É de pequenino que…

“…se torce o pepino”. Certo? Sei não. Talvez seja melhor mudar um pouco. Atualizar. Talvez algo como: “…se lava o cerebrozinho”…

Vi primeiro lá no Remixtures e depois ainda conferi lá no site do Sérgio Amadeu (quem se lembra dele?).

Mas vamos aos fatos. Os dirigentes da AMCHAM – Câmara Americana de Comércio – desenvolveram em conjunto com a ABES – Associação Brasileira das Empresas de Softwares (sempre ela!) e a BSA – Business Software Alliance uma iniciativa que pretende “alertar os educadores a respeito dos problemas da pirataria, além de desenvolver um planejamento de atividades de conscientização para pais e alunos”.

Na prática? Significa a criação de um comitê estadual para doutrinar as crianças nas escolas estaduais paulistas a favor da “visão hollywodiana” de propriedade intelectual. E o pior: a Secretaria Estadual de Educação acabou aceitando.

Acompanhem (direto do “Jornal de Debates“):

…a AMCHAM – Câmera Americana de Comércio lançou no último dia 30 de janeiro o Projeto-Escola para combater a pirataria.

Basicamente, dito projeto tem a missão de transmitir conceitos básicos de Propriedade Intelectual às crianças entre 7 e 11 anos, valendo-se dos professores como mensageiros. Os conhecimentos obtidos pelas crianças deverão ser ‘devolvidos’ por meio de redações, peças de teatro, histórias em quadrinho e etc.

Acreditamos que contaremos com o apoio dos professores, até porque estes profissionais sempre combateram a ‘cola’, e, certamente, não ficarão inertes a outros tipos de cópias.

O notável objetivo deste projeto é construir, desde já, o conceito de propriedade intelectual na consciência das crianças, e que, sobretudo, trata-se de uma propriedade, e como qualquer outra tal como uma bicicleta, uma boneca ou uma bola, prescinde de autorização do seu dono antes de ser utilizada.

Finalmente, este projeto obterá sucesso, se conseguir demonstrar às crianças que o peso de ouro da Propriedade Intelectual pode fazer o Brasil reluzir para o desenvolvimento.

Ora, isso vai contra o movimento natural pelo qual tem se lançado as novas gerações. O caminho – cada vez mais – diz respeito ao compartilhamento da informação, quer seja na forma de textos, músicas, filmes, softwares, etc. Mas os interesses ($$$) da indústria sempre vão contra esse fluxo natural. É como a história recente já nos mostrou, pois tal qual a IBM não compreendeu aquela política de software de uma empresinha chamada Microsoft (e deu no que deu), a atual indústria cultural e de software não consegue compreender essa nova mudança de atitudes e mentalidades. Assumem a postura de “vítimas” e que sofrem “prejuízos” em função dos piratas. Já em 2001 falei sobre isso no Ctrl-C, quando tratei da suposta ilegalidade do MP3. Para quem quiser, o artigo está aqui.

Mas, voltemos a algumas das palavras do Sérgio Amadeu:

A Secretaria Estadual abrirá as escolas paulistas para que seja passado uma visão extremista sobre a propriedade intelectual. Tal como nas propagandas da MPAA e da RIAA, a cópia de arquivos serão intencionalmente confundidas com roubo de bens materiais. Além de deseducar, os doutrinadores de Hollywood omitirão das crianças a existência de uma gigantesca mobilização pela flexibilização da propriedade intelectual, contra os absurdos da proteção de uma obra por 95 anos após a morte do autor e, certamente, não tocarão na existência de movimentos como o creative commons.

(…)

De qualquer forma, quero lembrar aqui o alerta dado pelo jurista Lawrence Lessig. Ele lembrou-nos que se a visão da indústria farmacêutica, da MPAA, das gravadoras prevalecer estaremos substituindo a cultura da liberdade pela cultura da permissão. É um novo totalitarismo que querem impor para manter os fluxos de riqueza que estas indústrias construiram na época industrial. Grave. Criação exige liberdade. A inventividade depende de uma ampla base de cultura comum. O que os paladinos do exagero querem é destruir a idéia de domínio público e compartilhamento.

Percebo que falta a todos um quê de bom senso. De tentar a quase impossível arte de trilhar o caminho do meio. Ações radicais levam a reações radicais, desequilibrando a balança para um lado e para outro, sem efetivamente resolver nada…

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