Respira pela barriga, o longa metragem que deu origem à série

Este post foi originalmente ao ar em 02/06/2005, no finado blog Respira pela Barriga – “Reflexões, aventuras e desventuras de alguém que come com os olhos, fala pelos cotovelos, pensa com o coração e tenta, honestamente, respirar pela barriga”.

Por que “respira pela barriga”?

Porque um dia disseram que a minha vida mudaria e eu seria muito mais

– feliz

– calma

– paciente

– pacata

– cordata

– produtiva

– tranqüila

– equilibrada do ponto de vista energético

– alinhada do ponto de vista dos chacras

– resolvida se aprendesse a respirar pela barriga em momentos cruciais da minha vida.

No começo, ri. Logo eu, a pragmática das pragmáticas, a prática das práticas, a que se arrepia só de ouvir falar em horóscopo, falando em chacras, em equilíbrio energético, respirando pela barriga? Ora, pelamordedeus! Daqui a pouco, vão me pedir para comprar um duende e conversar com ele!

Aí, me pediram para parar só um pouquinho e reparar em como a minha respiração acontecia exclusivamente no peito – é lógico, pensei. É aí que ficam os meus pulmões! – e às vezes até no pescoço. Comecei a perceber que quando ficava tensa, o que é, no mínimo, freqüente para alguém que faz dez coisas ao mesmo tempo, minha respiração “subia” mesmo.

Me ensinaram a deitar, colocar a mão no umbigo e respirar, profundamente, até sentir a barriga ficar inflada de ar. Em seguida, pra dar certo, soltar o ar totalmente e fazer tudo de novo. Com calma, sem pressa (coisa rara na minha rotina), uma meia dúzia de vezes pelo menos. Fiz uma vez e achei bom.

Me disseram que com um mínimo de prática, eu conseguiria fazer isso sem deitar e sem precisar colocar a mão no umbigo. Ótimo, pensei. Imagina eu, voando, estressada, no meio do trânsito, atrasada para uma reunião, falando no celular, trocando o CD da Macy Gray pelo do Castelo Rá Tim Bum, tentando convencer a minha filha de dez anos de que “não, essa blusa não marca a barriga” e o meu filho de três que “com certeza nós veríamos um caminhão-caçamba, ou um caminhão-baú, ou um caminhão-tanque, ou uma betoneira, ou uma motoniveladora até chegarmos ao nosso destino”, tendo que parar o carro, deitar no asfalto, botar a mão no umbigo e respirar pela barriga?

Sugeriram que eu colocasse bilhetinhos para mim mesma em lugares estratégicos como o monitor do computador, o painel do carro, o espelho do banheiro, me lembrando de respirar. Soube até que há cursos que ensinam a gente a respirar…

Comecei a respirar pela barriga sempre que me lembrava e, impressionantemente, acalma mesmo. Ainda não fiquei mais calma, feliz, paciente, tranqüila, equilibrada, pacata, produtiva, alinhada, cordata ou resolvida. Mas juro que tenho tentado, honestamente, respirar cada vez mais pela barriga.

Assim, sem querer parecer zen, ou mística, ou outros babados do gênero, sempre que der vontade de

– quebrar o CD de Sons da Amazônia ou o dos Monges Beneditinos contra o painel do carro;

– esquartejar o motorista do ônibus da frente;

– afogar o filho caçula no Tietê;

– matar a empregada (ou o chefe, ou o estagiário, ou o ex-marido, ou a sogra) no beliscão;

– abrir a machadadas a cabeça do homem super zen que a gente gosta para fazê-lo entender que, sim, você é ansiosa, apressada, vertiginosa, enlouquecida mas o ama, de todo o coração, não se esqueça: RESPIRA PELA BARRIGA que a vida há de melhorar.

Nota: Post (re)publicado com o consentimento (até agora) da autora…

3 thoughts on “Respira pela barriga, o longa metragem que deu origem à série

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