Proibir ou modificar livros é um perigo para a própria evolução da humanidade

Se proibirmos o acesso ou modificarmos histórias, acabaremos por esquecer a nossa própria história coletiva. Sem essa memória, quem garante que não acabaremos a repetir os erros dos nossos ancestrais?

Ricardo Almeida
CEO Clube de Autores
7 de Agosto de 2023

Atualmente, assistimos a um movimento que tem modificado livros com muitas décadas de existência. As palavras têm sido alteradas e a liberdade coartada. Mas qual será o impacto desta nova censura para a literatura?

Durante séculos, as severas penas impostas aos que ousassem desafiar a censura para procurar conhecimento impediram avanços incalculáveis para a nossa espécie, forjada, justamente, pela sua capacidade sagrada de aprender e partilhar histórias. Durante séculos, perdemos cientistas, filósofos e questionadores na mesma medida em que coleccionámos atrasos, preconceitos e pecados absolutamente capitais contra a essência da própria alma humana.

Tudo mudou a partir do momento em que o mundo viu caírem, uma a uma, as censuras impostas por tantas religiões e governos. A partir de então – pelo menos nos territórios que passaram a respirar liberdade de pensamento – a partilha ampla de conhecimento, História e experiência explodiu, resultando em evoluções sócioculturais como em nenhum outro momento da humanidade.

Nos dias de hoje, por exemplo, a autopublicação gratuita de livros permite não só que autores dos mais diversos cantos do planeta contem as suas versões, imaginações e vidas, mas também que possam aceder ao estatuto de formadores de opinião, até tão pouco tempo reservado a uma elite intelectual e económica mais interessada em preservar os seus próprios interesses do que em dar voz ativa a todos.

Devemos saudar esta mudança. Devemos abraçar a possibilidade de termos histórias contadas não apenas pelos ditos vencedores, mas por qualquer um que queira partilhar a sua forma de ver o mundo. Devemos agradecer este acesso amplo ao conhecimento, única forma de evitar que esqueçamos os erros do passado e que, assim, caminhemos sempre para a frente.

Mas, infelizmente, a maior lição que a História nos ensinou é que acabamos sempre por esquecer as suas lições. Na belíssima Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, há um exemplar do Index Librorum Prohibitorum – a lista de livros proibidos pela Igreja Católica promulgada em 1559 e constantemente atualizada até 1948, 18 anos antes de ser oficialmente abolida. Ora, eis que surge, agora, um novo Index Librorum Prohibitorum, versão século XXI, da mesma forma que, no passado, as lideranças políticas de muitos países passaram a proibir publicações que contrariassem as suas formas de ver o mundo. Nos EUA, no estado do Tennessee, por exemplo, a administração de uma escola votou por banir o livro Maus: a história de um sobrevivente, sobre o Holocausto, por conter “imagens de nudez e asneiras”. E esse é apenas um exemplo: segundo um relatório da entidade PEN America, 2532 livros foram banidos em escolas americanas entre 2021 e 2022.

Mas não é só de proibição que se pauta esse novo movimento de censura à História. A gigante editorial HarperCollins, por exemplo, decidiu reeditar livros de Agatha Christie, modificando ou retirando por completo excertos que hoje podem ser considerados “inadequados”. Outros autores como Roald Dahl e Ian Flemming, para citar apenas dois outros exemplos, já foram mastigados pela máquina moderna da censura e relançados com textos “mais apropriados” às visões majoritariamente aceitas no mundo.

Qual o óbvio resultado de todo este movimento de censura completa ou reescrita seletiva? Perdemos todos uma janela fabulosa para o nosso próprio passado coletivo, para a forma como as sociedades viam o mundo e as consequências, positivas e negativas, que surgiram a partir dessas visões.

Se proibirmos o acesso ou modificarmos histórias, acabaremos, inevitavelmente, por esquecer a nossa própria história coletiva, as forças que nos fizeram evoluir até o que somos hoje. E, sem essa memória, quem garante que, em breve, não acabaremos a repetir os mesmos erros que os nossos ancestrais, incluindo as tantas perseguições, condenações e guerras que marcaram o percurso humano? É isso mesmo que queremos como espécie?

