais ampla do que a que está contida naquela pequena frase. No Portal dos Microcontos existem links para diversos outros sites do tipo.

Na realidade criar um microconto é potencializar o poder de síntese quase que no limite. Só não digo que é no máximo, porque ainda temos os nanocontos. Parte exatamente do mesmo princípio, mas seu limite é de – pasmem – 50 caracteres!

Lá na Casa das Mil Portas – onde os contos são visualizados através de um sistema randômico (o Bica adorou isso) – tem inúmeros exemplos desses nanocontos. Segue um curtinho (é lógico), de autoria de um certo Gabriel Ramalho:

“Hoje não meu bem. E virou de frente para ele.”

Equacionando a imaginação

Outro dia, participando de um curso que nesse momento tem uma forte tendência ao economês, estávamos a falar sobre como se forma o PIB (Produto Interno Bruto), bem como de seus componentes. Uma das coisas que “aprendi” é que:

” Renda + Crédito = Propensão ao Consumo “

Sei não. Isso vem me parecendo mais um enfoque psicológico que qualquer outra coisa. É o caboclo que se sente mais seguro e acaba resolvendo gastar por conta disso. Mas, quer eu queira ou não, essa equação aí é uma das engrenagens que movimenta nossa economia.

Daí eu fico a me perguntar que outras “equações” seriam possíveis de se formar com um pouco de imaginação. Por exemplo: estabilidade gera segurança que gera tranquilidade que pode gerar falta de vontade/compromisso (apatia) que gera relaxamento que gera produção ineficaz (serviço porco) que gera bronca do chefe que gera discussão que gera xingamento que gera desemprego (pé na bunda) que gera pobreza que gera desespero que gera alcoolismo…

Hm? A equação final seria que “estabilidade = alcoolismo”?

Credo. Deixa eu ficar no meu juridiquês mesmo…