Bibliografia – Crtrl-C 04

( Publicado originalmente no e-zine CTRL-C nº 04, de fevereiro/2003 )

Assim como a maioria dos mortais, eu também não sou de ficar anotando de onde vem a maior parte do que leio – até porque sou um leitor onívoro, basta ter algo que me interesse e não importa a fonte. E, também, assim como todos que resolvem se aventurar nessa difícil arte de escrever, tenho zilhões de informações rigorosamente catalogadas e arquivadas em algum lugar obscuro de meu disco rígido ou numa pasta de recortes ou numa pasta suspensa ou grafada em destaque nos livros ou anotada em guardanapos ou … enfim, tem coisa paca. Desse modo, dentro do possível, identifico as fontes das matérias desse número, dentro do impossível, sinto muito.

E-zine Barata Elétrica. n. 26, fev.2002. http://www.inf.ufsc.br/barata

GAIMAN, Neil. Fim do Mundo. Sandman. Editora Globo. ed. 54. abr. 1996.

MARINHO, João. O erro que deu certo. Geek. São Paulo, Digerati Editorial. ed. 23, ago. 2002. p. 20.

MARTINS, Maurício. É agora ou nunca. Geek. São Paulo, Digerati Editorial. ed. 29, fev. 2003. p. 42.

* As (poucas) imagens em ASCII utilizadas foram descaradamente copiadas de algumas assinaturas de integrantes da lista de discussão linux-br (http://listas.conectiva.com.br/listas/linux-br).

E lembrem-se: A INFORMAÇÃO TEM DE SER LIVRE !

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Humor

( Publicado originalmente no e-zine CTRL-C nº 04, de fevereiro/2003 )

Aqui temos um pequeno espaço para piadas – é lógico que, como todo bom brasileiro, temos sempre que estar tirando um sarro de alguma coisa, certo? Não tenho a intenção de ofender ninguém e normalmente as piadas que rolarão por aqui serão a respeito de informática e/ou advogados, mas nada impede o surgimento de outras anedotas de outros gêneros. Se você é do tipo que se ofende com piadas assim, faça-me um favor: NÃO LEIA.

Particularmente eu acho que encontramos o equilíbrio quando temos estado de espírito o suficiente para rir de nossa própria profissão ou situação, já que o anedotário popular simplesmente reflete os mais íntimos sentimentos arraigados no povo, que expressa suas convicções e anseios através do (bom) humor. E se você não acreditar nisso, bem, então já temos base para a primeira piada… 😉

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Quando você vê o Ônibus Espacial em sua base de lançamento, sempre há dois foguetes propulsores auxiliares presos a ele perto dos tanques de combustível, chamados de SRB (Solid Rocket Booster).

Os SRBs são feitos pela Thiokol numa fábrica em Utah. Os engenheiros que os projetaram queriam fazê-los um pouco mais “gordos”, mas eles deviam ser enviados de trem até o Cabo Canaveral, sua base de lançamento.

Como existem túneis no caminho, e estes túneis foram construidos para comportarem um trem, os tais engenheiros tiveram que se contentar em respeitar os limites da bitola padrão (distância entre os trilhos) das estradas de ferro.

E a bitola padrão das estradas de ferro americanas é de 4 pés e 8 1/2 polegadas. É um número bem esquisito. E por que esta bitola é usada?

Porque é esta a bitola usada na Inglaterra, e as ferrovias americanas foram construídas por ingleses. Mas por que os ingleses usam esta bitola?

Porque as primeiras linhas foram construidas pelos engenheiros que construiram os primeiros bondes, e foi essa a bitola usada. Mas então por que era essa a bitola?

Porque o pessoal que construiu os bondes usavam os gabaritos e ferramentas para fazer as diligências, que usavam esta bitola. Tá! Mas porque as diligências usavam esta bitola?

Porque se usassem qualquer outra bitola as rodas quebrariam nos sulcos das estradas inglesas, que têm seus sulcos muito uniformemente cavados. Mas por que as estradas inglesas têm sulcos tão uniformes?

Porque as estradas inglesas, como a maioria das velhas estradas européias, foram construídas pelos romanos para a movimentação de suas tropas. E as carroças e as bigas usavam a mesma bitola para não quebrarem nos sulcos das estradas.