Os livros são, antes de qualquer coisa, registos dos seus próprios tempos. Mudá-los, no todo ou em parte, é o mesmo que queimá-los. E se isso já era tenebroso no século XVI, é absolutamente inadmissível no século XXI.

Elis, a nova Kombi e meus dois cents

Pois bem, vamos à controvérsia da vez.

Trata-se do recém lançado comercial da “nova” Kombi, que aparece sendo dirigida pela cantora Maria Rita no qual, em meio de flashes e imagens da década de setenta e oitenta, eis que surge sua mãe, a própria Elis Regina, dirigindo uma antiga Kombi e elas passam a cantar em dueto a música Como nossos pais.

Como se já não tivéssemos problemas suficientes neste nosso Brasilzão véio sem portêra, nem bem foi lançado e já começaram a implicar com esse comercial. Pô, gente, o arcabouço fiscal ainda nem foi votado, o país continua dividido e a política no geral parece uma mistura de jogo de xadrez com cubo mágico. Disso tudo somente salva a excelente notícia de que o capiroto está INELEGÍVEL… 😀

Mas tergiverso.

É que de bate pronto já começaram com o MI-MI-MI habitual. O primeiro deles é de que “Oh, mas estão utilizando a imagem da Elis Regina através da Inteligência Artificial!”. Sim, e daí? Com certeza a família autorizou e com mais certeza ainda devem estar levando uma quantia considerável pela utilização da imagem desse nosso ícone nacional. Aliás, não há novidade nenhuma nisso: no filme Rogue One: Uma História Star Wars a atriz Carrie Fisher também foi recriada digitalmente para aparecer como a jovem Princesa Leia. Tudo bem que nessa época ela ainda estava viva e também autorizou a utilização da própria imagem, mas foi muito bom vê-la em ação novinha de tudo!

Outra choradeira é de que a Volkswagen contribuiu com o governo estabelecido na época da ditadura, inclusive disponibilizando veículos e, ainda, explorando de forma cruel a mão de obra operária. Certo, a coisa foi feia. Mas tudo isso gerou ações e indenizações milionárias que ainda estão sendo pagas e décadas já se passaram, a mentalidade de seus administradores é outra e a indústria não pode parar. Aliás, se for para colocar o dedo na ferida, temos que lembrar que o Fusca, maior sucesso de vendas da Volkswagen, somente foi criado graças ao incentivo de ninguém menos que o próprio Hitler. Sinistro… E mesmo assim a empresa jamais saiu de operação.

E, também, não faltou a tentativa de “demonizar” as agências de publicidade! Mas gente, é exatamente para isso que existem esses profissionais, quer gostem ou não! Nas palavras do jornalista Alexandre Inagaki, no Twitter: “E é isso o que os mais habilidosos publicitários fazem, de fato. Capturam tendências e manipulam emoções a fim de movimentar as engrenagens capitalistas. Os redatores e diretores do comercial de Volks criaram uma peça maquiavelicamente brilhante, que emociona e engaja.”

Dentre os comentários, opiniões e surtos de praxe, é até engraçado constatar que tem gente se entendendo proprietária da opinião alheia, se indignando de tal maneira como se conhecedora do que se passava na cabeça da própria Elis e sobre o que ela concordaria ou não. Sobre o que está certo ou está errado e como “deveria” ter sido conduzida essa campanha.

Olha, enfim, é muita teoria da conspiração pra pouco carro. Até porque estamos simplesmente falando de um comercial que, daqui a pouco, vai acabar sumindo da blogosfera. E mesmo essa Kombi, pra mim, não tem cara de Kombi! Parece muito mais a nave auxiliar da Enterprise, de Star Trek, o Galileo Seven…

Na minha opinião é a mesma coisa que aconteceu com o “New Beetle” quando quiseram relançar o Fusca. Aquilo pode ser qualquer coisa, mas não é um Fusca! Essa “New Kombi” pode ser uma van, um utilitário ou seja lá o que for, mas também não é uma Kombi! Pra começo de conversa ela já chega no mercado com um valor estimado de aproximadamente trezentos mil reais. Só. Suuuuuper popular. Já estou vendo os feirantes se estapeando para aposentar a velha corujinha de pneus carecas e assoalho furado para fazer um financiamento e colocar essa nova Kombi para levar as caixas, lonas, cordas e madeirame das barracas de feira…

Só que não.

