A pílula e a gravidez

Numa bem-humorada conversa com algumas das meninas de lá onde trabalho, eis que surgiu o assunto acima. E este velho escriba digital que vos tecla, do alto de sua infindável cultura inútil, pôs-se a explicar que a pílula surgiu de pesquisas a partir da década de cinquenta, tendo chegado ao mercado no início da década de sessenta. Na origem de seus estudos teria por finalidade agir meramente como reguladora do ciclo menstrual, inclusive para auxiliar os casais na concepção. Mas um “efeito colateral” percebido logo no início foi o que acabou lhe garantindo o sucesso: era, na realidade, um contraceptivo!

Assim acabou funcionando como um verdadeiro divisor de águas, em se tratando de liberdade sexual. Isso porque, antes, toda e qualquer relação entre homem e mulher poderia resultar num pãozinho no forno. Ou, no mínimo, numa bela duma preocupação… Já com a pílula o sexo poderia ser visto simplesmente como “recreativo”, sendo a gravidez uma opção, já que a área industrial podia – ainda que temporariamente – ser transformada em área de lazer.

Bem, daí à revolução sexual, rebeldia, contestação de valores sociais tradicionais, movimento feminista, etc, foi só um pulo. Bem pequeno. Woodstock que o diga. De um modo geral – e com o passar do tempo – o advento da pílula pode ser visto até mesmo como um dos fatores que permitiu um maior ingresso de mulheres no mercado de trabalho. Prosseguir nos estudos e desenvolver uma carreira passou a ser uma realidade, uma vez que tornou-se possível o adiamento da maternidade e a mera submissão à vida doméstica.

Mas, voltando ao foco da conversa, por essas e outras é que a pílula anticoncepcional, na verdade, vai bem além da mera prevenção da gravidez, existindo uma série de benefícios que traz à mulher.

Confiram o porquê, neste ótimo artigo escrito pela médica e professora Angela Maggio da Fonseca:

Cólicas, irritabilidade, acne, seborreia, corpo inchado e aumento do volume de pelos no corpo são alguns dos incômodos que muitas mulheres passam por causa de alguma alteração no ciclo menstrual. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde, estes sintomas atingem cerca de 70% das brasileiras.

Existe tratamento para ajudar a amenizar os sintomas: a pílula anticoncepcional. Para eliminar os mitos sobre o medicamento, a especialista explica detalhadamente todos os benefícios apresentados pelos contraceptivos.

1. Controle da tensão pré-menstrual (TPM)

Depressão, irritabilidade, fadiga, alteração do apetite, dores de cabeça, inchaço e distúrbio do sono estão na lista de queixas das mulheres que sofrem com a TPM. A pílula anticoncepcional é indicada nesses casos, pois a tensão pré-menstrual nada mais é do que o nível de hormônio alterado no corpo da mulher e a pílula controla a taxa hormonal do organismo. Além disso, algumas pílulas ajudam a diminuir a retenção de líquido, como aquelas à base de drospirenona.

2. Menstruação irregular

Muitas mulheres apresentam irregularidades no ciclo menstrual, fugindo do padrão normal de intervalos entre uma menstruação e outra. Em muitos casos a menstruação irregular ocorre por desequilíbrio hormonal. Desta maneira, a melhor “arma” para combater o problema é o uso do anticoncepcional, que ajuda a regularizar a taxa hormonal no corpo da mulher.

3. Síndrome do Ovário Policístico

A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) é um dos distúrbios mais frequentes em mulheres em idade reprodutiva. Aproximadamente, entre 4% e 7% das brasileiras nesta faixa, que se estende do início da menstruação à menopausa, apresentam o problema, que é uma das maiores causas de infertilidade. Essa condição afeta a produção hormonal e provoca aumento dos hormônios masculinos, os androgênios, no organismo da mulher.

Estas alterações decorrem de duas causas distintas: ou porque os ovários respondem de maneira anormal aos estímulos dos hormônios do cérebro; ou porque os estímulos do cérebro são irregulares. Como consequência, a mulher deixa de ovular todos os meses e passa a apresentar diversas manifestações no corpo. A partir do diagnóstico positivo, o médico define junto com a paciente o tratamento que será seguido. Caso a intenção seja a melhora do ciclo menstrual e da pele, pode-se optar por tratamento de controle hormonal com uma pílula que contenha acetato de ciproterona. Hoje, é a terapia mais indicada para esta patologia.

4. Uso precoce do medicamento

A pílula anticoncepcional pode ser tomada, desde que o caso seja orientado e acompanhado por um médico. Seu uso não confere risco de infertilidade futura e não interrompe o crescimento. As doses de estrogênio (hormônio feminino) nas pílulas atuais são extremamente baixas e, por isso, não causam danos no desenvolvimento da mulher e nem para uma futura gravidez planejada.

5. Outras indicações

Devido ao controle hormonal a que os anticoncepcionais estão atrelados, quando a mulher apresenta algum sintoma indesejado relacionado com o período menstrual, o medicamento é recomendado.

6. A baixa dosagem

As pílulas de baixa dosagem têm as taxas hormonais mais baixas, porém o efeito de contracepção é o mesmo, assim como o de diminuição do fluxo menstrual.

7. Reduz o risco de doenças em geral

O uso da pílula anticoncepcional reduz os riscos de gravidez ectópica, acne, queda de cabelo, diminui o crescimento dos pelos e ameniza os sintomas da pré-menopausa. É fundamental que seu uso seja sempre orientado e acompanhado por um ginecologista, pois, como qualquer medicamento, a pílula anticoncepcional pode ter efeitos colaterais indesejáveis.

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