Lanterna Verde 2011

Ou, se preferirem, “Green Lantern”…

Juntamente com os filhotes, fui hoje assistir. Dublado e em 3D. O fato de ser dublado não me incomoda tanto – se bem que prefiro sempre o original (seja lá em que língua for) – mas esse negócio de”3D” já tá dando nas paciências… Pôxa, agora com essa moda qualquer ameaça de filme, qualquer película, até as propagandas são com efeitos tridimensionais. E que nem são lá tudo isso… Servem, sim, para você pagar beeeeem mais caro nas entradas…

Bem, ultrapassada essa fase ranzinza de sempre, voltemos ao filme.

Para quem conhece da história que forjou a lenda e os anéis dos Lanternas Verdes (não, nada a ver com aquele outro, o Um Anel), pode assistir tranquilo, pois os principais tópicos dos mais famosos arcos das histórias estão todos lá. Dá pra contar, talvez nos dedos de apenas uma mão, as “liberalidades cinematográficas” que usualmente decepcionam os fãs mais ardorosos. Para quem não conhece, pode saber alguma coisinha lendo meu antigo e-zine, o Ctrl-C, bastando dar uma fuçada aqui no blog – mas já aviso que é muito antigo e, talvez, hoje eu tivesse coisa melhor pra escrever…

Enfim, creio que nem preciso falar dos efeitos especiais – afinal imaginem um anel movido à força de vontade, cujo poder é materializar construtos de luz e seu único limite é a própria imaginação do portador. Um verdadeiro “Anel dos Desejos”. A história de fundo é simples e objetiva – previsível, até. O casalzinho enamorado também está presente, bem como o tradicional vilão, carregado de amargura de uma antiga rejeição. Misture todos esses ingredientes, leve a um forno cinemístico próximo de você, deixe em fogo brando por pouco mais de hora e meia e pronto! Sirva acompanhado de refrigerante e pipoca! Doce por baixo, salgada por cima e bastante manteiga…

Enfim, quer conheçam ou não os quadrinhos, é um filme que – ainda que eu seja altamente suspeito para opinar – na minha opinião vale a pena!

Ah, e sim, a criançada também gostou. Em especial o Jean, que depois do segundo susto com o Parallax assistiu o restante do filme no meu colo. E não deixem de ver as famosas cenas após os créditos finais!

Perdido entre gerações

Esse mundo de crônicas, definitivamente, é fantástico.

Sempre acabo por descobrir mais sobre mim mesmo lendo as mais distintas crônicas alheias.

E Mário Prata – o cronista da vez – tem ótimas, como essa que segue logo abaixo.

E, talvez, a questão principal e que mais me chamou a atenção foi que acabei descobrindo que não existo. Não nessa concepção, ao menos. Não sou da geração dele, onde simplesmente havia uma clara linha separatória entre o que seria sexo e o que seria amor. Não, mesmo. Mas também não sou dessa geração atual, a de ficantes, onde tudo é permitido e nada há a ser perdoado. Estou entre ambas. Sou das antigas mas com pensamentos modernosos, sim, e daí? Na prática, creio que fiquei perdido entre as gerações…

Sabe o que acontece? Para mim, sexo e amor são elementos indispensáveis um para o outro, principalmente o segundo em relação ao primeiro. Se não houver um, não há que se falar no outro. O que já é uma evolução em relação à distinção da geração anterior. Mas daí a essas ficâncias e alternâncias dignas de Friends, onde a amiga de hoje será a namorada de amanhã, a esposa do amigo de depois de amanhã, e sabe-se mais o quê lá no futuro? Não. Sou daqueles que não sabem ficar. Que querem mais. Desse jeito, simplesmente não consigo.

É informação demais para este velho dinossauro…

Mas, cá entre nós, entre ficar por ficar, então fiquemos com a crônica de Mário Prata, que, garanto, é bem mais interessante que meus costumeiros devaneios.

De como ficar sem culpa

Mário Prata
MAR/1996

– O brasileiro é, antes de tudo, um infiel.

Poderia ter dito Euclides da Cunha, que conheceu na pele o problema. E nas costas.

Mas nem todos, diriam os mais jovens. Correto. Mas eu estou a me referir à minha geração, dos meus pais e meus avós.

Não é preciso deitar em nenhum divã de psicanalista para entender o que aconteceu com a minha turma.

