Velinhas virtuais

E não é que hoje, fazendo uma atualização deste nosso cantinho virtual, enquanto subia alguns textos antigos do finado Ctrl-C, me caiu a ficha!

Agora em agosto faz onze anos que subiu ao ar o seu primeiro número (na verdade foi a edição 00).

Ou seja, já tem um bom tempinho que venho martelando assuntos que, cada vez mais, vão ficando em voga – tais como compartilhamento de informações, software livre, etc…

Com certeza não fui o primeiro a bater nessa tecla e – pior – nesse meio tempo não consegui ser tão ativista quanto gostaria – certo, Bica?

Mas tenho lá dado meus pitacos…

Fora isso – e essa passou em branco – já se vão treze anos (sempre gostei desse número!) desde que conheci a Dona Internet. De madame turrona e desajeitada, lá no começo, acabou por se tornar uma mocinha esguia e pra lá de faceira!

Enfim, este post foi só pra registrar o momento.

Mais tarde brindarei a isso!

Ferpeitamente!

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                              INFORMATION MUST BE FREE !

 
Em tempo: Depois de muito tempo, muita atualização e muita conta já não sei mais se essa conta bate…

Rede Globo, Ubuntu e software livre

Foi lá no Trezentos que vi o que o Paulino Michelazzo falar sobre isso.

Conforme explica, o software livre – e seus conceitos básicos – já não é mais aquela coisa só de (e para) nerds. Já é utilizado por empresas, escolas, governos e um sem número de outras pessoas (tanto físicas quanto jurídicas). Mesmo lá no setor em que trabalho já está instalado na quase totalidade das máquinas.

Mas, nas suas palavras, “(…) sem querer a Rede Globo deu uma palinha gratuita para todos os que assistiam o início das transmissões da copa do mundo do que é o software livre. Em matéria do jornalista Renato Ribeiro recheada de belas imagens do continente africano, explicou-se até com certa acuidade a palavra Ubuntu originada em idiomas Bantu falados no continente. | Mais que uma logomarca de um sistema operacional, Ubuntu é uma filosofia de vida compartilhada não somente pelos africanos, mas por todos aqueles que acreditam na coletividade e no compartilhamento, não só de software, mas também de idéias e conhecimentos e muito bem explicada por Nelson Mandela.”

Ora, a distribuição Ubuntu traz o espírito dessa própria palavra, eis que suas traduções podem alcançar significados tais como “humanidade para os outros” ou, ainda, “sou o que sou pelo que nós somos”.

Aliás, vamos combinar: esse logo – para quem ainda não o entendeu – representa bem isso, pois são três “pessoinhas” dando as mãos!

Mas vejam vocês também o dia em que a Globo, vênus platinada do capitalismo, falou abertamente sobre software livre – sem saber que o estava fazendo…

Modern(a)idade…

Depoimento encantador. A íntegra tá aqui, mas segue uma palhinha:

Meu nome é Wilson Marques, tenho 69, sou de Natal-RN, atualmente aposentado ingressei no mundo da informática a 3 anos num curso para idosos. Minha pretensão é preencher a mente… não ficar parado e, me divertir a valer. Eu baixei o Photoshop mas não aprendi a usá-lo. Na busca por algo parecido, deparei-me com o GIMP. Foi uma surpresa ver aquelas janelas. Pensei que era defeito. Mas, no primeiro dia, já consegui baixar uma foto na tela de pintura… e ai começou. Descobri Curvas, Contraste, Brilho, e fui me aprofundando. Saí esmiuçando o que encontrava na INTERNET. Cheguei até o Cria Livre e me inscrevi no curso. Adquiri conhecimentos em tempo record. E para mostrá-los gostaria de compartilhar um pouquinho do meu aprendizado.

Why I want my daughter be a hacker

Artigo recortado-e-colado lá do Blogaro! – até porque tenho três filhos…

E, sim, no sentido deste texto eu também quero que eles sejam hackers!

😀

Ontem no caminho de casa, eu li um post de um blog com o título “Why I want my daughter to be a hacker” onde o autor falava sobre os motivos de ele querer que a filha seja uma hacker, mas não no sentido apenas de hacker de computador, mas no âmbito geral.

Eu, pai de duas bebês, estava pensando nesse assunto desde que ela nasceu. Qual a melhor forma de educá-la para a vida ? E eu estava com algo bem próximo do que ele falou em mente.

O que é um hacker, e o que eu quero ensinar às minhas filhas?

Um hacker é uma pessoa que lê um artigo e questiona-se a si mesma sobre a veracidade do fato. É uma pessoa que tem um senso crítico aprimorado. Se é dito a um hacker como ele deve agir, ele faz só se concordar. É um curioso e investigador por natureza. Se minhas filhas tiverem essa característica, eu vou certamente dar-lhes a oportunidade de desenvolvê-la.

Hackers são curiosos e investigadores. Se eu der um rádio, vou explicar o funcionamento, falar sobre ondulação, etc. Aprender não ocupa espaço e em uma mente jovem e capaz, as coisas são aprendidas com rapidez. Hackers não se satisfazem no uso de uma ferramenta, mas no entendimento e muitas vezes construção de uma.

