Pequenas maldades

E eis que o caboclo estava contente!

Estava chegando o grande dia!

Já fazia pouco mais de um ano que não tirava férias…

E a vida de garçom não é fácil!

Apesar de seu bom humor tradicional, de ser bastante querido pela clientela, de ser atencioso, solícito, brincalhão e tantos outros predicados que lhe são característicos, horas e horas servindo mesas praticamente todos os dias pelas madrugadas afora não é o que se poderia chamar de um trabalho fácil…

Mas as férias estavam chegando!

E – é lógico – não poderia deixar de curtir com a cara dos amigos de profissão!

Cada dia a menos para seu descanso era um dia a mais para torturar os demais garçons (que continuariam ali, na labuta), lembrando-os de que suas férias estavam chegando, quem ele veria, como descansaria, para onde viajaria, somente quando voltaria, porque iria divertir-se…

Chegado o grande dia, foi-se!

Foram excelentes trinta dias em que passeou, descansou, viajou, dormiu, aproveitou a oportunidade de relaxar como poucos realmente o sabem fazer!

Mas, como tudo que é bom dura pouco, faltando apenas alguns dias para seu retorno, resolveu cuidar de alguns assuntos pessoais lá pelo centro da cidade, nos arredores do bar em que trabalhava – bancos, contas, carnês, ou seja, esse mal duradouro que aflige o homem moderno…

O primeiro conhecido que encontra – um dos clientes do bar – já vem com uma saudação estranha:

– Ôpa, rapaz! E aí? Te soltaram, hein?

– Ôba! Como assim?…

Mas, na correria, não teve resposta alguma.

Mais adiante:

– Pô, cara que bom te ver! Mas as coisas são assim mesmo! Fico feliz em ver que você está bem! Tudo de bom!

Alguma coisa estava errada nessa história…

– Rapaz, desculpa não poder falar, mas precisava te cumprimentar! Sei bem como é isso… É foda! Mas que bom que você está aí!

E assim prosseguiram com essa coisa insólita, esse complô que ele não entendia do que se tratava – e não tinha sequer como perguntar, limitando-se a sorrir para que não demonstrasse que não estava entendendo absolutamente nada…

Afinal, já no primeiro dia de volta ao trabalho, pensando no quanto iria tirar um sarro de seus amigos que ficaram ali ralando, não é que os encontrou com um bom humor melhor que o seu? Apesar de estarem rindo bastante e felizes com seu retorno, ainda assim não abriam o jogo com ele sobre o que estaria acontecendo.

Coisa estranha essa…

De volta à rotina, já com um de seus primeiros clientes, acabou ouvindo novamente aquela estranha saudação:

– E aí, cara? Tudo de bom? Fico feliz em saber que você está de volta! Não deve ter sido fácil, hein?

Já era demais! Com aquele ali pelo menos ele tinha proximidade o suficiente para devolver-lhe a pergunta:

– PÉRAÊ!!! Tô ouvindo todo mundo me falar coisas assim, que ficam felizes com meu retorno, que não deve ter sido fácil, que bom que tudo deu certo, etc. Quiéquitá pegando, hein?

– Ué, como assim? Depois desse gancho de trinta dias, achei que você deveria estar feliz de estar solto novamente…

– Como assim? Que gancho? Eu estava de férias, pô!

– FÉRIAS???

– É. Férias! Por quê?

– Não entendo… Não só eu, como também muitos outros clientes, sentimos sua falta… E quando perguntávamos para seus amigos, os outros garçons, eles nos contavam – com a cara mais triste do mundo – que você tinha sido recolhido para um presídio…

– PRESO?? EU???

– É. Você. Uma história sobre uma dívida de pensão alimentícia…

Com um olhar estarrecido, vagarosamente, com a lenta compreensão do que realmente tinha ocorrido, virou-se para contemplar seus “amigos”.

Estavam todos perto do balcão, no fundo do bar, gargalhando a não poder mais…

Moral da História:

Deus me livre dos amigos, que dos inimigos cuido eu!

Dez estratégias de manipulação midiática

Será que recentemente alguém viu algo assim na mídia?…

Direto lá do Escrevinhador:

O lingüista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das “10 estratégias de manipulação” através da mídia:

1- A estratégia da distração.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

2- Criar problemas, depois oferecer soluções.
Este método também é chamado “problema-reação-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A estratégia da gradação.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4- A estratégia do deferido.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? “Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestão, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

6- Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

7- Manter o público na ignorância e na mediocridade.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossível para o alcance das classes inferiores (ver ‘Armas silenciosas para guerras tranqüilas’)”.

8- Estimular o público a ser complacente na mediocridade.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto…

9- Reforçar a revolta pela autoculpabilidade.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!

10- Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.