Enfim, discussões à parte, confiram abaixo o “controverso” vídeo de que estamos falando. Não vou pedir para que os detratores que me perdoem, mas sim que se explodam, porque desse resultado EU GOSTEI MUITO!

E esse alemão me deixa louco…

… ou não.

Mas vamos lá.

Meus pais já estão bem velhinhos.

Isso é fato.

Meu pai, com seus 86 anos completos, até que ainda está razoavelmente lúcido, apesar de o raciocínio estar beeeeeem devagarzinho; porém, fisicamente, está muito debilitado. Não que as condições gerais do organismo não estejam boas, tais como coração, pulmão, circulação, etc. Mas é que nos últimos anos ele simplesmente “desistiu”. Não quis mais saber de executar as pequenas tarefas de casa, de sair, de andar, de tomar sol, de ver gente, de nada. Atualmente só fica deitado. O dia inteiro. E, é lógico, o corpo atrofia, né?

Já minha mãe, com quase 80, fisicamente até que está bem, apesar da batelada de remédios que tem que tomar diariamente. Mas há aproximadamente um mês a cabecinha desarranjou. Teima que “aquele homem” deitado na cama não é o marido dela, que o “verdadeiro” marido saiu e vai voltar a qualquer momento, às vezes não lembra que tem netos, não lembra que tem noras (nesse caso não sei se seria de propósito…), e de quando em quando ainda teima que quer ir embora, pois não reconhece a casa onde ela viveu praticamente desde que casou.

Aparentemente é “esse tal de Alzheimer”

Mas vamos tentar entender melhor essa bagaça. Na prática, “demência” é um termo geral que engloba várias doenças que se manifestam com declínio na memória ou de outras habilidades de pensamento suficientemente severas para reduzir a capacidade de uma pessoa de realizar as atividades diárias, sendo que a Doença de Alzheimer é responsável por aproximadamente uns 70% dos casos de demência. Antigamente a demência era incorretamente referida como “senilidade” ou “demência senil”, o que refletia a crença generalizada, porém incorreta, de que um declínio mental grave seria uma parte normal do envelhecimento.

O nome oficial dessa doença se deve ao médico alemão Alois Alzheimer, o primeiro a descrever a doença, ainda em 1906. Ele estudou e publicou o caso de uma paciente, uma mulher saudável que, aos 51 anos, desenvolveu um quadro de perda progressiva de memória, desorientação, distúrbio de linguagem, dificuldade para compreender e se expressar, tornando-se incapaz até mesma de cuidar de si própria.

E, ao que parece, é “esse tal de alemão” que anda atormentando minha mãe…

Dia desses, por exemplo, ela me ligou e não dizia coisa com coisa, que queria ir embora daquela casa e coisa e tal. Pacientemente falei com ela e acabei desligando. Segundos depois ela ligou novamente com a mesma ladainha. Ainda com paciência, conversamos. E em seguida novamente. A mesma coisa. E depois de novo. E de novo. E mais uma vez. E novamente, de novo, outra vez. Na décima quinta vez (e não, não estou exagerando), simplesmente parei de atender os telefonemas.

Toda essa história foi somente para situar.

Hoje estou aqui na casa de meus pais, dando-lhes suporte para passar este final de semana, no que revezo com meus irmãos nos demais finais de semana. Muito bem. Conectei meu notebook na tomada do telefone e, estando eu na lida com meus processos, vejo minha mãe indo e vindo, passando de um lado para outro, resmungando em voz baixa. É que ela queria ligar para uma de minhas tias para apresentar a ladainha de reclamações de praxe. Tentou o celular (sem bateria), tentou o fixo (desconectado) e já tem coisa de mais de uma hora que ela está com o controle da televisão tentando fazer uma ligação…

E eu aqui, quieto.

Tudo bem, me julguem.

Já sei mesmo que, por essas e outras, devo ir para o inferno.

Mas pelo menos, por hoje, estou conseguindo trabalhar…

Esse povo do Zap ainda me mata…

Gente, vocês têm que prestar mais atenção.

Tubo bem que hoje é Dia das Mães e tudo o mais, mas tem coisa que não se faz.

