Quer perder peso? Pergunte-me como.

É uma tarefa relativamente fácil. Não requer prática e tampouco habilidade. No meu caso em particular, comecei o dia com cerca de 102kg, o que, distribuído por meu 1,90m de altura, não aparenta ser muita coisa. Mesmo assim é um sobrepeso razoável, de mais de 10kg.

Pois bem. Levante às cinco. Afinal, você pode estar de férias, mas rotina é rotina e é melhor mantê-la do que ter que reimplantá-la mais tarde. Relaxe. Faça suas coisas, leia seus e-mails, consulte alguns blogs, atualize-se.

Sete horas. Vá buscar pão. Pelo caminho mais longo. Afinal de contas uma boa caminhada só faz bem, ainda mais que seu médico mandou fazer exercícios para fortalecer aquele joelho ruim. Quarenta minutos depois, com um ligeiro cansaço saudável – pois você foi em ritmo acelerado – chegue de volta em casa para tomar café.

Hm? A Dona Patroa? Também está de férias. E dormindo. Coitada, afinal ela está bastante cansada e meio que gripada.

A criançada já começou a levantar e clama pelo café da manhã. No problem! Faça o café, o Tody dos pequeninos, prepare a mesa e aguarde sua esposa. Não é porque você está de férias que vão deixar de tomar café juntos, certo?

Bem, mais ou menos. Nada dela levantar. Tome apenas uma xícara de café com leite e aguarde mais um pouco. Oito horas. A empregada já chegou. Você insiste um pouco e ela levanta. Está sonolenta. Você toma outra xícara de café com leite e ela mal toma metade da de café. “Vou me deitar, não estou legal” – diz ela. Paciência.

Deixe o pão pra lá. Já está tarde e temos muitas tarefas programadas. Num resumo da ópera, basicamente, foi o seguinte: recortar parede com marreta e talhadeira, acabar encanamento interno do banheiro, fazer parte elétrica, passar fiação pela parede, arrancar batente velho de porta, sair pra comprar material, reclamar consigo mesmo porque ficou caro, fazer um pouco de massa para assentar os canos, tubulações e alguns tijolos, exagerar na quantidade de massa, não ter onde mais gastar a porra da massa, ficar tapando buraquinhos deixados pelos pedreiros anteriores.

Essa desventura se estendeu até cerca de uma da tarde. Num quartinho no fundo de casa que pega sol direto. Literalmente eu suei em bicas. Mas a massa já estava quase acabando e ao menos eu iria poder bater um pratão de almoço…

– Seu Adauto? Chegou um moço com material aqui! – gritou a empregada, lá de baixo.

A essa altura do campeonato a Dona Patroa finalmente tinha conseguido se levantar e foi levar a criançada na escola. Suspeito fortemente que ela deva ter sido picada por uma mosca Tsé-Tsé. Aliás, era também o primeiro dia de aula do caçulinha. Lembrei-me de uma tira da Mafalda publicada há uns dias no blog do João David e desejei-lhe sorte.

Mas onde estávamos? Ah sim. O material.

Apenas quatro barras de ferro, sendo duas de 3/8″ e duas de 3/16″, um rolinho de arame recozido e uma caixinha d’água de 100 litros. Ah, e também DUZENTOS E ONZE BLOCOS. Daqueles de dez.

– Cumassim na calçada? É só dar mais dois passos e colocar na garagem! Que patrão não deixa o quê! Quebra o galho, vai? E se eu ajudar? Ah, aí pode? Tãotáintão…

E toca o jamanta a descer os blocos da merda do caminhão.

Voltemos à fórmula. Lembre-se: você não comeu seu pãozinho de café da manhã e ainda não almoçou. E já são duas da tarde, com um sol de rachar côco. E você tem DUZENTOS E ONZE blocos na garagem, bem na vaga onde a Dona Patroa guarda o carro. Isso não vai prestar. É melhor levar tudo lá pra cima. Afinal são apenas dois lances (íngremes) de escada e mais uma pequena caminhada até o quintal – tendo que dar uma volta pela casa, pois a empregada havia acabado de limpar com esmero o caminho direto.

A dois blocos por viagem, teremos, deixe-me ver, CENTO E SEIS viagens. É como sempre digo: “a caminhada de mil léguas começa no primeiro passo”. Mãos à obra. O “legal” é que, com dois blocos por vez, assim que você os levanta eles devem pesar cerca de dois a três quilos cada. Ao final da viagem, após escadaria, sol e caminhada, tenho certeza de que pesavam uns quinze quilos cada…

Cinquenta e seis viagens depois, e com uma sensação de ter subido e descido umas cinco vezes – correndo – a escadaria da Penha, resolvi dar uma parada pra descansar. Um pouco antes disso a Dona Patroa chegou, com uma cara de muxoxo. Já estava melhor, mas ainda cansada (Tsé-Tsé, sem dúvida). O pequenino tinha ficado na escolinha numa boa. Tudo bem que ele tem apenas três anos, mas, nos dias de hoje, onde foi parar aquele saudável pânico de primeiro dia de aula?

Vamos lá. Mais cinquenta viagens. Apesar de tudo ainda é melhor não comer nada, pois você está fazendo força, pode até fazer mal. E faltam apenas CEM blocos. Mal começou a carregá-los novamente, você, que NUNCA teve cãibra em nenhum momento da vida, sente o músculo da coxa dar uma violenta repuxada.

– Putaqueopariu!

Pára. Descansa mais um pouco. E volta à tarefa. Mais lentamente, agora. Os últimos dois blocos foram transportados aproximadamente às seis da tarde. Foram cerca de cinco horas de esforço contínuo. Sua mente tem uma vaga noção de estar ligada a um monte de andrajos que um dia já foi chamado de “corpo”.

Após um belo banho de quase uma hora você tem a certeza absoluta de que emagreceu. Uns dois ou três quilos. Não é necessário nem pesar. Se não foi pela fome, foi pelo esforço, ou, em último caso, pela desidratação. O conjunto dos três, então, nem se fala.

Tudo o que você mais deseja na vida agora é descansar, afinal você está cansado demais até mesmo pra comer.

O pior?

Você está tão, mas tão, mas tão cansado que não consegue dormir…