Ah, não!

E então eis que as duas amigas resolveram sair para tomar uns drinques. Ambas mulheres experientes, vividas, mesmo que não tivessem o assim chamado “frescor da juventude”, ainda contavam com uma nítida sexualidade e um charme todo próprio adquirido com o passar das estações…

Uma casada, a outra não.

E estavam elas instaladas numa confortável mesinha na calçada, naquele conversê de barzinho, bebericando seus drinques, falando de atualidades, do passado, do futuro, dos outros e – claro! – de homens.

Então, não mais que de repente, aparece aquela picape gigante, lentamente se movendo do outro lado da larga avenida, aguardando a liberação de uma vaga enquanto um outro sujeito desajeitadamente manobrava seu carro para ir embora. Não era possível ver com nitidez seu motorista, nem se estava com alguém, mas mesmo daquela distância era visível o bem delineado contorno de sua cabeça, o queixo proeminente bem como o nariz afilado. Enquanto espera ele dá uma olhadinha em direção a elas e discretamente sorri.

— Ai, amiga! Olha só! Aquele sujeito chegando ali, ele tá me paquerando!

— Hm? – perguntou a outra, lentamente levantando os olhos e perscrutando ao redor enquanto ruidosamente sorvia o final de sua caipirinha pelo canudinho.

— Ali, ó, naquela camionete estacionando…

— Ih, amiga, cuidado, hein? Normalmente gente que tem carrão grande assim é tudo baixinho.

— Credo, para de ser assim! Você tá aí, tranquilinha, bem casadinha e eu não. Se chega um sujeito bonitão querendo dar em cima de mim, deixa ele!

— Não é isso, minha linda! Olha pra você. Você tem bem mais de um metro e setenta – e só de pernas!

— Exagerada!

— Tô te falando. Você é alta, amiga, muito mais que a maioria. Sei que é difícil surgir um cara que combine com você, mas escreve o que eu tô dizendo: carro grande só vem com baixinho. Com certeza é um anão!

— Pelamordedeus, menina! Para! Deixa eu. Até porque ele já deu mais umas olhadinhas pra mim…

— Tá bom, tá bom. Mas nem deu pra ver se ele está com alguém. E se estiver? E se for um safado?

— Bom, daí azar dele, pois não vai poder usufruir da mamãe aqui! – disse enquanto descia as mãos pelo corpo, ressaltando as próprias curvas.

— Ai, você não presta mesmo! Mas ainda acho que o cara deve ser um baixinho, um anão. Você vai ver só.

Nisso finalmente o sujeito acabou de estacionar. Fechou o vidro semiaberto, entreabriu a porta ao mesmo tempo que virou-se de lado, parecendo que estava se debruçando sobre alguém.

— Ih, amiga, já vi tudo! Pode ir tirando esse sorrisinho besta do rosto que ele deve estar com alguém. De qualquer jeito sua noitada acaba aqui, pois pela maneira que deve estar desafivelando o cinto, o anão também está com uma criança.

— Além de despeitada, bocuda, hein? E daí que ele tenha uma criança com ele? Vai que dá certo, a gente se conhece e marca alguma coisa para um outro dia?

— Mas você não perde a esperança, né? Então deixa o baixinho vir, que agora até eu quero ver no que é que isso vai dar.

— Ai, para!

E então, pela porta, de fato desceu uma criança. Assim, de costas meio que escorregando pelo banco alto daquela picape mais alta ainda, até que seus pezinhos titubeantes tocaram o chão. E com um estrondo a porta se fechou.

— Nossa, será que ele vai deixar aquele menino ali na rua, assim sozinho?…

E então o garotinho se virou e sorriu.

Ativou o alarme enquanto começava a atravessar a rua com seus passinhos lépidos e gingados.

Era um anão.

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