O computador delas – quando tiverem um 😉 – vai rodar linux ? Claro!

Eu sei, e tenho certeza, que um hacker não precisa usar linux, mas linux e o movimento open-source têm muita relação com o hacker. As ferramentas abertas, sendo abertas, te dão todo o poder de modificá-las se for assim quisto. O sistema aberto idem. Os sistemas proprietários não dão essa possibilidade. Eu não posso, por exemplo, alterar o kernel de um sistema proprietário. Se eu comprei um hardware, ele é meu, e eu posso usá-lo e fazer dele o que me der vontade. Hackers dão suporte a sistemas abertos pois gostam da liberdade. Eu dou suporte pois quero que minha filha possa usar ferramentas sem limitações.

Antes de qualquer discurso como “existem sistemas mais fáceis”, ou coisa do gênero, eu digo: Podem existir. Eu quero que as minhas filhas sejam cabeças pensantes e não cabeças que pensam o que lhes foi dito. Um hacker não pensa o que lhes ensinaram, mas ele é um desenvolvedor. Desenvolve suas teorias, seus pensamentos. Ele adquire conhecimento e não simplesmente recebe. Conforme dito no texto original, os hackers preferem a habilidade ao conhecimento, pois o conhecimento, quando necessário será adquirido. Um hacker é um pensador e não um repetidor.

Talvez uma das coisas que me fez gostar do texto é dele lembrar eu mesmo. Eu me lembro de mim ao ler esse texto. Lembro dos problemas e sucessos pelo comportamento hacker.

Um hacker não é um rebelde/revoltado. É um pesquisador, cientista. É um curioso que tem sua opinião e age pela própria cabeça.

Aliás, aqui está a referência do post inspirador: Why I want my daughter to be a hacker.

E termino com a frase de praxe:

Happy hacking!

Governo dos EUA conclui que a maioria dos estudos sobre a pirataria são bobagem

Direto daqui:

Sabe aqueles estudos financiados pela RIAA, BSA, MPAA e outros representantes dos grandes estúdios e distribuidores de conteúdo? Eles aparentemente acabam de ser desmoralizados por uma instância que talvez tenham que levar a sério: um relatório do GAO, braço investigativo, avaliador e auditor pertencente ao legislativo federal dos EUA.

A matéria do OS News é um pouco longa, e meu resumo traduzido não lhe fará justiça, por isso recomendo que você a leia integralmente, e siga os links dela para mais informações.

Ainda assim, para resumir, o Congresso dos EUA decidiu, há cerca de um ano, mandar o GAO pesquisar sobre a inundação de relatórios das entidades representantes dos estúdios descrevendo os malefícios que a pirataria causa à economia, fartamente reproduzidos na imprensa e certamente influenciando as políticas públicas a respeito.

E a investigação mostrou que (a) estes estudos estão recheados de imprecisões, inverdades e opiniões não comprovadas, e (b) não há certeza de que a pirataria é ruim para a economia como um todo – é até possível que ela traga efeitos positivos gerais, e inclusive para os estúdios.

Uma das afirmações cuja veracidade não foi confirmada pelo relatório é a velha história de que cada música copiada era uma música que deixava de ser vendida. E há muito mais, leia lá!

Mas vale destacar: embora questione todos os estudos que analisou, o GAO não está dizendo que a pirataria não é um problema. Hoje ela é um aglomerado de problemas – especialmente quando ocorre em escala industrial, eu acrescentaria – MAS as quantificações e conclusões já apresentadas sobre ela são falhas, ao contrário do que seus autores querem que eu, você e o governo acreditemos. (via osnews.com)

Petrobrás implanta BrOffice em 90 mil máquinas

Direto daqui:

A Petrobras iniciou neste mês o processo de instalação do BrOffice.org em seu parque de máquinas, estimado em 90 mil computadores. As instalações do programa de código aberto, que pode ser baixado e usado gratuitamente por empresas e usuários domésticos, devem estar praticamente concluídas em aproximadamente dois meses. Ao todo, o novo software contemplará um público interno de cerca de 100 mil pessoas, que serão, inclusive, capacitadas para o uso da nova ferramenta. A estimativa é que o processo gere uma redução de pelo menos 40% na demanda de aquisição de licenças pagas de software proprietário equivalente.

De acordo com a coordenadora de projetos de Tecnologia da Informação da Petrobras, Márcia Novaes, a adoção do BrOffice.org se deu a partir das análises de viabilidade técnica da ferramenta, que concluiu que o software tem maturidade tecnológica e é adequado às necessidades da companhia. Entretanto, o fator determinante foi o econômico, afirma Márcia. “Também definimos a mudança de padrão interno de documentos e adotamos o ODF, que é um padrão aberto com especificações de domínio público, plenamente suportado pelo BrOffice.org”, completa.

