Fernando em Pessoa

E na correria quase que passa incólume: 123 anos do nascimento do poeta.

Para os que não conhecem, não vou perder tempo com apresentações. Tanto o Google, quanto o Twitter, assim como o Reader e, principalmente, pessoas queridas, não me deixaram esquecer. Então, caríssimos ignaros que jamais ouviram falar de Fernando Pessoa, procurem na Rede, ok? Para os demais, temos este post.

Aliás, mais: por melhor que seja a obra (e é) e por mais vastas que sejam as opções (e são), minha verve sarcástica me compele a não cair no senso comum e buscar algo diferente. Então, para provar que nada consegue matar a poesia, temos aqui o sempre excelente Laerte com sua obra “Piratas do Tietê – O Poeta – Com a participação de Fernando (em) Pessoa”. Direto da minha coleção pessoal, na já amarelada revista Piratas do Tietê nº 12 – de janeiro de 92 (vai, povo de sempre, aproveitem para a usual curtição com a minha cara…) – deleitem-se…

Referências Pessoais:

– 1ª vinheta da 1ª prancha: “(…) Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada” – Álvaro de Campos – “Tabacaria”;

-3ª vinheta, 1ª prancha: “(…) Eu nem sequer sou poeta: vejo./ Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:/ O valor está ali nos meus versos (…)” Alberto Caeiro – “A espantosa realidade das coisas”;

– 7ª vinheta, 1ª prancha: “(…) Sinto uma alegria enorme/ Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma (…)” – Alberto Caeiro – “Quando vier a Primavera”;

– 8ª vinheta, 1ª prancha: “(…) Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade./Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, (…)” – (Álvaro de Campos – “Tabacaria”);

– 4ª vinheta, 2ª prancha: “Com um lenço branco digo adeus/Aos meus versos que partem para a humanidade (…)/- Alberto Caeiro – “Da mais alta janela da minha casa”;

– 5ª vinheta, 2ª prancha: “Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre/a que foi sua/Passo e fico, como o Universo (..)” – Alberto Caeiro – “Da mais alta janela da minha casa”;

– 6ª vinheta, 2ª prancha: “(…) Ah, quem sabe, quem sabe/ Se não parti outrora, antes de mim/ Dum cais; Se não deixei, navio ao sol / Oblíquo de madrugada,/ Uma outra espécie de porto? – Álvaro de Campos – “Ode Marítima”.

Detalhe: Como pode se notar no rodapé da última prancha (ainda que existam outras referências não reveladas): “Todas as falas do personagem Fernando Pessoa – e também esta do ‘coro’ – são frases tiradas de poemas de Fernando Pessoa. (Pirataria é Cultura).”

Sobre você. Agora sim.

De quando em quando a gente encontra alguns textos, algumas crônicas, alguns relatos, alguns qualquer coisa na Rede ou fora dela que – sabe-se lá por quais motivos – nos tocam, inquietam, incomodam, deliciam, comovem, enfim, nos causam inexplicáveis sensações de familiaridade e empatia (ainda que jamais tenhamos passado por situações como as que encontramos).

O texto a seguir é um desses. Para mim, pelo menos. Por alguma razão vejo-o como uma declaração completa de entrega e de paixão e, ao mesmo tempo, como uma triste constatação de inviabilidade de um relacionamento – com uma conclusão ainda mais triste…

E, apesar de palavras às vezes fortes para um texto desse naipe, não perde em nada sua sensibilidade…

Deixo apenas de explicitamente colocar o nome da autora aqui uma vez que ela já há muito tempo o apagou lá do próprio blog dela. Resgatei-o das profundas catacumbas de meu computador, onde permanecia adormecido numa escura cela na qual eu o havia arquivado para uma calma leitura algum dia desses.

E esse é o dia.

Ei-lo, pois.

Sobre você. Agora sim.

Eu gosto das ruguinhas que se formam em volta dos seus olhos quando você sorri.

Eu gosto de te ver fumar, com a cabeça no seu peito, sem pensar em nada; assistir a fumaça sair da sua boca e encaracolar pelo ar, até sumir.

