Não é mais possível fazer vista grossa à violência perversa de Bolsonaro

Jorge Coli

Em contabilidade sinistra, presidente se opõe à ciência e minimiza perigo de coronavírus

Churchill teria dito uma frase assim: “Ele é tão cretino que até a turma dele acabou percebendo”. Cai como uma luva para a atual situação de Bolsonaro, cada vez mais isolado no poder.

Porém, Bolsonaro não se caracteriza apenas por ser cretino. Além de pascácio, seu universo mental é pervertido. Bolsonaro tem as características dos piores ineptos: aqueles que são desumanos. A tal ponto que alguns políticos reles, pelo contraste, estão parecendo nem tão indecentes assim!

Começamos, no Brasil, a contar para além de 2.000 os mortos por coronavírus. Sabemos que esses números são inferiores à quantidade real de vítimas e não passam de indicadores: falta de testes; autópsias não podem ser feitas por risco de contaminação; hospitais não comunicam, ou não conseguem identificar, todas as causas mortis; entre outras razões.

Sem contar que, por esse Brasil afora, em lugares perdidos ou desfavorecidos, quantos não morreram e vão morrer sem que se saiba a causa. Portanto, o número de vítimas é alto, mais alto ainda do que dizem os indicadores tenebrosos.

Muitas dessas mortes foram causadas pelas afirmações absurdas, contrárias a tudo o que a ciência diz, e que Bolsonaro insistiu em proclamar, em divulgar até mesmo oficialmente, por meio de cadeia nacional, minimizando, em nome da economia, o perigo que o contágio representa.

Gripezinha, resfriadinho que não o abateria, um super-homem com passado de atleta (quando tantos verdadeiros atletas pelo mundo, e jovens, já se foram, vitimados pela Covid-19), exibindo falsas flexões em vídeo. E que não causaria danos à grande maioria das pessoas.

“Vai morrer gente, vai”, ele disse, mas apenas os velhos, os fracotes, gente que não conta para a produtividade do país. Sua sinistra contabilidade define quem tem ou não direito à vida.

Estou nesta triste lista, eu, com 72 anos, dentro do grupo de risco, como tantos outros frágeis e idosos, prontos para o forno crematório. Viva o país dos “young and healthy”!

“Não mata mais do que o surto da H1N1 no ano passado”, ele disse. Mal começou a epidemia do coronavírus entre nós e já ultrapassamos de bastante a soma dos mortos causados pela gripe de 2019.

Não importa. A anta maligna continuou saindo às ruas, reunindo pessoas em volta dele e proclamando, todo orgulhoso: “Eu tenho direito constitucional de ir e vir. Ninguém vai tolher minha liberdade de ir e vir”. Por causa dele, tanta gente deixou o cuidado elementar contra o vírus, seja porque cansou de ficar em casa, seja escudado pelo moralismo da produtividade, do “vou trabalhar porque não sou preguiçoso”.

Bolsonaro é culpado pelos mortos que desrespeitaram o confinamento pois foram encorajados por ele. É um genocida.

A violência perversa que se instalou desde o início de seu governo, com devastação de florestas, desmonte da educação e da pesquisa científica, abandono das populações indígenas aos predadores, e tantos outros crimes, podia passar despercebida a quem fazia vista grossa: tudo isso era longe, abstrato, e o importante mesmo era salvar a economia. Agora, com a peste na porta de cada um, não é mais possível deixar de ver que o pesadelo longínquo se tornou, de fato, realidade.

Mas, calma aí, Bolsonaro não é tão culpado assim. Há pior do que ele. Piores são os eleitores que o puseram lá, no alto do poleiro. Cada um que votou em Bolsonaro é cúmplice das mortes que ele está provocando. Cúmplices de genocídio e de assassinato.

E não é possível dizer: “Eu não sabia”. Não sabia, com a campanha baseada na celebração das armas, na vontade de metralhar os inimigos políticos? Campanha alimentada pela pulsão de morte? Como não sabia, cara pálida?

Você votou em Bolsonaro levado por ódio irracional, que o impediu de ver a abominação evidente. Que o fez isentar as manifestações de machismo, de racismo, de desprezos preconceituosos vomitados sem vergonha. Que levou você a acreditar nas manipulações oportunistas de uma justiça a serviço de fins eleitoreiros, perfeitamente bem-sucedidas, a ponto de porem o juiz responsável na poltrona de ministro. Seu ódio deixou você cego. Votos não poderiam ser conduzidos por ódios ou por amores.

Não creio que a mula sem cabeça tenha algum remorso, diante das mortes que aumentam. Mas é impossível que a decência tenha abandonado todos os seus eleitores.

Para estes, é hora de assumir a responsabilidade por todos os horrores desumanos causados pelo presidente. E de aprender a lição que, por infelicidade, tem custo tão alto.

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