Então chegamos à resposta da pergunta original. A bitola padrão das ferrovias americanas é de 4 pés e 8 1/2 polegadas porque deriva das especificações originais das carroças militares do exército romano, que foram determinadas para que pudessem permitir a passagem de duas bundas de cavalo lado a lado.

Portanto, o desenvolvimento de um dos maiores projetos de transporte da humanidade foi originalmente determinado pela largura de duas bundas de cavalo romanos.

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Um interessante incidente processual ocorreu em 1995 nos autos de um processo que tramitou na Justiça Federal do Rio de Janeiro:

“Exmo. Sr. Dr. Juiz da 17ª Vara Federal:

O Ministério Público Federal sugere seja desentranhada a barata mumificada às fls. 02, em homenagem à boa higiene dos cartórios da Comarca ou a substituição de tal pena.”

Daí, o Juiz respondeu, na página seguinte:

“Não creio que a barata tenha sido mumificada, como afirma o culto Membro do MPF, pois a Justiça Federal não tem meios nem recursos para submeter tais insetos, ou mesmo os camundongos que por aqui pontificam, a tratamento próprio para sua conservação, até porque esta prática, para conservação, supunha a crença na passagem do morto para uma vida eterna, o que não creio que ocorra com baratas. Acolho a promoção do Parquet Federal e determino o desentranhamento do inseto e sua destruição… Rio, 27/10/95.”

(Fonte: Sônia França)

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Um jovem executivo estava saindo do escritório quando ele vê o presidente da empresa com um documento na mão em frente a máquina de “picotar” papéis.

– Por favor, diz o presidente, isto é muito importante pra mim, e minha secretária já saiu. Você sabe como funciona esta máquina?

– Lógico, responde o jovem executivo! Imediatamente tira o papel das mãos do presidente, liga a máquina, enfia o documento e aperta um botão.

– Excelente meu rapaz!!! Muito obrigado… Eu preciso só de uma cópia, onde sai ?

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Se mexer, pertence à Biologia.

Se feder, pertence à Química

Se não funcionar, pertence à Física.

Se ninguém entende, é Matemática.

Se não faz sentido, é Economia ou Psicologia.

Se mexe, fede, não funciona, ninguém entende, não faz sentido, é Informática…

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A Lei de Murphy – qual sua origem, afinal?

( Publicado originalmente no e-zine CTRL-C nº 04, de fevereiro/2003 )

Acho que todos conhecem a malfadada “Lei de Murphy”. É aquela que tem como premissa básica que “Tudo o que puder dar errado, dará”. Vários livros foram editados sobre o assunto, estendendo suas definições para as mais variadas áreas de atuação.

Temos, por exemplo, a clássica situação das filas: se você estiver numa fila, a do lado certamente estará andando mais rápido; mas caso resolva mudar de fila, aquela em que você entrou certamente passará a andar devagar, enquanto que a anterior começará a fluir. É a manifestação da Lei: “A fila do lado sempre anda mais rápido”. A Lei de Murphy, na minha opinião é tão complexa que se você tentar tirar benefício dela, dará com os burros n’água. No exemplo citado, caso você resolva ficar na mesma fila aguardando a aplicação tácita da Lei de Murphy, com certeza ela não ocorrerá, de modo que sua fila não sairá do lugar…

E em informática então? Basta não salvar o arquivo em que está trabalhando para aumentar as chances de ocorrer um travamento. Como dita a Lei: “A possibilidade de algo sair errado é diretamente proporcional ao tamanho do prejuízo”.

É a verdadeira Teoria do Caos materializada!

Mas, afinal de contas, de onde surgiu tudo isso? Existiu mesmo um tal de Murphy que deu início a esse conceito? A resposta é SIM!

O nome correto é Edward A. Murphy Jr, engenheiro, nascido em 1917, sendo que no final dos anos 40 trabalhava como pesquisador e chefe de desenvolvimento em Wright-Patterson, base da Força Aérea localizada em Dayton, Ohio, Estados Unidos.