Eu gosto de lembrar de você toda vez que eu sinto cheiro de cigarro em algum lugar.

Eu gosto de fazer cafuné no seu cabelo enquanto você está dorme-não-dorme.

Eu gosto de quando eu páro de fazer cafuné, achando que você já está desmaiado, e aí você se chacoalha, pedindo mais.

Reclamo até a morte, mas não posso dizer que não gosto quando você diz que vai se levantar e aí vira para o lado, se enverga em posição fetal e dorme de novo. Não tem como não gostar. Não tem como não se derreter. Dá uma dó do caralho e uma vontade de deitar contigo o dia inteiro.

Eu gosto do beicinho que você faz enquanto dorme (sim, você faz).

Eu gosto quando você fala “puuuxa”.

Eu gosto de passar as mãos por debaixo da sua camiseta e apertar as suas costas enquanto a gente se abraça.

Eu gosto de como as minhas pernas bambeiam quando você beija meu pescoço.

Eu gosto quando você diz “gostosa” no meu ouvido.

Eu gosto de um monte de coisas que aqui seriam impublicáveis.

Eu gosto de quando você ri bem gostoso, com vontade, jogando o corpo um pouco para trás.

Eu gosto de falar merda com você. Gosto também de falar de coisas sérias, que me importam muito. Cinco minutos e eu já estou à vontade o suficiente para falar de coisas que eu não falaria a quase ninguém, memórias de infância, coisas que me incomodam. Gosto de como eu quase nunca me sinto tímida ao seu lado.

Eu gosto de me arrumar para sair com você, botar o meu melhor vestido, preparar o meu melhor visual (mesmo que eu saiba que depois vou voltar para casa de roupa amassada, cabelo desarrumado, com o meu pior visual).

Eu gosto de quando você acaricia meu braço com os ossinhos das mãos.

Eu gosto de quando você diz “nãããão, nããão, nããão!”

Eu gosto quando pergunto “sabe tal coisa?” e você franze a testa e diz “sim, sim”.

Eu gosto de como você se atrapalha para dizer tchau ao telefone: “beijo para você, tchau-tchau, até mais, beijo, até”.

Eu gosto dos seus lábios. Que boca bonita você tem, benzadeus.

E eu gosto de mais uma porção de coisas. Uma porção bem grande. E é essa porção que me impede de ir embora, que me faz ficar nesse vai-não-vai; não sei se vou, não sei se fico, a verdade é que eu não quero ir embora. E, se tantas vezes tenho o ímpeto de partir, é porque sinto que preciso. Porque não é todo dia que eu gosto esse tanto de alguém. E, se eu for levar um tombo, pelo visto vai ser um tombo bem grande. Eu vou me esfolar toda, menino. Tenho menos cicatrizes que você e é não é à toa: é porque eu sou cagona, eu morro de medo de me estropiar.

Houve dias em que aquele quarto era o mundo inteiro. Eu me sentia tão à vontade nele, tão leve, tão tranquila, era quase como se o quarto fosse meu. Que o tempo passasse, que eu perdesse o sábado, que não fizesse nenhuma das coisas que precisava fazer: foda-se. Eu não queria estar em nenhum outro lugar anyway. Sabe quando a gente acorda no meio da noite, meio grogue, e, por alguns segundos, pensa “onde é que eu tô?”. Então. Já aconteceu de eu pensar isso, olhar em volta, perceber que estava ali, com você, e aí voltar a dormir pensando: “É. Não gostaria de estar em nenhum outro lugar”. Você não faz idéia de como essa sensação é boa.

Houve dias em que aquele quarto era o mundo inteiro.

Ontem, era só um quarto.

E havia tantas outras coisas naquele quarto além da gente. No meio da gente. Entre os dois corpos. Tanta coisa invadiu o quarto enquanto transávamos. Desconforto, inquietação, indecisão, sensação de peito apertado. Medo de me machucar. Não consegui me abandonar ali, em você. Não consegui me desprender por completo do que estava fora do quarto. De quem estava fora do quarto. E me senti uma inútil por isso. Não consegui ficar em paz. E paz era justamente a melhor coisa que eu sentia ao seu lado. Paz é do que sinto mais falta.