Para nós, no começo dos 60, amor e sexo eram duas coisas completamente distintas. As namoradas não deixavam nada. Não se ficava, naquele tempo, imagine. A gente, depois de uns 15 dias (e de muita conversa), pegava na mão. Beijo na boca, só uns seis meses depois. E ficava nisso. Um ou outro conseguia um bico por cima do banlon. Sexo, jamais, impossível. Todo mundo tinha sua namorada (muitos casaram com elas). Depois do namoro íamos para a zona. Lá não tinha amor, tinha sexo, com descalcificadas prostitutas interioranas. E na capital, acontecia o mesmo.

Sexo com amor não existia. Portanto, para nós a divisão amor/sexo era absolutamente normal. Para nós, até então, uma coisa não tinha nada a ver com a outra.

A primeira vez que fiz amor e sexo junto, foi um desastre. A namorada sentou-se na cama e me disse:

– Não é nada disso.

E começou a falar de coisas que eu nunca havia imaginado. Carinho, por exemplo. Nunca tinha feito carinho numa profissional do amor, é claro. Essa namorada me ensinou a fazer amor com sexo. Foi uma grande descoberta para mim. Sei até o dia: 1º de maio de 68 (eu tinha 22 anos), entre uma barricada e outra lá na USP.

Portanto, para a minha geração, no início, traía-se naturalmente, sem culpa.

Hoje com um pouco de culpa, com um certo remorso.

Se na vida dos meus pais e avós eram normal a infidelidade e as amantes fixas ou eventuais (as esposas sempre sabiam e fingiam que não era com elas), com a nova geração a história é outra.

A maior invenção dos anos 90 foi o ficar. Que inveja! Fica-se com uma hoje, com outra amanhã e ninguém está enganando ninguém, traindo ninguém. Culpa?

Nem pensar. Sábia essa geração.

Ainda não entendi por que não se libera esse negócio de ficar para nós também, mais velhos. Acabaria a infidelidade. Você me traiu? Não, só fiquei. Ou seja, a novíssima geração continua infiel. Só que deram um jeito na jogada. Ficar não é pecado, não está nos mandamentos nem de Deus nem da Igreja. Mas se eu ficar, como fica a minha namorada?

Eu tento entender os limites do ficar, mas sinto que a compreensão foge aos meus limites de infiel salesiano. Eu pergunto aos mais jovens: mas ficar, fica até que ponto? Está me entendendo? Tem ficada completa? Ou, se for completa, não é mais ficar? E eles me dizem que, às vezes, ficar pode ser completo. E não é traição. Pinta, entende? E, se pinta, rola. No dia seguinte, imagino eu, nem contam para o melhor amigo. Onde já se viu?

Só que, com a gente, mais velho, elas não ficam. E não é por causa da idade, não. É que elas sabem que nós não sabemos ficar. Quando um cara da minha idade consegue ficar com uma, quer ficar mais, quer no outro dia de novo. Aí não é mais ficar, já entra compromisso, pai e mãe no meio. Ficar, pode.

Ficar mais de uma vez, não. Tá pensando o quê? Casa da sogra, como se diria no meu tempo? Definitivamente eu não sei ficar. Fico devendo.

Ou seja, esse negócio de ficar pra cá, ficar pra lá, completo ou incompleto, é só entre eles. Há de se entender o espírito da coisa. E a minha geração tá muito mais para a carne que para o espírito em relação à ficagem.

Já namorou fulana? Não, mas fiquei. Que coisa mais normal.

Outro dia encontrei com uma amiga da minha geração e ela me disse com a maior naturalidade que a filha dela tinha ficado com o meu filho. Só que quando eu quis tirar um sarro (que é como a gente ficava) com ela há uns 20 anos, nem pensar. Ficou me devendo. E agora vem pra cima de mim com essa normalidade toda. Será que ela quer ficar comigo? Agora? A gente quase avô?

E o mais doido é que há 30 anos a gente cantava no ouvido das meninas: fica comigo esta noite e não te arrependerás!!! E nenhuma delas entendeu o que eu queria dizer.

Resumindo: quem ficou, ficou. Quem não ficou, não fica mais!

E, como já dizia Zilda Mayo, atriz da pornochanchada, numa célebre entrevista para a revista Homem, amar não é só colocar lá dentro.