Sobre casamentos

Em tempos de Internet sempre é salutar duvidar da autoria de determinados textos. Já cheguei ao cúmulo de encontrar um texto criado e assinado por Drummond em 2005. Detalhe: ele faleceu em 1987…

Aliás, acho que um dos papas em receber atribuições de textos deve ser o coitado do Luís Fernando Veríssimo. Como lhe atribuem palavras alheias! O bom é que, como sempre costumo dizer, todo texto tem sua “impressão digital”, de modo que para certos absurdos não precisamos sequer chegar ao final da leitura para ter a mais absoluta certeza de que NÃO é de determinado autor.

Assim também invariavelmente acontece com Arnaldo Jabor. O problema é que não conheço o suficiente do que ele realmente escreveu para poder identificar sua “marca”. Entretanto encontrei esse texto, compartilhado lá no Face pela amiga Marisa, e achei bastante interessante! Encontrei-o com sob os mais variados títulos, prevalecendo três: “Divórcio”, “Casamento Perfeito” e “Casar-se de novo”. Como gostei mais deste último – parece-me ter mais a ver com a mensagem da crônica – adotei-o como verdadeiro. Mas posso estar errado. Inclusive quanto ao autor. Paciência.

Bem, sendo ou não sendo, compartilho-o aqui para que meus quase quatro leitores possam também se deleitar com uma fórmula simples e tão óbvia quanto inusitada acerca das relações!

Casar-se de novo

Meus amigos separados não cansam de perguntar como consegui ficar casado 30 anos com a mesma mulher. As mulheres sempre mais maldosas que os homens, não perguntam à minha esposa como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo.

Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo. Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos sabem, mas dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue:

Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém aguenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade já estou em meu terceiro casamento – a única diferença é que casei três vezes com a mesma mulher. Minha esposa, se não me engano está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais vezes que eu. O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher.

O segredo no fundo é renovar o casamento e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar, seduzir e ser seduzido.

– Há quanto tempo vocês não saem para dançar?

– Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em potencial?

– Há quanto tempo não fazem uma lua-de-mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção?

Sem falar dos inúmeros quilos que se acrescentaram a você depois do casamento. Mulher e marido que se separam perdem 10 kg em um único mês – por que vocês não podem conseguir o mesmo? Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria a frequentar lugares novos e desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, os discos, o corte de cabelo, a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge.

Vamos ser honestos: ninguém aguenta a mesma mulher ou o mesmo marido por trinta anos com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é a sua esposa que está ficando chata e mofada, é você, são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação. Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo circuito de amigos.

Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento. Mas se você se separar sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior.

Não existe essa tal “estabilidade do casamento” nem ela deveria ser almejada (muitas vezes é confundida com “acomodação”, o que é cruel…). O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos. A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma “relação estável”, mas saber mudar junto .

Todo cônjuge precisa evoluir: estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria pensado em fazer no inicio do casamento. Isso é necessário também no trabalho, por que não na própria família? É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo. Portanto descubra a nova mulher ou o novo homem que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo interessante par.

Tenho certeza que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: por isso de vez em quando é necessário casar-se de novo, mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.

3 thoughts on “Sobre casamentos

  1. Foi assim a vida dos meus pais…. sempre “recasando-se”! Por 50 anos, conseguiram manter-se juntos sem que nada abalasse a união! Vira e mexe, pegavam o velho jeep, metiam dentro um lanche (tempos difíceis) e sumiam desbravando estradas, namorando, procurando algo que nós, os filhos, nunca soubemos exatamente o que era! Mas voltavam renovados, mais cúmplices do que nunca…

  2. Que linda essa história! Renovar sempre é preciso – mas acho que se eu comprar outro jeep (já tive um, a história está aqui) a Dona Patroa me mata… Ou não!

    Mas isso me dá idéias…

    😀

  3. Putz, até fiquei emocionada qd fui ler sobre seu jeep e deparei com a foto do danado!!! igualzinho ao do meu pai rsrsrs e daí, a memória foi lá pra trás, lembrei da copa de 70, qd meu pai, num momento de loucura total, permitiu que meus irmãos tirassem a capota do bichinho e lá fomos nós para a praça, com o jeep todo enfeitado e nós tbm, claro, comemorar a vitória de uma seleção inesquecível!!! Era tbm esse mesmo jeep que levava meus irmãos pra Sta.Branca arrumar namoradas e encrencas (sem minha presença, é claro)!!! E foi nele que aprendi a dirigir, na velha estradinha do Rio Comprido, junto com um tio solteirão e meio doido rsrsrs , Bons tempos, ótimas lembranças…Ah, meu pai teve tbm um mais antigo, acho que 44 ou 45 (deve ser pq ele dizia que era da guerra), mas esse era intocável pra nós rsrsrs

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