Nessa época desenvolvia um projeto – o USAF MX-981 – cujo intuito era testar os limites da tolerância humana às forças de aceleração. Um dos vários experimentos envolvia a montagem de 16 medidores de aceleração a serem instalados em diferentes partes do corpo da cobaia, quer dizer, do voluntário. Esses medidores somente poderiam ser montados de duas maneiras (sim, sim, a certa e a errada). É mais que óbvio que alguém conseguiu o prodígio de instalar todos os 16 medidores exatamente da maneira errada, inviabilizando o experimento.

Foi face a essa experiência desastrosa que Murphy fez a seguinte alegação: “Se há duas ou mais formas de se fazer algo, e uma delas pode resultar em uma catástrofe, então, alguém a fará”. Dias depois, a cobaia, digo, o voluntário que se submeteu ao teste, major John Paul Stapp, numa conferência de jornalistas parafraseou o conceito, com suas próprias palavras.

Estava feito o estrago. Dentro de alguns meses a frase, cada vez mais adaptada, havia se propagado para várias áreas técnicas ligadas à engenharia espacial, chegando mesmo a entrar para o dicionário Webster, em 1958. A sua forma atual foi consagrada pelo escritor Larry Niven, em sua obra de ficção científica “Lei das Dinâmicas Negativas de Finagle”, onde cunhou o enunciado “Tudo o que puder dar errado, dará”.

Existem muitas variações desse enunciado, sendo que um dos meus prediletos é que “se uma série de coisas puder dar errado, dará na pior sequência possível”.

E, por fim, o corolário que dita que “se algo que tinha tudo pra dar errado, no final deu certo, é porque na verdade deu tudo errado”

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Software Livre e Linux: a grande diferença

( Publicado originalmente no e-zine CTRL-C nº 04, de fevereiro/2003 )

Derneval R. R. Cunha

(O autor esteve em Porto Alegre e assistiu a uma conferência sobre Software Livre, com o Richard Stallman, tendo feito uma tradução consecutiva da palestra, a qual serviu de base para o texto a seguir, juntamente com algum material retirado da Free Software Foundation.)

Para entender essa diferença, o melhor é primeiro pensarmos em termos de COZINHA. É, receita de bolo mesmo. Não as “receitas de bolo” que são os passos para se fazer isso ou aquilo, mas sim uma receita para se fazer doces, seja num fogão ou num forno de microondas. Se você não sabe do que estou falando, pergunte para alguém que realmente faz comida de verdade (comida pré-fabricada não serve). Bom, receita de bolo é a melhor coisa.

A não ser que estejamos falando daquelas receitas onde se adiciona leite e pronto, voilá, a culinária existe e para mim pelo menos consiste na arte de cozinhar (que não tem muito a ver com informática, per si). Então o que é uma receita? É um conjunto de ingredientes, tipo farinha, açúcar, etc, que se mistura de determinada forma, mexe, coloca-se no forno e depois serve para alguma vítima experimentar e falar se está bom. Algumas pessoas fazem ótimos doces e bolos a partir de alguma receita que pegou na internet ou nos jornais. E qual o barato dessa receita? A pessoa pode passar adiante. Se eu faço, mudo alguns ingredientes da receita, posso fazer um bolo diferente. Se meus amigos sobreviverem e gostarem do bolo, posso escrever num papel e passar a receita para eles. Que poderão repetir em casa o que fiz. Sem nenhum problema.

O mesmo não acontece na informática. Se eu configuro meu Windows ou Word para Windows em casa, de um forma X, com um visual super legal, não posso legalmente copiar esse software que modifiquei para meus amigos, presumindo-se que eu tenha pago por ele (claro, imagina se vou fazer pirataria). Tudo bem que a instalação do Windows no meu computador ficou ótima: não posso copiá-la para meu vizinho (mesmo se conhecesse). Tudo bem que meu Windows está totalmente protegido contra invasões. Não posso fazer um CD com ele e distribuir para que meus amigos fiquem protegidos (claro, posso ir na casa deles e colocar as mesmas proteções, talvez até cobrar pelo serviço, mas copiar para o micro deles, LEGALMENTE, não posso).