“Para que a novidade seja rapidamente absorvida pelos usuários, o projeto prevê três fases, conforme esclarece o analista líder do projeto, Gil Brasileiro. Na fase atual, a de instalação do BrOffice.org, os aplicativos apenas estão sendo acrescentados nas máquinas e os usuários comunicados de que existe uma nova ferramenta. Na segunda fase, haverá uma campanha de estímulo ao uso, prevendo treinamento de pessoal. Por fim, a última etapa será de adequação de licenças, em que cada setor poderá avaliar as suas reais necessidades e optar por manter o aplicativo atual com custos de licenciamento associados ao departamento.

A coordenadora Márcia esclarece ainda que alguns setores manterão as licenças para esses programas. São as gerências que necessitam de recursos específicos ainda não atendidos pelo BrOffice.org, ou que utilizam programas que dependem dos softwares de planilha e edição de texto proprietários usados atualmente.

“Uma das estratégias de adequação de licença é que, a partir de um determinado momento, os usuários não recebam mais atualizações de software proprietário, apenas o BrOffice.org”, explica Gil. Se houver necessidade de outra ferramenta, o gerente daquela área poderá fazer uma solicitação, justificando o pedido e arcando com os custos associados. Para montar o treinamento dos funcionários, a Petrobras contou com o apoio da OSCIP BrOffice.org. “Pedimos para que fossem mapeadas as maiores dúvidas dos usuários de BrOffice.org”, conta Gil Brasileiro.

Na fase preparatória do planejamento da implantação do BrOffice.org, a equipe da Petrobras teve reuniões com gestores que lideraram processos de migração para o programa em outras empresas, como Metrô de São Paulo, Banco do Brasil, Itaipu e Serpro. Além do BrOffice.org, a Petrobras também migrou para o navegador de internet Mozilla Firefox. Estas duas experiências com software de código aberto, cujo planejamento iniciou em 2008, são pioneiras na Petrobras, em se tratando de estações de trabalho. Em muitos servidores, a empresa já utiliza o sistema operacional Linux.

Tecnologia e aprendizado: uma falácia?

No bom e velho estilo recortar-e-colar, compartilho com meus quase quatro leitores a sempre lúcida opinião do Jarbas, esse grande amigo botequeiro virtual

Tecnologia: dependência e fatalidade

Preocupa-me um discurso entusiasmado de educadores sugerindo que o uso de tecnologias é um fatalidade. A cadeia argumentiva é mais ou menos a seguinte:

1. as novas tecnologias são maravilhosas;

2. abrem horizontes para assimilação de mais informação e conhecimento;

3. crianças e jovens usam-nas naturalmente;

4. o uso delas é preferível a qualquer outra alternativa;

5.  velhas tecnologias morrerão fatalmente;

6. professores precisam utilizá-las;

7. elas devem estar disponíveis o tempo todo nas escolas;

8. quem não usa tecnologia em educação é atrasado.

Minha descrição parece caricata. Não acho. Eu até poderia carregar um pouco mais nas tintas, pois os tecnófilos rezam sempre um credo tecnológico mais ortodoxo que o credo de Nicéia.

Hoje, caiu uma ficha importante sobre consequências da fé inabalável dos tecnófilos. Percebi “on the spur of the moment” que a tecnofilia resulta em aceitação de depedência e em declarações de fatalidade. Isso é contraditório, uma vez que a maior parte do educadores entusiasmados com artefatos tecnológicos são, consciente ou inconscientemente, escolanovistas. E um dos principais itens da fé da Escola Nova é o de que o aluno deve ser o centro de toda a prática educacional.

E onde está a contradição? Ela está num modo de ver as novas tecnologias como invenções científicas e de engenharia portadoras de progresso. Este último lhes é inerente. Ou seja, quem as usa é progressista, quem não as usa ou sugere moratórias para alguns usos é retrógado. Assim, uma vez que as tecnologias são ontologicamente boas, é preciso a elas se converter e proceder de acordo com o que ditam. Isso não é novo. Donald Norman, que já foi vice-presidente de pesquisas da Apple e da HP, chama a nossa atenção para o bordão da Feira de Chicago de 1933:

A ciência descobre, a indústria aplica, os homens se adaptam.

Já nos idos da primeira metade do século passado, a idéia de submissão do humano a conveniências de engenharia (tecnológicas) era um must. Norman, importante cientista no campo das ciências da informação e do conhecimento, denuncia isso. A tecnofilia coloca a tecnologia no centro do palco. O papel dos humanos neste drama é o de submissos personagens que fazem tudo o que o personagem principal determina. Em poucas palavras: no mundo da fé tecnófila as ferrramentas são mais importantes que os seres humanos. Em educação isto significa deslocar o aluno para papel secundário de usuário de tecnologias. O discurso continua escolanovistas, mas a prática nega o ideário inaugurado por Rousseau e concretizado por Dewey.

Alguém dirá que a centralidade do humano se resolverá colocando ferramentas a serviço de seus criadores. Mas esse caminho voluntarista nada muda. A  prioridade continua a ser de máquinas e sistemas. O que é preciso é reconceber a tecnologia a partir de sua gestação. Isso implica em ferramentas bastante diferentes das ferramentas às quais devemos nos adaptar.

Como não posso me estender demais num post, resolvi colocar em Páginas, neste Boteco, um texto de Donald Norman sobre o assunto. Interessados poderão acessá-lo com uma clicada aqui.