Olha só, eu participo de um grupo do WhatsApp criado recentemente visando marcar uma festa par reunir todo um povo que trabalhou junto trinta anos atrás! Por mais aguerridos que todos sejam, principalmente no que diz respeito à política, desde o começo já ficou combinado que esse grupo seria bem específico, para matar as saudades, descobrir por onde andam estas ou aquelas pessoas e combinar o dia do evento. E só.

E, ressalvadas raras exceções, o povo até que vem se comportando bem, vá lá. Às vezes um aniversariante daqui, uma dica dali, uma lembrança acolá, e assim vai. Pessoal ajuizado, da velha guarda e na época em que trabalhamos juntos eu mal tinha trinta anos de idade.

Mas gente, mesmo sendo um dos “caçulas” do grupo, eu já passei do meio século de vida!

Já faço parte da turma que é mais convidado para funerais do que para casamentos, meus grupos de amigos tendem mais a diminuir do que aumentar, tenho reservado no guarda-roupa uns conjuntos de “pretinhos básicos” conforme seja a pompa e circunstância da ocasião, até mesmo meu celular já conecta automaticamente na rede wi-fi do crematório local!

Ou seja, fora dos dias e horários comerciais, muito pela manhã ou já à noite, quando toca o alerta do meu celular avisando que chegou mensagem, caramba, isso me gela a alma! NINGUÉM vai te escrever de madrugada dizendo que está com saudades, ou tarde da noite para te convidar para uma festa, ou, ainda, no meio de um domingo modorrento para tratar de algum trabalho pendente. Quando isso acontece, invariavelmente é desgraça ou desgraça. A gente já corre para o telefone pensando em quem morreu, quem foi preso, qual foi o acidente com o carro de quem, se alguém se machucou e assim por diante.

O chegar da idade pode ser, sim, terrível, mas ainda é melhor que a alternativa.

Então, com todo respeito aos mais bem intencionados integrantes desse grupo do qual faço parte, por caríssima e extremíssima gentileza, tenham em mente que SEIS HORAS DA MANHÃ DE DOMINGO NÃO É HORÁRIO PARA COMEÇAR A ENVIAR MENSAGEM DE FELIZ DIA DAS MÃES !!!

E tenho dito.

Pela atenção, esta companhia agradece.

E Rita Lee arrombou a festa!

Em 08/05/23 morreu a Rainha do Rock, o que fiquei sabendo sabendo somente no dia seguinte pela amicíssima Nydia, num grupo de Zap-Zap do qual participamos. Eu sabia que ela andava bem ruinzinha (prestenção: a Rita, não a Nydia), mas não tanto assim. E daí para descobrir que ela já tinha 75 anos! Acho que talvez essa tenha sido a surpresa maior…

Num primeiro momento pensei em dar uma compilada na biografia dela e compartilhar aqui com vocês. Doce ilusão. Muita gente já escreveu sobre isso – inclusive ela própria – e, compilado ou não, bem melhor do que eu teria capacidade. Mas, ainda assim, ficou uma pulguinha atrás da orelha, uma vontade de não deixar essa passagem passar em branco.

Isso porque comecei a curtir as músicas dela lá no finalzinho da década de setenta, quando lançou as maravilhosas músicas Doce Vampiro e, sobretudo, Mania de Você. E cá entre nós, no caso desta, nunca consegui encontrar nenhuma outra cuja letra ou música conseguisse esbanjar tanto tesão e sensualidade de uma só vez.

Então fui dar uma conferida nas catacumbas de meu computador e constatei que só tinha alguns dos álbuns mais famosos dela e daí, bicho fuçador que sou, fui dar um jeito de procurar nos cantões da Internet para baixar a discografia completa. Fuça daqui, fuça dali, finalmente encontrei uma alma abençoada que disponibilizou isso na rede.

Antes de chegar onde quero chegar, vamos abrir um parênteses neste nosso causo. No mesmo disco dessas duas músicas que citei, tinha também, lá no final, a música Arrombou a Festa número 2. Pois sejam benevolentes consigo mesmos, deem um “play” aí embaixo e acompanhem a letra logo a seguir. Já, já eu volto.