Então, o que é que está pegando? Com a culinária, sou livre para trocar ou alterar receitas de bolo ou qualquer outra comida. Com a informática, não. Se faço com a informática aquilo que faço com receitas de bolo (não confundir com “receita de bolo” da informática) ou de qualquer comida, posso ser processado por violação de direitos autorais. Ninguém precisa pagar um tostão pela fórmula de se fazer arroz com feijão. Cada pessoa faz comida das mais variadas maneiras, ganha dinheiro como cozinheiro ou não e precisa prestar contas a uma Microsoft da vida? Não.

Pensando nisso é que se iniciaram os trabalhos da Free Software Foundation. O “Free” aí no caso, não significa grátis (apenas). Significa “Livre”, como na palavra liberdade. Qual liberdade?

“A liberdade de executar o programa, para qualquer propósito (liberdade nr. 0)”

“A liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade nr. 1). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade”.

“A liberdade de redistribuir cópias de modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade nr. 2)”.

“A liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se beneficie (liberdade nr. 3). Acesso ao código-fonte é um pré-requisito para esta liberdade”.

(obs: tudo acima está disponível no URL http://www.gnu.org/philosophy/free-sw.pt.html)

O que pesa nisso tudo é que todo e qualquer programa de informática se baseia num ambiente operacional. Quer dizer, não adianta programar em C, Pascal ou Ada. Ainda assim, o programa terá que rodar num sistema operacional. O primeiro passo consiste em projetar um sistema operacional que tenha as características acima. O sistema operacional é a base para outros programas GNU. Qualquer programa desenvolvido terá que ter o código fonte disponível para as pessoas que irão utilizá-lo. Essas pessoas poderão alterar, implementar ou simplesmente usar os programas, como lhes der na telha. Poderão até mesmo comercializar, desde que o código fonte vá junto.

O que que isso tem a ver com o Linux? Bom, Linus Torvalds começou seu projeto de Linux com um pensamento vagamente semelhante, mas a idéia era de que seria algo divertido de se fazer. Difere portanto como opção política. Ao usar GNU, está se dizendo NÃO à Microsoft. É uma opção política de se recusar a entrar no jogo de pagar pelo uso de um software sem quebrar a lei. Já no Linux, tem uma questão de Ego e também de fazer um software para se aprender mais sobre informática. Não há uma questão de não pagamento de royalties e sim de como construir algo que funcione. Não entendeu?

Bom, vejamos de outra forma (minha idéia, não o que foi explicado na palestra): todo mundo usa computadores para fazer serviço sério, em qualquer lugar. Quando se monta uma empresa, precisa-se de software legalizado. E software como o da Microsoft cedo ou tarde necessita de atualização. Não se pode “remendar” um programa velho para continuar funcionando no micro novo. Consequência: Muita gente usa software pirata por achar que nunca sofrerá consequências disso. Convive-se com a idéia de burlar a lei. Mas o que acontece? A pessoa acaba pagando pelo software, cedo ou tarde. Basta precisar legalizar aquilo que faz com o software.

O pessoal que fundou ou ajudou no que seria o GNU estava interessado nesse detalhe: poder usar um software sem se preocupar com os direitos autorais ou a legalização de qualquer espécie. O pessoal que ajudou a construir o Linux estava preocupado com algo mais ou menos parecido como ajudar só para poder dizer “ó, meu nome está lá, eu também fiz isso, é obra minha”. Ou por diversão. Não estou criticando, só demonstrando, eu também gostaria de ser um dos responsáveis pelo Linux, um dia me inscrevo num dos dois grupos.

Bom, como foi a junção? O pessoal do GNU já tinha feito parte do trabalho (um sistema operacional semelhante ao UNIX não é brincadeira de se fazer). O pessoal do Linux já havia feito outro. Mas o Linux foi distribuído a torto e a direito sem se explicitamente divulgar que o chamado Linux era “GNU + Linux”. O que deixa o pessoal da Free Software Foundation meio pê da vida, mas que também não pode reclamar muito, já que está previsto que o “software livre GNU” pode ser distribuído sem essa preocupação de ficar dando nome aos bois. Dura lex, sed lex (Dura lei, mas é a lei). Então, só falar Linux não está errado, mas sem o GNU, talvez o Linux ainda não estivesse pronto, talvez não existisse.