Eu disse que tenho medo de vir a perder você. Mas ontem me dei conta de que talvez nós já estejamos bastante perdidos um do outro.

Certa vez uma amiga me perguntou de você. Aliás, de nós. Pra onde as coisas estavam indo, etc. Eu sorri e disse, despreocupadamente: “não sei!”. Era a resposta mais genuinamente feliz que eu poderia dar. Ontem, você me perguntou “o que vai ser da gente?”. Respirei fundo e respondi: “não sei”. E não sei é a resposta mais triste que eu poderia dar.

Marjorie Rodrigues

Por enquanto

Reiteradamente eu costumo dizer que tudo muda e nada muda. E isso nos leva à insofismável constatação de que não há crise que dure pra sempre.

Até porque, como diz a música, “o pra sempre, sempre acaba”

E a conclusão a qual chego é que já é hora de (novamente) sair da caverna. Mas, entendam, eu simplesmente não tenho um “lado Polyana” que me motive. Se saio da caverna não é pra elogiar o maravilhoso Sol lá de fora, mas sim pra poder reclamar dele em alto e bom tom! A minha “polyanice”, a que me deixa de bom humor, está intimamente ligada ao meu bom e velho mau humor, ao sarcasmo cotidiano, ao meu lado sacana que se diverte com isso…

Por mais que eu tente, por mais que eu fuja, é esse meu íntimo que rosna pra sair. É minh’alma e é o que sou. Do exato tamanho que é. Muito do que já fui e muito do que poderia ter sido realmente está enterrado (ou, caso prefiram, numa “bolha”) – e é lá que vai ficar. Tentativas de mudar isso são vãs, frágeis e vazias.

E para poder (re)enxergar tudo isso foi necessária apenas uma boa tarde com meus filhotes. Um bom cinema – com mais pipoca do que poderíamos consumir – antecedido por uma visita a uma boa livraria com um apelo visual delicioso (pois, antes, era um pusta dum bar que infelizmente não conheci). Um propício clima de paz já vinha de véspera, culminando num fraterno foundue com familiamigos e uma tarde com as crias era tudo que eu precisava para sacramentar isso. E dentre todo o divertido o mais divertido foi compartilhar com o filhote nº 1 de ótimos momentos lendo as tiras que ambos adoramos: Garfield.

Assim, rendo-me ao inescapável.

Tomem um pouco de Garfield também para vocês…

Para todos os que teimam em ter um bom humor insuportável…

Para todos os que insistem em tentar me animar…

Para todos os que teimam em me mostrar o dia lindo que faz lá fora…

Para todos os que acham que sabem como me animar…

Saibam que talvez o contrário seja mais fácil!

Pois – ainda que não pareça – tenho plena convicção de meu tamanho…

E que pequenas maldades muitas vezes servem mesmo é para alegrar o dia…

Tudo bem, algumas um pouco maiores também…

E outras menores…

Lembrem-se que comunicação é tudo – e as palavras corretas são importantes…

Mas, mesmo em sua forma mais silenciosa, amigos de verdade relevam até mesmo as palavras…

Não importa se vegetarianos ou mesmo veganos…

Nem a capacidade de um ataque de sono até mesmo no meio dalguma conversa…

Para todos os que cultivam margaridas de todas as cores…

Para todos que duvidam da força dos super-heróis…

Para todos os que se sentem deixados de lado…

Para todos os que compartilham a própria felicidade…

Aliás, para todos os que corroboram minhas idioticas fantasias de velhice…

Saibam que tenho, sim, uma bengala e sei como usá-la…

(Especial para meu pai) E que continuo tendo lá minhas “manias”…

E que se vocês gostam tanto assim do frio, experimentem dormir sem meias…

E, finalmente, deixo aqui uma boa sugestão de diversão para aqueles que ainda tiverem uma torradeira dessas…

Por derradeiro (e só pra constar), dentre outras coisas, eu – que sempre gostei de vinhos tintos suaves – começo a me descobrir um apreciador de vinhos tintos secos (e, mais, minha “uva” predileta parece ser a Carmenère)…

VIVE LA VIE!!!