Ai, ai, meu Deus
O que foi que aconteceu
Com a música popular brasileira?
Quando a gente fala mal
A turma toda cai de pau
Dizendo que esse papo é besteira

Na onda discothéque da América do Sul
Lenilda é miss Lene, Zuleide é Lady Zu
Pra defender o samba contrataram Alcione
É boa de pistom mas bota a boca no trombone

No meio disso tudo a Fafá vem dar um jeito
Além de muita voz, ela também tem muito peito
E a música parece brincadeira de garoto
Pois quando ligo o rádio ouço até Cauby Peixoto
Cantando: “Conceição…”

Ai, ai, meu Deus
O que foi que aconteceu
Com a música popular brasileira?
Quando a gente fala mal
A turma toda cai de pau
Dizendo que esse papo é besteira

O Sidney Magal rebola mais que o Matogrosso
Cigano de araque, fabricado até o pescoço
E o Chico na piscina grita logo pro garçom:
“Afasta esse cálice e me traz Moet Chandon”

Com tanto brasileiro por aí metido a bamba
Sucesso no estrangeiro ainda é Carmem Miranda
E a Rita Lee parece que não vai sair mais dessa
Pois pra fazer sucesso arrombou de novo a festa!

Ziri, ziriguidum
Skindô, skindô, lelê
Sai da frente que eu quero é comer

A música popular brasileira
Lady Laura
A música popular
Parabéns a você
Parabéns para a música popular

Música popular
Oh, eu te amo
Ah, eu te amo, meu amor
Ai, Sandra Rosa Madalena
Ah, ah, ah, ah
O meu sangue ferve pela
Música popular

Oh, fricote, eu fiz xixi
Fricote, eu fiz xixi
Na música popular
brasileira

Corre que lá vem os “homi”!

Muito bom, né?

O que me encantou nessa música foi o fato de ela brincar com outros artistas, outras músicas e até mesmo outros ritmos, misturando e fervendo tudo num bem humorado caldeirão – e ainda assim sem deixar de ser crítica!

Aliás, uma das curiosidades dessa música é que ela teve como coautor um tal de Paulo Coelho, antes mesmo de se meter a escrever livros. Mas, para mim, o que me incomodava de verdade era o tal do “número dois” do título da música. CUMASSIM??? E o que seria então a “número um”? Até na própria letra ela deixa isso bem claro: “E a Rita Lee parece que não vai sair mais dessa / Pois pra fazer sucesso arrombou de novo a festa!”.

Olha que eu fucei. Durante um bom tempo fucei e escarafunchei pra tudo quanto é canto, mas foi como procurar uma palha num agulheiro. Neca de pitibiriba. Chegou um ponto em que desisti e deixei arquivado na minha mente na pastinha assuntos a resolver que nunca vou dar um jeito.

Até hoje.

Acontece que aquela alma abençoada que citei antes, dentre todos os discos da Rita Lee também disponibilizou algumas “Pérolas” raras, e uma delas foi justamente a música Arrombou a Festa, originariamente cantada ao vivo no álbum Refestança, em parceria com o Gilberto Gil, lá nos idos de 1977 e, do mesmo jeitão que sua sucessora, essa música brinca com os sucessos da época. Então ponham novamente os fones de ouvido (ou não) e brindem-se com essa raridade!

Ai, ai, meu Deus, o que foi que aconteceu
Com a música popular brasileira?
Todos falam sério, todos eles levam a sério
Mas esse sério me parece brincadeira

Benito lá de Paula com o amigo Charlie Brown
Revive em nossos tempos o velho e chato Simonal
Martinho vem da Vila lá do fundo do quintal
Tornando diferente aquela coisa sempre igual

Um tal de Raul Seixas vem de disco voador
E Gil vai refazendo seu xodó com muito amor
Dez anos e Roberto não mudou de profissão
Na festa de arromba ainda está com seu carrão
“Parei pra pesquisar…”

Ai, ai, meu Deus, o que foi que aconteceu
Com a música popular brasileira?
Todos falam sério, todos eles levam a sério
Mas esse sério me parece brincadeira

O Odair José é o terror das empregadas
Distribuindo beijos, arranjando namoradas
Até o Chico Anísio já bateu pra tu batê
Pois faturar em música é mais fácil que em tevê

Celly Campello quase foi parar na rua
Pois esperavam dela mais que um banho de lua
E o mano Caetano tá pra lá do Teerã
De olho no sucesso da boutique da irmã

Bilú, bilú fafá, faró, faró tetéia
Severina e o filho da véia
A música popular brasileira

A música popular
Sou a garota papo firme que o Roberto falou
Da música popular
O tico-tico nu, o tico-tico cu, o tico-tico pá rá rá rá
Música popular
Olha que coisa mais linda, mais cheia de…
Música popular
Mamãe eu quero, mamãe eu quero
Mamãe eu quero a música popular brasileira

Pega, mata e come!