É isso o que entendi da palestra, que foi curta. Os mais interessados, podem acessar a página abaixo, que tem inclusive tradução para o português:

GNU não é UNIX: O projeto GNU e a Fundação do Software Livre: http://www.gnu.org/home.pt.html

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É agora ou nunca!

( Publicado originalmente no e-zine CTRL-C nº 04, de fevereiro/2003 )

Novo governo quer promover o Software Livre em todo o Brasil. Será que conseguem resistir ao lobby das grandes empresas?

Maurício Martins

Levantai-vos ó geeks, pois podemos estar às vésperas de uma verdadeira revolução. O Brasil está prestes a se tornar o novo bastião de resistência do Software Livre na América Latina. Tudo porque o PT está no poder, e pretende levar para Brasília uma das suas principais bandeiras em governos estaduais e municipais pelo Brasil: a adoção de programas não-proprietários em órgãos governamentais.

O assunto é muito mais importante do que se imagina. Se quiser, o governo federal alavanca de vez o uso do Software Livre no Brasil e pode, com isso, diminuir drasticamente os lucros da Microsoft neste que é um dos maiores mercados de computação do mundo. Não é à toa que a primeira coisa que Mr. Bill Gates fez, depois de saber o resultado das eleições, foi tentar desesperadamente um encontro com Mr. da Silva. Não conseguiu.

As primeiras declarações do novíssimo secretário de Logística e Tecnologia da Informação, Rogério Santanna dos Santos, dão mostras de que o PT não pretende recuar agora. Ele disse que o governo deve diminuir a dependência que o Poder Executivo tem em relação a grandes fornecedores, reduzindo os gastos com tecnologia. Para alcançar o objetivo, segundo o secretário, a SLTI deverá implementar alternativas que incluem uma política mais agressiva que contemple o Software Livre.

Mas, sejamos justos. Não é só o PT que luta por isso no Brasil. Há setores de outros partidos, como o PMDB do Paraná, que também vem apostando no Software Livre, como bem apontou Rodrigo Stulzer, da Conectiva.

Falamos com o secretário, com o novo diretor do Instituto de Tecnologia da Informação e com representantes de grandes empresas interessadas no assunto para tentar prever como será essa briga de gigantes, que promete se desenrolar nos próximos anos.

Afinando o discurso

Como o PT é um partido que acaba de chegar pela primeira vez à presidência, ainda não existe um discurso afinado sobre como será encaminhado o assunto em Brasília. Em fevereiro, Sérgio Amadeu, atual coordenador do Governo Eletrônico em São Paulo, deve assumir o Instituto de Tecnologia da Informação, responsável direto pela questão do certificado digital, uma polêmica abordada nas últimas edições da Geek. Mas, com certeza, ele terá papel importante nas decisões tomadas com relação ao uso de Software Livre pelo governo. Para ele, o software proprietário deve ser totalmente descartado pelo Estado:

“É um absurdo pagar licenças para utilizar editores de textos e planilhas de cálculos. Existem pacotes não-proprietários estáveis e em constante aprimoramento que são desenvolvidos pela comunidade GNU/Linux.”

Mas não é essa a opinião do secretário de TI, Rogério Santanna, que é quem terá a palavra final nesta área. Ele é enfático ao defender a coexistência de softwares proprietários e open source no governo:

“Não há como simplesmente estabelecer uma nova regra e converter todos os sistemas para uma única solução, para que utilizem apenas um tipo de software. Isso seria absurdo, pois custaria uma fortuna e seria extremamente complicado.”

Com isso, ele está mais próximo da ideologia open source, criada por Bruce Perens, do que do Software Livre de Richard Stallman.

Ao analisar a atuação de FHC na área, os dois são bastante críticos, especialmente Amadeu:

“O governo FHC foi muito tímido na adoção do Software Livre. No final, fizeram totens que custavam R$21 mil a unidade, apenas para acessar a Internet. Por que não usaram o GNU/Linux e navegadores como o Mozilla, Galeon ou Netscape? Por que cada estação custou esta fortuna?”

Santanna concorda, mas aponta alguns avanços nas compras eletrônicas, na arrecadação de impostos e no próprio Sistema de Pagamentos Brasileiro, o SPB. Segundo ele, essas iniciativas tiveram reconhecimento internacional. “Deixou a desejar no que diz respeito à universalização do acesso e integração de sistemas”, diz ele.

“O Windows vai continuar sendo usado pelo governo brasileiro. Mas a adoção de soluções baseadas em código fechado, proprietário, evidentemente fragilizam sistemas de informação que requerem elevado nível de segurança. Qualquer projeto sério de segurança e privacidade deve levar isso em consideração”, diz Santanna. Ele aposta nas soluções de criptografia para proteger os dados sigilosos do governo.

A conclusão a que se chega é a seguinte. Apesar de defender com força o uso exclusivo do Software Livre nos Estados e municípios que governa, o PT chega a Brasília com um discurso mais amistoso. Vai tentar conciliar os dois modelos, sem abrir mão de, com os Telecentros, democratizar o acesso à informática e a programas originais no Brasil. Nós ficamos aqui torcendo. Nunca estivemos tão perto de ver o monopólio ruir.

A lição de São Paulo

Ricardo Bimbo é o Coordenador Técnico do Governo Eletrônico do Município de São Paulo. Conversamos com ele para saber como está sendo a experiência do uso de programas open source na maior cidade da América do Sul. O que ouvimos foi surpreendente. Segundo ele, em março deveremos ter um total de 100 Telecentros por toda a cidade, cada um deles capaz de atender até 3 mil pessoas. Isso dá um universo de 300 mil pessoas, ao mesmo tempo, utilizando computador com a distribuição Debian GNU/Linux, com Internet, e programas livres, totalmente de graça.

O resultado pode-se prever facilmente: uma população mais próxima da alta tecnologia que se desenvolve no mundo, menos vítima da divisão digital que ameaça isolar ainda mais o Terceiro Mundo, e uma economia monstruosa para o Estado, que passa a conseguir muito, por muito pouco.

“Todos os Telecentros estão em áreas carentes, da perifieria ou do centro. Por enquanto, são apenas 19 (atendendo 69 mil pessoas), mas a grande revolução deve vir em breve”, diz Bimbo. Até agora, 23 mil pessoas fizeram os cursos ministrados pelos Telecentros. São 23 mil novos linuxers.

Perguntamos sobre o problema do treinamento e da dificuldade em se iniciar em Linux. Ele respondeu que, para quem começa a mexer no computador, não há muita diferença entre abrir um Windows ou aprender noções básicas do sistema livre.

“Temos uma boa estrutura para trabalhar. Mostramos ao usuário como usar a interface gráfica do sistema, e isso é suficiente para o usuário comum. Temos dez instrutores avançados que são responsáveis por treinar os demais instrutores (aqueles que vão atender as pessoas nos Telecentros). Em março, eles já serão 300”. Sobre o custo de cada Telecentro, ele diz: “Uma unidade custa apenas R$80 mil, com seus 3 mil computadores. Com certeza, uma opção muito melhor do que os totens do FHC, que custavam R$21 mil a unidade, com apenas um computador”.

Custos de treinamento

Um dos principais argumentos da Microsoft contra o Software Livre é o de que ele acaba sendo mais caro, devido ao aumento nos custos de treinamento. Claro que isso se deve ao fato de que as pessoas estão acostumadas a usar apenas os programas da empresa monopolista.

Rogério Santanna explica que os custos de treinamento são responsáveis por um terço dos gastos na implementação de um software. Os outros dois terços são referentes a licenças (mais um terço) e hardware (o terço restante). Então, elimina-se o fator licenças com um pequeno aumento no item treinamento. Ele diz que, vendo dessa forma, a tendência é o Software Livre representar menos gastos, especialmente a médio e longo prazo.

E quanto ao lobby das grandes empresas, como a Microsoft, será que o governo terá força contra ele? Os dois são unânimes em dizer que tais pressões são normais numa democracia e que cabe ao governo se manter fiel ao interesse público. Assim esperamos.

Quisemos saber também de nossos novos dirigentes o que eles têm a dizer sobre os problemas de segurança e de ameaça à soberania nacional causados pelo Windows e seu código fechado. A resposta mostra que o governo não quer se ver longe da Microsoft, mas que pretende limitar muito mais sua participação nos sistemas do governo.