Enfim, pode ser que esta não seja a “revelação do ano” para vocês, pode ser até que nem se interessem por este post depois de tanto tempo sem postar, pode ser o que for que seja, mas o que não pode ser é deixar passar essa data em branco.

E não passou.

E que sua música crítica e sincera continue arrombando os arrombados de sempre!

VALEU, RITA LEE !!!

Bodas de Opala

Bem, mais uma vez vou esclarecer: o termo “bodas” vem do latim. Significa promessa – no caso, os votos matrimoniais, feitos no dia do casamento. Assim, a cada ano que passa, comemoramos o aniversário de bodas, o aniversário daquela promessa feita um para o outro. Em sua origem comemorava-se apenas a de Prata (25 anos) e a de Ouro (50 anos), mas com o tempo foram surgindo outras simbologias para os demais anos.

E cá chegamos nós aos 24 anos de casado – e sem gracinhas, aí no fundo, que eu tô ouvindo… O vigésimo quarto ano de casado é simbolizado pela pedra preciosa Opala. Não há uma cor definida para essas bodas, pois essa pedra possui uma grande variação de cores, parecendo um verdadeiro arco-íris. Ela é constituída de um material muito resistente, que para chegar até essa condição passa por diversas fases, da mesma forma que acontece em um casamento que dura tantos anos. Afinal, não é nada fácil permanecer por mais de duas décadas com alguém do seu lado, mantendo o sentimento forte o bastante para continuarem na caminhada juntos!

Mas, particularmente, ainda prefiro a definição de Ailin Aleixo, na orelha do livro Balde de Gelo, de Daniela Macedo & Marco Aurélio: “A vida a dois não é complicada. Complicado é sambar em descida. A vida a dois é um milagre, isso sim. Só vivendo pra entender o que é aguentar maus humores, parentes, cachorro pentelho, ciúmes, amigos intrometidos. Mas também é só vivendo que se compreende a delícia de chegar em casa depois de um dia corno e encontrar quem se ama, receber cafuné assistindo filme, soltar pum sem precisar pedir desculpa. E (…) todos esses ingredientes misturados com graça, leveza e humor – atributos indispensáveis para a sobrevivência de qualquer relação. E de qualquer um.”

Já contei a minha história com a nossa querida, amada, idolatrada, salve, salve Dona Patroa (com direito a muitas fotos) por mais de uma vez aqui neste nosso cantinho virtual, em especial nos textos “Bodas de Marfim”, “Bodas de Louça” e “Bodas de Palha” – é só dar uma fuçada básica no blog e pronto!

Mas sempre me divirto ao recordar da seguinte passagem, lá dos idos do dia 12/12/1998, nas dependências do restaurante rural Coelho e Cabrito, quando formalizamos nossa união perante os homens e perante Deus. Aliás, logo após a cerimônia civil e sem que tivesse chegado o pastor que faria um culto ecumênico (pois ele se perdeu no caminho lá no meidumatu…), chamamos todos os convidados para que se sentassem e começassem a se servir. Então, quando todos já estavam acomodados, eis que o pastor chegou. Pediu desculpas aos presentes e falou suas palavras. O que rendeu o inesquecível comentário do Luisinho, nosso padrinho:

“O melhor casamento que eu já fui foi o da Mieko e do Adauto. Enquanto o padre falava a gente estava lá, sentadão, com o copo de cerveja na mão!”

E para não perder a oportunidade, pois sei que quem me conhece já deve estar esperando a “piada pronta”, NÃO, as Bodas de Opala do nosso casamento não tem nada a ver com o MEU Opala, mais conhecido como Titanic – a Lenda. Até porque, entre nós, estamos apenas nas Bodas de Cristal… 😉