O que diz a Microsoft

Para ninguém dizer que a Geek só vê um lado da questão, fomos atrás da única empresa do mundo que vê o Software Livre como um câncer, como costumam dizer os seus executivos. E, talvez pelo fato de tal opinião ser difícil de ser defendida, não obtivemos resposta até o fechamento desta edição. Os leitores tirem suas próprias conclusões.

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Ctrl-C nº 04

( Publicado originalmente no e-zine CTRL-C nº 04, de fevereiro/2003 )

* NOTA: Essa foi a abertura de uma das edições de um e-zine que escrevi, de nome Ctrl-C, a qual transcrevo aqui no blog para viabilizar futuras buscas por artigos.

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   #######     ##### ####     ####         #######  Ctrl-C 04
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 Qualquer lei será tão obtusa quanto o for seu intérprete...
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Buenas.

Desde a última vez que escrevi no Ctrl-C muita coisa aconteceu…

Dentre as grandes mudanças de minha vida, em primeiro lugar, temos o nascimento de meu segundo filho, Erik (que já está com mais de um ano de vida, andando e querendo começar a falar). E, também, apesar de sempre ter sido um “infomaníaco” declarado, hoje estou trabalhando na Prefeitura de Jacareí, na área de licitações, contratos e convênios, matéria fascinante e sobre a qual ainda falarei algo por aqui. Por fim, descobri uma nova paixão, na forma de (mais) um hobbie que venho desenvolvendo: a genealogia.

Na realidade o número dessa edição não deveria ser “quatro”, mas sim “três e meio”, pois não tive o tempo necessário para me aprofundar nos temas, como usualmente eu faço. Na prática, estou escrevendo-o para enfrentar uma noite de insônia, bem como dar um suspiro de alento ao pobre do Ctrl-C…

Justamente pela falta de tempo em função de minhas novas atividades fui obrigado a abandonar o domínio básico “www.habeasdata.com.br”, que estava totalmente sem manutenção, mas com custo mensal contínuo. Optei por um dos gratuitos, no caso o Kit.Net. Até que se prove o contrário, bem bãozinho.

No mais vamos levando, tentando me manter informado do que rola no mundo informático, até para manter a mão treinada, e com sincera e profunda ESPERANÇA (nada a ver com a novela que acabou) no nosso novo governo, desejando que o Lula, ops, quer dizer, que o Excelentíssimo Senhor Presidente Lula faça uma boa administração.

Certa vez li num gibi (será que ainda existe alguém que usa esse termo?), que tratava da eleição de um novo presidente – fictício – nos Estados Unidos dos anos sessenta, a seguinte frase: “O fato de Prez ser um BOM presidente surpreendeu a muitos, mas ser ÓTIMO surpreendeu a todos”.

E é isso que eu espero de Lula: que ele surpreenda a todos.

 [ ]s!                  ________________         _
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 Adauto                           .--`--'../
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                             INFORMATION MUST BE FREE !

 
ADVERTÊNCIA:

O material aqui armazenado tem caráter exclusivamente educativo. Como já afirmei, minha intenção é apenas compartilhar conhecimentos de modo a informar e prevenir. Não compactuo nem me responsabilizo pelo uso ilegal ou indevido de qualquer informação aqui incluída. Se você tem acesso à Internet e está lendo estas linhas significa que já é grandinho o suficiente para saber que a utilização deste material visando infringir a lei será de sua própria, plena e única responsabilidade.

Você pode, inclusive com minha benção, reproduzir total ou parcialmente qualquer trecho deste e-zine. A informação tem de ser livre. Mas não se esqueça de citar, também, quem é o autor da matéria, pois ninguém aqui está a fim de abrir mão dos direitos autorais.

NESTE NÚMERO:

I. É agora ou nunca! – Novo governo quer promover o Software Livre em todo o Brasil. Será que conseguem resistir ao lobby das grandes empresas? (Maurício Martins)
II. Software Livre e Linux: a grande diferença (Derneval R. R. Cunha)
III. A Lei de Murphy – qual sua origem, afinal?
IV. Humor
V. Bibliografia

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